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Cinema e Séries
Descrição de chapéu The New York Times Televisão

'Succession': Matthew Macfadyen fala de luto, mas também de alívio pelo fim da série

Intérprete do embaraçoso Tom Wambsgans explica por que prefere papéis coadjuvantes

Matthew Macfadyen posa para foto em Nova York - Mark Sommerfeld/The New York Times
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Sarah Lyall
The New York Times

Será que existe um personagem de televisão mais dolorosamente embaraçoso do que Tom Wambsgans em "Succession"? Interpretado com humor feroz e discreto pelo ator britânico Matthew Macfadyen, Tom consegue existir simultaneamente em todos os pontos do espectro de poder da série: ele intimida, é intimidado, e oscila desordenadamente entre essas duas coisas.

Na maior parte das três primeiras temporadas, Tom esteve sempre um passo e meio atrás das maquinações na Waystar Royco, a companhia dirigida por seu imperioso sogro Logan Roy (Brian Cox), e era tratado com desprezo casual por sua mulher, Shiv (Sarah Snook).

Assim, foi um choque quando Tom se aprumou no final da terceira temporada para orquestrar uma jogada audaciosa na disputa pelo poder, se unindo a Logan contra Shiv e dois dos seus irmãos em uma batalha épica quanto ao futuro da Waystar.

Não que isso garanta que Tom acabará por cima, na quarta e última temporada de "Succession", que estreia neste domingo (26) na HBO (e ninguém sabe ao certo o que significa "estar por cima", em um pódio escorregadio e instável como esse).

"Tom talvez tenha aderido a Logan, mas não é uma posição fácil de ocupar", disse Macfadyen em uma tarde de fevereiro, entre goles de água tônica com bitters no Bemelmans Bar do hotel Carlyle. "Ele ainda não se sente especialmente seguro, e continua preocupado quanto ao seu relacionamento com Shiv. E todos os outros continuam a manobrar, disputar posições e competir."

Se Macfadyen parece dramaticamente desconfortável em "Succession", na realidade ele é o completo oposto disso: relaxado, descontraído e afável, com uma voz grave e confiante, sem os tiques nervosos ou esforços frenéticos de seu personagem para tentar ler seu destino nos olhos dos outros. Enquanto Tom parece assolado por demônios interiores e por uma insegurança paralisante, Macfadyen gera a impressão de ser um sujeito muito bem ajustado, alguém feliz por estar fazendo seu trabalho e não muito tenso com relação a ele. Uma das palavras que o ator emprega com mais frequência é "adorável".

Por muito tempo um rosto conhecido dos espectadores britânicos, Macfadyen em geral não chamou a atenção do lado oposto do Atlântico antes de "Succession". Se os americanos o conheciam de todo, provavelmente era no papel de um outro Tom —Tom Quinn, um espião arrogante mas vulnerável nas duas primeiras temporadas da série britânica "Spooks" (conhecida nos Estados Unidos como "MI-5"), que estreou em 2002. Ou talvez o tenham visto como um Mr. Darcy soturno e torturado em "Orgulho e Preconceito" (2005), de Joe Wright, ou como um detetive vitoriano na série "Ripper Street", da BBC.

Foi um papel diferente que atraiu o interesse de Jesse Armstrong, o criador de "Succession": o do bêbado e exuberante Sir Felix Carbury em "The Way We Live Now" (2001), uma minissérie britânica baseada no romance homônimo de Anthony Trollope. "Ele é bem conhecido no Reino Unido como um ator capaz de interpretar todo tipo de papel, embora a maioria das pessoas não o veja necessariamente como um ator cômico", disse Armstrong.

Embora Tom tenha começado "Succession" à margem das histórias mais quentes da série, "eu sabia que o papel seria significativo e importante", disse Armstrong. À medida que a história avançava, os roteiristas passaram a destacar mais e mais a competência cômica de Macfadyen e sua capacidade de mostrar a vulnerabilidade pungente de Tom, em momentos mais calmos.

"Em uma série que é sobre poder e suas manifestações, Matthew é muito bom ao interpretar um personagem que ocupa posição central em várias relações de poder diferentes", disse Armstrong. "Ele é bom em mostrar a disposição de Tom de moldar e ajustar a sua personalidade para se enquadrar à estrutura de poder". Como Macfadyen explicou recentemente em entrevista no Tonight Show, uma das formas de fazê-lo é erguer e abaixar o tom da voz de Tom, a depender de quem contracene com ele em cada diálogo.

Macfadyen, 48 anos, nasceu na Inglaterra mas foi criado no exterior, e viveu diversos anos em Jacarta, Indonésia, por conta do trabalho de seu pai no ramo do petróleo. Estudou em um colégio interno na Inglaterra, optou por não fazer um curso superior, e em lugar disso se matriculou na Royal Academy of Dramatic Art.

Depois de se formar, ele fez uma excursão pela Inglaterra com o grupo de teatro Cheek by Jowl, atuando em peças como "A Duquesa de Malfi" e "Sonho de Uma Noite de Verão".

Conquistou seu primeiro grande sucesso quando foi escalado para o papel de Hareton Earnshaw na adaptação televisiva britânica de "O Morro dos Ventos Uivantes", em 1998, seguido rapidamente por um filme em duas partes para a BBC, "Warriors", no qual interpretava um membro das forças de paz da ONU na Bósnia. Desde então, nunca lhe faltou trabalho. "Você ganha aquele impulso", ele disse.

Macfadyen tem a tendência, comum aos atores ingleses, de depreciar seu trabalho, como se tudo fluísse sem qualquer esforço de sua parte. E também prefere fazer papéis coadjuvantes. "Às vezes, sinto que você pode cair em uma rotina, quanto interpreta papéis principais", ele disse. "É muito mais divertido ser o malvado ou o palhaço."

"Succession" está repleta de grandes nomes e personagens memoráveis, incluindo os três filhos de Roy: Kendall (Jeremy Strong), Roman (Kieran Culkin) e Connor (Alan Ruck), cada qual repulsivo e traumatizado à sua própria maneira. Mas Tom Wambsgans –temperamental, mas sensível; diabólico, mas quase constantemente infeliz– se destacou desde o início.

Há a questão do seu estranho sobrenome, com aquele B incômodo cintilando agressivamente em meio a uma floresta de consoantes, desafiando qualquer esforço de pronúncia casual. Há a sua situação de saco de pancadas oficial dos Roy, um homem que ouviu da mulher em sua noite de núpcias que ela queria um casamento aberto e cujo sogro o tenta com vislumbres de poder, mas o usa apenas como bode expiatório e intermediário em transações escusas. Há a sua relação maluca com o primo Greg (Nicholas Braun), uma brincadeira sadomasoquista que Armstrong descreve como um "jogo de poder homoerótico".

Embora Tom não seja um paspalho, é tão fácil confundir sua falta de jeito com estupidez que às vezes até Macfadyen o faz. "Jesse sempre aponta, para Nick e para mim, que Tom dirige uma parte da companhia que fatura bilhões; não é um idiota completo", disse o ator.

Durante quatro temporadas de filmagens em Nova York, o elenco de "Succession" formou elos muito próximos, e não era incomum ver diversos de seus integrantes jantando juntos na cidade, algo que Macfadyen descreve como "o clube da ceia de ‘Succession’". Ele jantava frequentemente com Snook, a sua mulher na série, e outros membros do elenco.

"Não sei como é que ele conseguiu transformar um personagem tão obsequioso e tão agressivo com os mais fracos em uma pessoa agradável, mas ele conseguiu", disse Snook. "Ele é um daqueles atores que tem tanto amor, empatia, compaixão e curiosidade pelo mundo que consegue realmente transformar um personagem naquilo que quiser."

Macfadyen parece ser um exemplo de uma espécie muito rara: um ator sem um ego enorme (ou talvez seja um ator tão bom que consegue esconder seu egoísmo). Entre outras coisas, ele disse, nunca se sentiu obrigado a exigir mais tempo na tela ou uma história melhor na série para Tom.

"Conheço atores que agem como proprietários de suas ‘jornadas’", ele disse. "Mas não sinto que o personagem seja meu –é de Jesse, e só sirvo de veículo para ele."

Além disso, "é melhor que você não se apegue demais a um possível enredo, porque eles podem mudar de ideia".

Braun disse que Macfadyen é genuinamente abnegado, uma qualidade útil em uma série na qual numerosos atores dividem frequentemente uma só cena. Ele também elogiou a capacidade extraordinária de Macfadyen de permanecer no momento enquanto atua, e de o fazer com ausência de vaidade.

"Ele não gasta muita energia adicional antes de uma cena", disse Braun. "Não parece estar pedindo muito tempo de preparação, ruminando, ou 'ficando na energia' de Tom."

Nesse sentido, Macfadyen parece ser o oposto de seu companheiro de elenco, Strong, cuja intensidade e imersão extrema em seus personagens vêm sendo registradas detalhadamente pela revista The New Yorker e outros veículos. Macfadyen prefere não discutir esse tema. "Acho que já foi dito o bastante sobre isso", ele afirmou.

Embora "Succession" seja cuidadosamente planejada, os atores são encorajados a improvisar e a brincar com diálogos alternativos. Braun e Macfadyen, que partilharam algumas das cenas mais engraçadas da série, são famosos no set por se fazerem rir durante as gravações. "Ele é um cara abusivo, mas não de uma maneira muito explícita", disse Braun sobre Tom. "Fica bem claro que um acha o outro muito divertido", disse Armstrong, sucintamente.

Macfadyen é casado com a atriz britânica Keeley Hawes, que ele conheceu quando os dois interpretaram espiões em "MI-5". Eles tiveram um caso altamente público —ela era casada e tinha um bebê, naquele momento–, e terminaram por se casar em 2004, depois do divórcio de Hawes. O casal tem dois filhos. Macfadyen disse que todos se tornaram grandes amigos e que criam os filhos juntos. "Foi um pouco acidentado, naquele momento, mas agora está tudo bem", ele disse.

O britânico sentia falta da sua família quando estava filmando "Succession", e viajava frequentemente para casa na Inglaterra quando tinha pausas nas gravações. Mas parecia um pouco melancólico com o fim da série.

"Esse é um grupo realmente adorável de atores", ele disse. "É uma coisa estranha, o luto quando um trabalho termina. É horrível e desolador, mas ao mesmo tempo, há um ligeiro alívio —uma mistura complicada de sentimentos."

Macfadyen faz outros trabalhos constantemente, nos intervalos entre as temporadas. Em "Stonehouse", série britânica que estreou em janeiro, ele estrela como o político conservador John Stonehouse, um personagem real da década de 1970. Era um papel suculento. Stonehouse foi um (mau) espião para a Tchecoslováquia, se envolveu em esquemas de negócios duvidosos, enganou a mulher, simulou a própria morte e reapareceu, com um nome falso, na Austrália.

A mulher de Stonehouse foi interpretada por Hawes, e a personagem logo percebe que seu marido não é tudo que pretende ser. "Foi divertido ter a oportunidade de ver Keeley trabalhando", disse Macfadyen, "especialmente os olhares venenosos que ela me dava".

O próximo projeto de Macfadyen, com Nicole Kidman, é "Holland, Michigan", um thriller para o serviço de streaming Amazon sobre os segredos escondidos em uma pequena cidade. Ele não parece muito ansioso por definir o que virá a seguir. Ao contrário de Tom Wambsgans, Macfadyen está satisfeito com o seu lugar no mundo.

"A arte de ser ator é imaginar o que é ser outra pessoa com simpatia e empatia, e não fazer com que o papel gire em torno de você", ele disse. "O trabalho é ótimo. Gosto da coisa antiquada de vestir um figurino, falar diferente e fazer coisas que nunca sonharia fazer na vida real."

Tradução de Paulo Migliacci

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