Aprenda a ler e a pensar com a lista de livros censurados em Rondônia
Obras tiradas das escolas trazem retrato único da história e da cultura brasileira
“Memórias Póstumas de Brás Cubas”, “Macunaíma”, “Mandrake” e, depois, “Feliz Ano Novo”, “Lúcia McCartney”, “Secreções, Excreções e Desatinos”, “Beijo no Asfalto” e “Agosto” foram algumas das obras que marcaram desde o comecinho até o fim da minha juventude. Muitas foram tema desta coluna ao longo dos anos.
Formaram-me como pessoa, ensinaram-me as agruras das regras gramaticais e tornaram-me apta a ler, interpretar, escrever e transmitir conhecimento.
Todas elas, assinadas por grandes nomes da literatura brasileira, como Machado de Assis, Oswald de Andrade, Rubem Fonseca e Nelson Rodrigues, foram incluídas na semana passada pelo governo de Rondônia em uma lista de 43 livros para serem recolhidos das escolas.
Os títulos teriam o que foi definido como “conteúdos inadequados” a crianças e adolescentes. A pasta voltou atrás após questionamentos, mas a indignação continua.
E não por acaso: “Macunaíma”, uma obra-prima escrita em três dias por Oswald de Andrade, é um apanhado da história da cultura brasileira. Não fica de fora, claro, o gosto por “brincar” do protagonista.
Outro romance encabeçado por um pícaro (estilo de herói movido pelos seus desejos e não pelo seu caráter) é “Memórias Póstumas”.
No livro, Machado consagra a ironia como uma de suas figuras de linguagem mais marcantes ao fazer uma dura crítica à aristocracia brasileira. Se Macunaíma era um herói sem nenhum caráter, Brás Cubas chegou a agradecer por não ter tido filhos, não ter transmitido a ninguém o legado de sua existência. Por ser narrado por um defunto-autor, o livro apresentou um descompromissado ponto de vista que mudou a história da nossa literatura. Ensinou muitos leitores a pensar.
Denúncia da violência nua e crua tão comum na obra de Rubem Fonseca, “Agosto” tem como pano de fundo o ano de 1954 e os episódios históricos que culminaram no suicídio de Getúlio Vargas (1882-1954). Mas o foco da narrativa, conduzida pelo comissário Alberto Matos, é a exposição da desigualdade social brasileira e da longeva corrupção na política (algo tão atual, aliás).
Isso sem contar outros mestres como Euclides da Cunha, Carlos Heitor Cony, Ferreira Gullar, Caio Fernando Abreu e até o americano Edgar Allan Poe, gênio e precursor do horror.
A relação de livros de Rondônia traz ainda uma observação: “Todos os livros do Rubem Alves devem ser recolhidos”. Morto em 2014, Alves escrevia sobre educação e questionava o formato tradicional da escola. Mais do que proibir livros, parece que alguém, em Rondônia, tentou impedir os estudantes de pensar e formar senso crítico.
MAIS VENDIDOS
FICÇÃO
1 “A Garota do Lago”, de Charlie Donlea (Faro)
2 “Eleanor & Park - Slim”, de Rainbow Rowell (Novo Século)
3 “1984”, de George Orwell (Cia. das Letras)
4 “Revolução dos Bichos”, de George Orwell (Cia. das Letras)
5 “Box - HP Lovecraft - Os Melhores Contos”, de HP Lovecraft (Pandorga)
NÃO FICÇÃO
1 “Mindset”, de Carol Dweck (Objetiva)
2 “Sapiens”, de Yuval Noah Harari (Publibook)
3 “Escravidão Vol. 1”, de Laurentino Gomes (Globo)
4 “21 Lições para o Século 21”, de Yuval Noah Harari (Cia. das Letras)
5 “A Arte da Sabedoria”, de Baltasar Gracián (Faro)
AUTOAJUDA
1 “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas”, de Dale Carnegie (Companhia Editora Nacional)
2 “Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas - Versão de Bolso”, de Dale Carnegie (Companhia Editora Nacional)
3 “A Sutil Arte de Ligar o Foda-Se”, de Mark Manson
(Intrínseca)
4 “Mais Esperto que o Diabo”, de Napoleon Hill (CDG)
5 “Minutos de Sabedoria”, de Carlos Torres Pastorino (Vozes)
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