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Cenas do documentário "Retratos de uma Guerra Sem Fim"; Marcos Uchôa com personagens na Síria Divulgação

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São Paulo

A série documental “Retratos de uma Guerra Sem Fim”, do jornalista Marcos Uchoa, lançado neste sábado (11) no Globoplay, relembra os atentados de 11 de setembro, nos Estados Unidos, em 2001, que marcaram a história do século 21. Mas com o olhar voltado para as consequências da tragédia em vários países islâmicos ao longo das últimas duas décadas.

Quando ocorreram os atentados, Uchoa, que era correspondente da Globo em Londres, assistiu aos ataques pela TV , no escritório da emissora, ao lado de Sandra Annenberg e Ernesto Paglia. Ele havia voltado dois dias antes de Nova York, onde acompanhou a participação de Gustavo Kuerten, o Guga, no US Open Tennis.

O jornalista lembra que os colegas pediram para ele ficar mais uns dias em Nova York, mas ele decidiu retornar a Londres porque ainda estava um pouco irritado de ter interrompido as férias no Recife para cobrir o torneio de tênis. “Eu devo dizer que tenho muita sorte na minha carreira, mas esse foi um azar enorme e foi um azar meu, porque me pediram para ficar e eu falei não”, diz rindo.

Mesmo sem cobrir os atentados, Uchoa noticiou as consequências deles ao longo de 20 anos em vários países envolvidos em conflitos, como Paquistão, Iraque, Irã, Síria e Líbano. Na série, ele revisita muitos desses lugares para mostrar como estão após as quedas de governos, as consequências da Primavera Árabe e como as pessoas lidam com as marcas dessa violência.

“O meu viés sempre foi a questão da população, como é que ela está vivendo, principalmente porque essa parte militar é muito sujeita a mentiras. A gente não sabe na verdade o que está acontecendo.”

Uchoa diz que a ideia do documentário é mostrar o que aconteceu com os feridos, como as pessoas estão vivendo sem casas, a economia, a reconstrução de vilarejos inteiros destruídos por guerras e a questão dos refugiados internos e aqueles que cruzaram a fronteira para outros países.

“Tem todos os refugiados internos, as pessoas não conhecem esse lado. Por exemplo, [pessoas que] moravam em Belo Horizonte e tiveram que fugir para Recife”, explica o jornalista.

Muitas das imagens da série foram feitas para reportagens da Globo, mas não foram utilizadas e ficaram guardadas por anos. Em fevereiro, ele lembrou dos 20 anos do atentado de 11 de setembro e dos dez anos da Primavera Árabe e pensou que poderia virar um documentário.

“Tinha uma cara muito redonda para fazer um projeto, eu tinha estado ao longo da minha carreira em vários desses lugares. Eu conheço muito bem o mundo islâmico.”

Uchoa conta que tinha oferecido inicialmente um projeto de documentário com apenas três capítulos para mostrar a primeira e a segunda década. Segundo ele, a Síria seria um episódio sozinho como o pior do que aconteceu. Mas o jornalista decidiu fazer um quarto episódio na Tunísia, país que tinha sido o único a derrubar um ditador e criar uma democracia.

O jornalista admite que queria terminar a série mostrando que os árabes não são condenados geneticamente a não poderem viver em democracia. “Eu queria terminar não com um final feliz, mas mostrando que existe essa possibilidade e existia um país [Tunísia] que estava tentando isso.”

Mas desde julho a situação política em alguns países islâmicos mudou radicalmente. A Tunísia, que ele havia visitado em plena democracia em junho, teve o parlamento fechado pelo presidente. Já no dia 15 de agosto, o grupo radical islâmico Talibã tomou Cabul, capital do Afeganistão, e voltou ao poder depois de 20 anos.

Com os novos acontecimentos, Uchoa revela que teve que correr para mudar a edição do primeiro e do quarto episódios da série porque o Afeganistão virou o tema mais recente. Ele diz que teve que diminuir um pouco a parte da Tunísia para terminar com o Afeganistão e acredita que o contraste dos dois países foi bom para a série.

“De um lado, você tem o melhor exemplo de uma tentativa de uma sociedade civil de se democratizar, enfraquecida. Do outro lado, o exemplo mais brutal de uma sociedade sofrendo essa brutalidade islâmica radical religiosa se fortalecendo.”

Uchoa espera que quem assistir à série documental entenda que as pessoas que vivem nesses países islâmicos são normais e que tenha mais empatia por elas. Segundo ele, para essas pessoas que vivem nesses países o 11 de setembro não acabou.

“Eu queria que houvesse um pouco mais de empatia, que as pessoas enxergassem que esses 20 anos a partir do 11 de setembro o mundo ficou muito mais agressivo e não só de guerra. A política americana ficou muito mais agressiva para o outro lado do mundo e internamente."

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