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Colo de Mãe

Quais as sequelas da pandemia na vida de nossos filhos?

De bebês a vestibulandos, a quarentena da Covid deixará marcas em toda uma geração

Sladic - Fotolia
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Minha adolescente fez 14 anos no início de 2021, com celebração limitada. Só ela, o primo, a irmã e nós. Agradeceu pela família estar viva e por termos conseguido passar uns dias em uma casa de praia, mesmo sem poder curtir o mar como ela tanto gosta.

No fim deste ano, deverá concluir o ensino fundamental 2 e rumar para o ensino médio, que terá grandes mudanças em 2022. Em janeiro do ano que vem, vai fazer 15 anos de vida. Olho para a minha jovenzinha e lembro que, no início da pandemia, ela ainda era uma criança. Um ano e meio depois, desabrochou.

A menina falante, saltitante e cheia de vida deu lugar a uma adolescente tímida, que só quer ficar na sua. Às vezes, tem medo de sair. Ou, se sai, fica apreensiva nos lugares, temendo o vírus.

A gente conversa, explica que estamos seguindo todas as medidas de segurança, mas acolhe a ansiedade e o medo. Se alguém estiver normal depois de um ano e meio de pandemia, com a vida completamente mudada, não entendeu o que está ocorrendo.

Já crianças, adolescentes e jovens de todos os cantos do mundo sabem bem das dificuldades e de quanto tudo isso deve deixar marcas.

Vejo os pequenos correndo em parques como se nada estivesse acontecendo e olho para os bebês que seguem o rumo de vida, engatinhando, sentando, chorando, com meu coração alegre, acreditando que eles não estão entendendo nada.

Mas os especialistas --e os jornalistas com suas maravilhosas reportagens-- me mostram que nada está normal nem para os mais novos, que sabem viver a vida como ninguém.

Bebês estão com dificuldades de fala e motora. Precisam da liberdade, dos rostos e das bocas mexendo para aprender. Crianças menores podem até sorrir nos parques de seus prédios e nas praças das cidades, mas também têm suas dificuldades de aprendizado.

A filha de uma amiga fez 15 anos e, agora, 16, na pandemia. O texto da mãe me emocionou ao lembrar que dois dos anos mais eletrizantes da passagem entre a infância e a juventude estão sendo trancados em casa.

Outra jovem, filha de um amigo querido, era uma menina quando a vi pela última vez. Neste ano, deve prestar vestibular. Está focada nos estudos, feliz que ganhou uma irmã caçula, mas tem o olhar dos jovens que gostariam de ver o mundo voltar ao normal o quanto antes e sabem que isso talvez não ocorra tão imediatamente.

A mãe de um aluno da escola de minha filha lembrou que eles vão se formar neste ano, e questionou se será possível celebrar de alguma forma. As famílias certamente celebrarão intimamente. A escola faz votos que tudo melhore para que possamos ter ao menos uma celebração simples, lembrando um marco de passagem na vida deles.

Mas, mesmo que tudo seja dentro dos protocolos, a insegurança, os medos e as dores vão nos marcar. Uma professora morreu. E os alunos não a esquecem.

E, para as mães, que sequelas vão ficar? É fato que o home office nos fez estar mais próximos de nossos pequenos, observar se precisam de óculos, como está a curvatura dos pés e cozinhar uma comida saudável e quentinha a qualquer hora do dia, mas o acúmulo de tarefas, a mistura de casa com escola e trabalho trouxe um esgotamento sem fim.

Olho para minha caçula, de nove anos, dois deles celebrados sem festa, e a vejo crescer em estatura e amadurecimento. Ela traduz as angústias que sinto: a primeira infância acabou no meio de uma pandemia, enquanto eu escrevia reportagens de economia e o Brasil afundava em Covid.

Como elaborar tudo isso lá na frente?

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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