Personagens de 'Succession' são obscuramente familiares, diz Brian Cox
Série vencedora do Emmy encerra 3ª temporada neste domingo (12) na HBO
Série vencedora do Emmy encerra 3ª temporada neste domingo (12) na HBO
Brian Cox, 75, diz que não tem dificuldade em encarnar os arroubos de ira de seu personagem, o patriarca Logan Roy, em "Succession". A série, que recebeu o último Emmy de melhor série dramática, encerra sua terceira temporada neste domingo (12) —uma quarta leva de episódios já foi encomendada.
"No fundo, eu também sou bem irritadiço", conta em uma sessão de perguntas e respostas conduzida pela HBO e cedida ao F5. "Eu só preciso alcançar esse lugar da raiva e lá está ela. É bem profundo, mas eu consigo chegar. Sabe, eu tenho as minhas próprias razões para ter raiva —que eu não vou contar agora! Mas posso ser bem raivoso, então essa é a parte fácil."
Por outro lado, é quando precisa se portar como o dono do grande conglomerado de mídia Waystar RoyCo que ele sofre mais. Ele exemplifica com a gravação de uma cena em que não foi fácil se conectar com essa parte do personagem.
"Eu conseguia fazer a parte emocional, mas a parte empresarial estava sofrida", admite. "Preciso ter uma mentalidade de empresário e falar sobre coisas de negócios, mas estava ficando gagá. Eu conseguia atingir toda a raiva. Essa parte era tranquila. Era virar um homem de negócios que estava difícil. Mas, ao final, conseguimos chegar lá."
Na trama, Logan precisa lidar também com as disputas de poder dos filhos entre eles, mas principalmente com ele. Com muitos dinheiro em jogo e vínculos afetivos frouxos, a melhor imagem para definir a família Roy é a de cobra comendo cobra.
Mesmo com todos os personagens tendo um quê de odiáveis, o ator diz que o sucesso da série está na identificação que ela gera. "Acho que eles nos lembram de quem somos quando estamos no fundo do poço", avalia. "É algo familiar —obscuramente familiar— para muitos de nós."
Ele credita o criador da série, Jesse Armstrong, por fazer essa mágica acontecer. "Essa é a habilidade do Jesse, é o que ele consegue fazer: ele atrai as pessoas para a série de uma forma brilhantemente incrível", elogia. "As pessoas são fisgadas. Como peixes, elas caem no anzol."
Outro fator que poderia afugentar o grande público, mas que não o faz, é o fato de estarmos tratando de personagens riquíssimos, que estão longe da realidade da maior parte das pessoas. Por quê alguém ia querer acompanhar algo tão distante da própria existência?
"Acho que é porque todos temos ambição", afirma Cox. "Às vezes, ela é frustrada. Às vezes, nós a enterramos. Às vezes, a seguimos. Às vezes, temos vergonha dela. Acho que a crueza de 'Succession' é o que pega as pessoas. Porque é bem cru de certa forma: a linguagem, os abusos... Às vezes, eu digo: 'Tenho mesmo que dizer isso?'. E eles me falam: 'Podemos te dar uma fala alternativa...'. 'Tá bom, eu falo."
Aliás, essa liberdade comentada pelo ator é bem comum na relação entre os atores e os roteiristas da série. Muitas falas são realmente reescritas enquanto os atores gravam.
"Amo o jeito como o Jesse trabalha", afirma o ator. "Ele é único e simplesmente surpreendente em termos de sua compreensão da série. Ele se preocupa se as coisas estão perfeitas demais! Ele não gosta de perfeição, quer sempre dar uma bagunçada!"
"Ele é muito humano —ele realmente entende e não julga os personagens", descreve. "É muito fácil pegar essa série e julgar absolutamente tudo, e tentar enquadrá-lo de certa forma. Mas ele nunca faz isso. Ele sempre surpreende. Sempre vai para um lado que você não espera."
Esse é um dos motivos pelos quais o ator, que tem uma longa carreira nos palcos e no cinema, está sempre disposto a voltar ao personagem. "Para mim, o apelo do Logan é um mistério", avalia. "Não sabemos quem ele é. Ainda o estou descobrindo."
Ele lembra de um episódio na primeira temporada em que foi surpreendido com a informação de que o personagem havia nascido em Dundee, cidade escocesa na qual o próprio ator nasceu também. "Mas eu estou interpretando ele como sendo de Quebec [no Canadá] desde o começo!", diz ter comentado.
O autor explicou que o personagem deixou a Escócia muito cedo por causa da guerra, mas ainda assim o fato o marcou. "Eu entendo a diáspora [que o personagem viveu]", explica. "Dundee é uma cidade extraordinária. Tem muitos irlandeses e pessoas do norte da Escócia —minha família toda veio no século 19 para trabalhar nos moinhos."
"O que adoro na minha cidade natal é o fato de não haver sectarismo", continua. "Eu cresci com garotos protestantes —eles eram meus amigos. Não era o que estava acontecendo na Costa Oeste. Então Dundee era um caldeirão em termos de pessoas."
"De certo modo, foi uma ótima escolha fazer Logan ser de Dundee, porque ele representa tudo isso", afirma. "Eu fico pensando que Logan era jornalista e também católico, então ele deve ter mentido para trabalhar para a [editora local] DC Thomson. Meu irmão não conseguiu um emprego na DC Thomson nos anos 1950, mesmo de entregador de jornais porque ele era católico!"
Esse tipo de detalhe do roteiro é o que, na opinião de Cox, deixa o roteiro e a série tão ricos. "Apesar de ter me deixado um pouco confuso por ter que comparar a minha experiência com a dele, ele ser de Dundee me ajudou", diz. "Ele teve um passado muito mais amargo que o meu —sendo que o meu já não foi tão maravilhoso."
"Logan foi muito torturado de alguma forma", avalia. "Ele é um homem muito desapontado. E ele carrega um ar de mistério à la Cidadão Kane. E é isso que você deve manter intacto: o mistério de Logan. Já eu sou muito falador, esse é o meu problema!"
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