Termo 'mãe cansada' lidera buscas no Google
Pesquisas são reflexo da pandemia que vivemos e da exaustão materna
O termo “mãe cansada” lidera as buscas no Google em 12 meses, segundo informações da plataforma. A procura por reportagens, textos e demais dados que tenham a palavra como mote está ligada a cansaço mental e psicológico, mas, principalmente, à maternidade.
Embora desde 2015 o termo “cansada”, no feminino, seja muito mais buscada do que “cansado” (para homens), em um reflexo do que é a situação feminina na sociedade, a procura explodiu de 2020 para cá, quando começou a pandemia mundial de coronavírus.
Segundo o Google, o ápice foi atingido em março deste ano, mês em que se celebra o Dia Internacional da Mulher. Dentre os elementos de busca, a frase “o que dizer para uma mãe cansada” está entre as principais. O que significa que há muita gente tentando saber como conversar, abordar, consolar e, de certa forma, “abraçar” a mãe cansada.
Eu, como todas, não me sinto só cansada. Sinto-me exausta. Cansaço é a palavra que resume meu 2020. Exaustão toma conta de 2021. E isso não tem apenas a ver com o fato de ser mãe. Tem a ver, principalmente, com o fato de ser uma mulher que optou pela maternidade ativa e estar no Brasil em plena pandemia mundial.
É fato que o coronavírus pirou nossa situação no mundo, mas nada se compara ao que fizeram conosco em nosso país. A condição da mulher no mercado de trabalho —principalmente das mães— regrediu 30 anos, o que representa salários ainda menores do que o dos homens, horas a mais de trabalho doméstico na comparação com o trabalhador masculino que, ao estar no mercado, não assume a mesma quantidade de funções das mulheres em casa, e falta de vagas.
Sim, pior do que ser atropelada no mercado de trabalho é não ter emprego, renda nem perspectiva de futuro para si e para seus filhos. O cansaço materno também representa a falta de opção pela infância no Brasil. Estudos mostram que, em comparação com os demais países, os investimentos em infância caíram na pandemia, o que atinge diretamente as mães.
E isso não tem a ver apenas com o tempo de escolas fechadas. Tem a ver com uma opção clara de não priorizar a infância, condenando as mães à exaustão e à mais solidão na criação dos filhos, e comprometendo o futuro, em especial das crianças mais pobres.
O cansaço materno é uma realidade milenar, que não vai desaparecer apenas se todos os seres vivos resolverem nos priorizar e colaborar com nossa existência. Faz parte da maternidade sentir-se cansada em muitos momentos, pois há uma dedicação braçal e mental aos filhos, em maior ou menor grau, dependendo da fase da vida em que eles estão.
Amamentar cansa, cozinhar, organizar, assim como levar para a escola, ensinar a comer, a andar, a sentar, a falar, a dormir. Acolher um filho que sofre ao crescer também é tarefa exaustiva.
Mas nada se compara a ser mãe em uma pandemia. Nada se compara a ter dúvidas sobre se manda ou não para a escola e, ao mandar, correr o risco de adoecimento ou de fechamento da unidade por surto de Covid. Nada se compara a não saber com quem o filho ficará quando é preciso voltar ao trabalho, em plena pandemia, arriscando a própria vida.
E nada —absolutamente nada— vai ser mais cansativo do que deixar suas dores de lado para ser esteio de seres humanos em um momento de tantas incertezas.
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