'Está na hora de todos saberem quem foi Chico Science', diz filha do cantor
Morto há 25 anos, líder do movimento Manguebeat ganhará filme biográfico
Morto há 25 anos, líder do movimento Manguebeat ganhará filme biográfico
"Está mais do que na hora de todo brasileiro saber quem foi Chico Science". É o que diz Louise França, filha do artista revolucionário que, 25 anos após sua morte, terá sua história abordada em um novo filme biográfico. "Meu pai foi o líder do último movimento musical do Brasil, mas a história dele não foi suficientemente contada."
França participa do projeto ao lado de Denis Feijão, produtor do longa-metragem, e Pedro Von Krüger, diretor. O filme pretende mostrar a visão de "dentro dos pensamentos" do artista, que liderou o movimento Manguebeat na década de 1990 e transformou a realidade de Recife. Na época, a cidade era considerada uma das piores para se viver, pela ONU (Organização das Nações Unidas).
"Sou muito cuidadosa e um tanto ciumenta com as coisas do meu pai, só ia rolar se eu acompanhasse tudo bem de perto", completa França. Já Feijão se diz um "paulista pernambucano" e, por isso, nasceu o sonho de retratar a história de Chico Science, há anos.
Ele explica que foi necessário um ano de negociações para se dar início ao projeto. "Telefonemas, reuniões, ideias… enfim. [Mas] eu sabia que tinha que ser ele, um artista à altura dos humanos mais talentosos e admirados dos últimos tempos", completa. "O resto vai ser história."
Apesar do avanço nas negociações e parcerias, as gravações ainda não foram iniciadas e o filme segue sem elenco definido. Krüger diz que a escolha da equipe foi buscar a "desconstrução da persona antes da construção do personagem". Para o diretor, um dos maiores objetivos do filme será apresentar para as novas gerações a história e a obra do cantor, em especial no atual momento do Brasil.
"[Atualmente] ele seria um grande militante e ativista nas ruas e nas redes", diz a filha do artista. Krüger pontua que o cinema brasileiro precisa ser uma ferramenta para imortalizar o artista, resgatando "a singularidade musical e a versatilidade" dele, tornando assim Chico Science ainda mais presente na cultura nacional. Leia trechos editados da entrevista com Denis Feijão, Pedro Von Krüger e Louise França.
Apesar da partida prematura de Chico Science, aos 31 anos, a Nação Zumbi continuou por muitos anos. Como o legado do Manguebeat será abordado na trama?
Pedro Von Krüger: Vamos reconstruir o sentimento das pessoas no momento em que essa transformação se deu. O impacto do nascimento do Manguebeat para todos que são meus contemporâneos é comparável ao impacto histórico que teve a semana de 1922 para os modernistas.
Atualmente, vemos uma abertura no mercado musical. Ritmos como o rap e o funk ganham cada vez mais fãs e notoriedade no Brasil. Isso pode ser também um legado de Chico Science e a Nação Zumbi?
Louise França: O rap e o funk sempre tiveram um público muito grande. A notoriedade hoje é maior porque nos últimos 10 anos a burguesia abraçou e também coloca para tocar nas festinhas. E essa abertura no mercado musical se dá muito por conta disso. Acontece desse jeito: os pretos criam, são marginalizados, os brancos se apropriam, elitizam e todo mundo aplaude. Acredito que o grande legado da Chico Science e a Nação Zumbi para a música é a gana do "faça você mesmo" e acredite nas suas ideias e sonhos.
O movimento Manguebeat carregava um ativismo político-social marcante. Qual a importância de trazer a trajetória dele após o início da pandemia e, em especial, perto das eleições?
Louise França: As pessoas têm que entender que respeitar e defender a natureza não é coisa de hippie nem coisa de mulher. Afirmar isso é estupidez, mau-caratismo ou os dois [...] A pandemia é consequência de uma série de negligências. Com o meio-ambiente e com nós mesmos. Um desrespeito generalizado, obsessivo e narcísico nos trouxe até aqui.
Como Chico reagiria ao cenário atual do Brasil?
Louise França: Suponho que ele seria um grande militante e ativista nas ruas e nas redes. Com certeza estaria extremamente puto com tudo que a gente vem passando nos últimos 500 anos, ainda mais agora com a legalização do horror e do absurdo durante esses quase quatro anos de desgoverno. Provavelmente sofreria algum tipo de perseguição, não só por expressar o que pensa nas canções, mas por ser uma voz que veio da periferia e isso representa tudo que a extrema-direita tem tentado exterminar há muito tempo: direitos básicos, a dignidade e a própria vida da população preta e pobre do país.
Trazer a história do artista é uma forma de espertar o interesse do público mais jovem que não viveu o movimento do Manguebeat?
Pedro Von Krüger: Sim, com certeza, inclusive, esse pode ser um dos grandes objetivos do filme e o termômetro do sucesso dessa obra, já que a história do Chico é fundamental para entendermos quem somos hoje. Além disso, é como se ele estivesse vivo aqui ao nosso lado até hoje, porque sempre esteve à frente do seu tempo e segue à frente. Os jovens de hoje vão poder participar dessa história e tê-lo como um ídolo para se inspirar.
Apesar de não ser muito debatida pelo público jovem, a história do músico já ganhou livros e até mesmo um documentário. Como o filme irá se diferenciar de outras produções já feitas?
Pedro Von Krüger: O filme é uma obra ficcional —há um maior compromisso com interpretações mais subjetivas da realidade do que com um retrato fiel dos fatos. Além disso, queremos colocar o espectador dentro do pensamento de Chico para que todos possam sentir o gosto de fazer parte de um momento de transformação na cultura brasileira, o momento que o nosso satélite foi tocado e encontrou um caminho novo que estamos percorrendo até os dias de hoje.
Há alguma previsão para quando o filme deve ser lançado? O filme pode ir para os cinemas ou algum streaming?
Denis Feijão: Ainda não temos previsão de lançamento, e não estamos em negociação com nenhum streaming. Temos conversas em andamento com players do mercado, que já são parceiros de outros filme e séries da produtora e já investem em nossas produções.
Com a pandemia, a produção artística no Brasil ficou ainda mais difícil. Como é poder realizar este projeto agora? Houve algum desafio em relação à busca por investimento e até mesmo patrocínio?
Denis Feijão: Mesmo diante de uma pandemia mundial e tempos difíceis em nosso país, estou muito feliz de fechar acordo com a Pandora Filmes, distribuidora independente brasileira, que está investindo recursos no desenvolvimento e na distribuição através do FSA (Fundo Setorial Audiovisual) com a Ancine (Agência Nacional do Cinema), mas ainda precisamos fechar a conta de financiamento do filme, para garantir a parte do recursos para a produção e exibição, ou seja, estamos em busca de investidores e parceiros.
Denis, você já fez outros trabalhos sobre nomes da música brasileira, como os documentários "Sabotage: Maestro do Canão" e "Raul — o início, o fim e o meio". Qual o desafio de documentar a história de personalidades marcantes da história do Brasil?
Denis Feijão: Minha maior vontade sempre foi trazer à tona os maiores e mais representativos nomes da música. Revolucionários de diferentes tempos que não vivi. Isso aconteceu quando produzi os filmes do Raul Seixas e do Sabotage. Agora me sinto renascendo criativamente para produzir o mais esperado de todos, um filme sobre a vida e obra do Chico Science.
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