Gravidez na adolescência acelera massacre da mulher na sociedade
Influenciadora de 17 anos está grávida do terceiro filho de seu ex-namorado, um cantor de funk
Aos 17 anos, eu decidi que seria mãe. Veja bem, decidi que teria um filho, mas não o tive. Passei uma década gestando minha primogênita Luiza, hoje com 14 anos, na cabeça e no coração.
Não tive um filho não por falta de incentivo. Sou descendente de nordestinos e, em nossa região, as meninas se casam e são mães ainda na adolescência. Uma de minhas primas teve filho aos 14 anos.
Não tive filhos por dois motivos: fui muito bem orientada por minha mãe e recebi informação de qualidade sobre sexualidade na escola.
Mamãe não tinha conhecimento formal sobre o assunto, já que não concluiu nem o ensino fundamental 1; o que ela tinha era experiência de vida.
Após dar à luz a mim, meu irmão e minha irmã, sabia ela que a maternidade não era algo fácil e não deveria ser exercida por meninas na mais tenra idade. Todos os conselhos vieram mesmo ela tendo ficado órfã de mãe aos três anos.
Na escola, as aulas sobre reprodução humana, sexualidade, história, geografia e matemática, embora fossem dadas separadamente, faziam todo sentido de forma conjunta na minha cabeça. Não era socialmente fácil colocar um filho no mundo aos 17 anos. A melhor forma era me prevenir. E assim segui.
Hoje, em pleno século 21, tenho visto nas redes sociais algo que me chocou demais. A celebração da terceira gravidez de uma menina de 17 anos. A jovem influencer está grávida do terceiro filho de seu ex-namorado, um cantor de funk carioca.
Parte da internet se indignou com a questão, o que fez com que o pai das crianças até chegasse a ameaçar quem lhe fazia críticas.
No entanto, um outro tanto de pessoas, incluindo jovens na mais tenra idade, pedia aos "comentaristas" que deixassem a jovem "em paz", afinal, o dinheiro para cuidar do filho não sairia do bolso de nenhuma das pessoas. E o pai era um homem bem-sucedido.
O pai também é um jovem de 20 anos. Em comum eles têm o fato de que são negros. Mas a gravidez na adolescência e a glamorização dela não é só entre pretos.
Gente branca, bem adinheirada, também incorre no deslize da celebração da gravidez precoce. E o argumento costuma ser sempre o mesmo: minha vida, minhas regras.
Sim, a decisão de ter um filho é pessoal e intransferível. Ela deve ser tomada apenas pelo casal que, em geral, no meio de sua solidão a dois, resolve produzir um herdeiro.
Mas, quando essa decisão é tomada e concretizada na adolescência, é preocupante. Preocupa porque filho é uma responsabilidade social enorme, e a comunidade, ou seja, toda a gente deste país deveria estar de olho nos rumos que a adolescência vem tomando.
É preciso entender que ter um filho aos 17 anos é uma das piores coisas que pode acontecer na vida de uma jovem mulher. Sim, na vida da mulher. Homens, em geral, não assumem 100% a divisão de tarefas de cuidar do rebento, seja esse homem jovem, velho, solteiro, casado ou ex, mesmo com boas intenções.
A gravidez-surpresa pode surgir? Sim, e a gente tem que acolher. Mas eu trato aqui mesmo é da orientação não só sexual, e do rumo da vida de nossas jovens.
As mulheres que são mães são massacradas diariamente pelo capitalismo patriarcal e selvagem. Precisamos adiar o quanto pudermos esse massacre.
Comentários
Ver todos os comentários