Com escolas fechadas, a luz no fim do túnel fica longe para as mães
Pandemia do esgotamento
Um ano depois da confirmação do primeiro caso de coronavírus no Brasil e do registro da primeira morte, voltamos muito na escala de “evolução” da pandemia. Morrem cerca de 2.000 pessoas por dia e, com isso, São Paulo adentra em uma fase ainda mais restrita de convívio social.
A partir desta semana, as escolas fecham na capital paulista, como já fecharam em outros municípios —atitude totalmente necessária—, mas que deixa as mães longe de ter qualquer perspectiva de luz no fim do túnel.
Minha filha caçula foi para a escola por apenas uma semana desde março de 2020. No início, eu temi pela sua vida. Depois, temi pelo isolamento prolongado da pequena. Agora, volto a temer pela vida dela, de professores e demais seres humanos.
O jeito é ficar em casa mesmo. E voltar a fazer tudo de novo: ser auxiliar da professora, encontrar formas de atrair a atenção da criança para que não disperse nas quatro horas contínuas que fica em frente ao computador para estudar.
A situação fica ainda pior quando a mãe é autônoma e precisa estar na rua, trabalhando. Com quem deixar as crianças? Contrata uma pessoa, que corre risco de contaminar-se e contaminar outros indo e vindo no transporte público ou abre mão de fazer seu trabalho fora? Há atividades que não pararam por ser essenciais. E há mães em todas elas.
A pandemia do coronavírus é a pandemia das telas em excesso para as crianças, da depressão solitária para os solteiros, das crises de ansiedade para os jovens e das dificuldades no relacionamento de casais.
Para as mães, é a pandemia do esgotamento, do desemprego e do cansaço físico e mental. Com a gravidade da crise, a luz no fim do túnel fica ainda mais longe.
A fase restrita na capital paulista vai ao menos até o dia 30 de março, mas já se sabe que, mesmo quando entrarmos na fase amarela, o funcionamento das escolas poderá ficar comprometido.
Além disso, ainda que estejamos com tudo aberto, não há como permitir que o filho leve uma vida livre, com atividades extras, encontros com amiguinhos e viagens enquanto morrem 2.000 pessoas por dia.
É preciso uma revolução materna para que a situação se altere no futuro. E essa mudança é possível. Não devemos esquecer que, na sociedade, jogam nas nossas costas a total responsabilidade pelos filhos.
Está em nossas mãos mudar a forma como cada um age —sejam meninas ou meninos. Lembro-me de Michelle Obama. Ela fazia as filhas arrumarem a própria cama na Casa Branca, mesmo com um séquito de empregados.
Por quê? Porque quando se está em família ou na sociedade, cuidar de si é cuidar do outro.
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