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Colo de Mãe
Descrição de chapéu Agora

A maternidade piora as condições das mulheres; não vamos nos dobrar

Ser mãe é lição sobre ser forte

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Agora

Você nasce mulher. E precisa ser forte. Você precisa ser forte para ajudar a família com os afazeres domésticos caso não nasça na casta dos privilegiados —ou mesmo na classe média. Você precisa ser forte para seguir estudando quando as tarefas do lar te tiram oportunidades de lazer, educação e descanso.

Você precisa ser forte porque é mulher, pobre e periférica. Precisa ser ainda mais forte porque fazer parte do “sexo frágil” e mostrar força te faz ainda mais solitária, sem amigos e sem amores. Você precisa ser forte para perder pessoas que ama, porque na classe social de onde você vem, os bons morrem jovens. Então você cresce forte, e engravida. E precisa ser ainda mais forte ao estar grávida.

Depois, tem que ser forte para amamentar, cuidar da cria sozinha e seguir trabalhando. Precisa demonstrar toda a sua fortaleza ao gestar e parir a segunda filha, pois agora você tem duas menininhas que dependem de você, de seu trabalho, dedicação, renda e de sua capacidade de ser forte.

E, quando você imagina que utilizou toda a força interna, vem uma pandemia mundial e te recoloca no lugar onde a sociedade acredita que você deva estar: cuidando ainda mais da casa e das filhas, sendo a auxiliar da aula online e, nas horas vagas, a professora do ensino presencial que não existe. Enquanto isso, todos descansam, incluindo os pais.

As mulheres ganham menos e trabalham, por semana, 10 horas a mais do que os homens nos afazeres domésticos, segundo dados de 2019 divulgados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) na quinta-feira (4), por conta do Dia Internacional da Mulher, celebrado nesta segunda (8).

Os números não são animadores. Se você for negra e tiver filhos pequenos (até 3 anos), entra em uma triste estatística: apenas 49,7% das mulheres nesta condição estão no mercado de trabalho contra 62,6% das brancas.

Eu posso buscar aqui diversos dados para mostrar que ser mulher nunca foi fácil desde os tempos primórdios. E ser mãe piora toda a situação. Pode consumir sua saúde mental até o limite e, mesmo assim, ninguém vai lhe estender a mão. Por isso você precisa ser ainda mais forte.

E, se você é mãe de meninas que estão aprendendo a olhar o mundo com os olhos mais inocentes e curiosos que possam existir, é preciso construir nova fortaleza, encarar de frente os problemas, ir à luta, marcar presença, exigir respeito e brigar por igualdade. De gênero, de renda, de trabalho e de vida.

Uma mulher, quando tem filhos, é chamada a decidir por ela e pelo outro, precisa se desdobrar, mas não deve se dobrar. Sei que muitas de nós estão cansadas.

Cansadas do dia a dia, das dificuldades, da pandemia, das responsabilidades e das estatísticas, mas, se olharmos lá no fundo, mesmo cansadas, estamos sendo fortes ao viver a maternidade e, aos poucos, mudar a sociedade.

Colo de Mãe

Cristiane Gercina, 42, é mãe de Luiza, 15, e Laura, 9. É apaixonada pelas filhas e por literatura. Graduada e pós-graduada pela Unesp, é jornalista de economia na Folha. Opiniões, críticas e sugestões podem ser enviadas para o email colodemae@grupofolha.com.br.

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