Em 'The Dropout', Amanda Seyfried vira bilionária que enganou todo mundo
Série sobre a história de Elizabeth Holmes estreia nesta 5ª no Star+
Série sobre a história de Elizabeth Holmes estreia nesta 5ª no Star+
Imagine se, em vez de vários tubos, você precisasse apenas de uma gota de sangue tirada do dedo para fazer todos os seus exames de saúde. E se, além disso, o resultado saísse em poucos minutos e com um custo bem mais baixo do que o de um teste normal. Só vantagens, né?
A empresa que anunciou essa tecnologia, a Theranos, existe (ou melhor, existiu) e, claro, atraiu múltiplos investimentos. Chegou a ter um valor de mercado de quase US$ 9 bilhões (cerca de R$ 46,41 bilhões no câmbio atual) e fez sua criadora, Elizabeth Holmes, se tornar a mulher mais jovem a figurar na lista das pessoas mais ricas dos Estados Unidos, sendo a bilionária mais jovem do mundo a fazer sua própria fortuna, e não herdá-la.
Pena que nada do que a empreendedora falava era verdade. Atualmente, Holmes aguarda a decisão sobre sua sentença, que pode chegar a 20 anos de prisão, além da devolução de quantias enormes de dinheiro —ela já foi considerada culpada de fraude pela Justiça americana. É em como essa mulher conseguiu enganar tanta gente por tanto tempo que se centra "The Dropout", série que estreia na quinta-feira (3) no serviço de streaming Star+.
A série é estrelada por Amanda Seyfried, 36, que diz ter ficado fascinada pela personalidade de Elizabeth Holmes. "A primeira coisa que qualquer ator faz é tentar se identificar com o personagem, e isso foi um pouco difícil com a Elizabeth", confessa a atriz durante evento da associação americana de críticos de TV (TCA), que o F5 acompanhou.
"Quando comecei a conhecê-la por meio do roteiro e da forma como ela agia nas muitas gravações que assisti, acabei pendendo para um lado de compaixão e quase me apaixonando por ela", explica. "Quando você quer realmente compreender alguém, você tem que se apaixonar um pouco pela pessoa, sem pensar no que ela fez ou em quem ela é."
A atriz não conversou com a Elizabeth Holmes da vida real —e diz que tem um motivo muito bom para não ter nem tentado. "Ela poderia me vender areia que eu compraria", brinca. "Como você pode achar que ela não te venderia qualquer coisa, mesmo que fosse uma ideia?"
"Tenho certeza de que ela foi muito questionada, especialmente por engenheiros, profissionais de saúde, cientistas e pesquisadores, mas ela sempre dava um jeito de desviar o assunto", comenta. "Se ela não sabia de algo, ela respondia com algo que ela sabia, e assim ia dobrando a aposta."
Seyfried conta que esta é apenas a terceira vez que ela interpreta alguém que realmente existiu. "É a primeira vez que faço alguém que ainda está vivo", conta. Isso não a fez ficar com receio pelo fato de própria retratada poder assisti-la, mas pelo fato de Elizabeth Holmes ser uma figura conhecida nos Estados Unidos.
A empreendedora tinha um estilo muito marcado em suas aparições públicas. Era sempre vista com camisas pretas de gola rolê (assim como Steve Jobs, sua inspiração declarada) e uma voz extremamente grave —que chegou a virar alvo de imitação em programas de humor como o Saturday Night Live.
"Para interpretar alguém real você precisa juntar você mesma com o seu conhecimento e a sua experiência sobre a outra pessoa", afirma a atriz. "Não que seja 50% eu e 50% o outro, mas tem uma parte ali que ainda sou eu. Afinal, eu sou uma atriz, e não a própria Elizabeth. Dei o meu melhor para tentar capturar a essência dela."
"A minha boca não tem o mesmo formato que a dela", exemplifica. "Mas eu consigo emitir alguns sons parecidos com os que ela fazia. Esse é o meu desafio como atriz."
Ela diz que a voz da retratada, aliás, foi uma de suas maiores apreensões. "Foi um trabalho duro porque minha voz é naturalmente muito mais aguda que a dela", diz. "Não diria que chegou a ficar 100% igual, mas fiz o que tinha de fazer para o público embarcar com a gente. Essa era a minha única preocupação."
Para Liz Meriwether, roteirista e produtora executiva da série, essa era uma grande questão. "Eu estava preocupada porque não queria que virasse um esquete de humor ou uma sátira", afirma. "A Amanda capturou a realidade emocional enquanto se transformou em alguém que parece real, o que ajuda o público a não se dispersar da história."
Ela diz que, apesar de ser uma trama muito específica, várias pessoas poderão se conectar com os sentimentos mostrados na tela. "É uma jovem mulher que chega a uma posição de poder e não sabe o que fazer com isso, eu me identifico com isso", compara. "Também já tive a experiência de achar que meu corpo não é adequado para o trabalho que estou desempenhando e quis mudá-lo para me encaixar."
Meriwether defende que a série não faz um julgamento a respeito da personagem. "Eu acho que o grande mistério da série é o que estava se passando na cabeça da Elizabeth enquanto tudo isso estava acontecendo", avalia. "E eu não sei o que estava se passando, mas tento pegar tudo o que sei que de fato aconteceu e dramatizar isso."
"Eu acredito que ela entrou nisso tudo com boas intenções", defende. "Assistir à série vai nos mostrar quando essas boas intenções meio que caíram por terra. Era preciso olhar para ela como um ser humano completo para fazer com que as pessoas se importassem o suficiente para acompanhá-la por oito episódios."
Um dos pontos que humanizam a personagem é a relação com Sunny Balwani, que foi o presidente da Theranos e na série é interpretado por Naveen Andrews. Ele conheceu Elizabeth Holmes quando ela tinha 18 anos e ele, 37. Os dois mantiveram um relacionamento amoroso secreto, que não foi revelado aos investidores da empresa.
"É impossível não fazer alguns julgamentos sobre quem você está interpretando, você tem sentimentos particulares que não necessariamente vão atravessar a sua criação", defende Andrews. "Eu acredito que ele era desesperadamente apaixonado por ela. Até onde alguém vai por amor? É quase romântico, de certa forma."
O ator elogiou Amanda Seyfried, e diz que a atriz foi fundamental para o resultado de seu trabalho. "Aprendi muito com ela", afirma. "Desde o primeiro dia, quando tivemos que tomar algumas decisões e torcemos para que elas fossem as corretas."
Amanda também exaltou a parceria com o colega. "Nunca senti que eu estava sozinha tentando resolver as coisas", contou. "Nos demos bem de cara porque tivemos algum espaço para nos conhecermos nos ensaios. Acho que a nossa paixão pelo projeto e o nosso desespero para entender esses personagens nos uniu."
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