Débora Bloch diz ser revoltante como os que vivem na rua são ignorados
Assunto é tema da 2ª temporada de 'Segunda Chamada', que estreia hoje
Assunto é tema da 2ª temporada de 'Segunda Chamada', que estreia hoje
Em sua primeira temporada, "Segunda Chamada", série que estreou na Globo em 2019, mostrou os dramas do ensino público para adultos excluídos. Agora, em sua segunda leva de episódios, que estreia nesta sexta (10) no Globoplay, a produção vai além e conta a história de uma realidade ainda mais dura: a das pessoas em situação de rua.
Com o aumento da evasão escolar e o baixo número de matrículas, a existência do ensino noturno para jovens e adultos (EJA) está ameaçada na fictícia escola estadual Carolina Maria de Jesus. Para driblar isso, a professora Lúcia, vivida pela atriz Débora Bloch, 58, se empenha em buscar novos alunos e vai trazer para a sala de aula pessoas que não têm onde morar e vivem sob os viadutos e pontes de São Paulo.
"A escola ganha uma camada a mais agora: é um lugar de resgate da cidadania, porque essa população em situação de rua, além de buscar um recomeço por meio do ensino formal, está buscando seu direito mais básico. Muitos desses personagens chegam na escola e não têm um documento, uma identidade, uma certidão de nascimento, não sabem nem que têm o direito de estar ali", afirma Carla Faour, autora e criadora da produção ao lado de Julia Spadaccini, em conversa virtual com jornalistas que ocorreu na quarta (8).
Para Débora Bloch, a série cumpre um papel social ao dar protagonismo para uma população que não é vista pela sociedade. "São pessoas que a gente passa e nem olha para elas. E trazer esses personagens para frente da câmera e para o protagonismo é humanizá-las, é fazer com que todos tenham um olhar para essas pessoas", enfatiza.
Assim como na primeira temporada, a professora Lúcia interpretada pela atriz vai além do seu papel dentro de sala de aula, e se envolve com os problemas desses alunos, especialmente com Hélio, vivido por Ângelo Antônio, com quem ela tem um encontro especial.
O ator destaca a importância e o privilégio de poder de dar voz para um personagem que na vida real é tratado como se fosse invisível. No caso de Hélio, ele enfrenta também o alcoolismo. "Na rua, a bebida acaba sendo uma parceira dele", diz.
Para Ângelo Antônio, o interessante é abordar também os sonhos e a vida que o seu personagem e outros tinham antes de acabarem indo para a rua. "O Hélio era um cara que tinha uma família, uma filha, uma vontade de se formar. Mas, pelas circunstâncias da vida, ele se encontra em um momento de desesperança, de caos total."
A escola Carolina Maria de Jesus surge como uma oportunidade de salvação, ainda que, como pontua a autora Julia Spadaccini, o caminho não seja simples. "Esse grupo [das pessoas em situação de rua] enfrenta resistência por parte da direção, de outros professores e dos próprios alunos", salienta ela.
"É nesse ponto que a [personagem da] Débora entra. Mais do que nunca ela é essa professora que vai resistir, vai lutar e que quer provar que a inserção desse alunos vai dar certo", pontua Julia.
"A educação é o único caminho possível para transformação da nossa sociedade", reforça Ângelo Antônio.
Débora Bloch acrescenta que a professora Lúcia é uma das personagens mais especiais da sua carreira, por levá-la a conhecer muito mais a fundo universos como o da escola pública e do EJA. Nesta segunda temporada, ao conviver de muito perto com as pessoas que vivem nas ruas —muitas das gravações aconteceram sob viadutos e pontes que concentram essa população na capital paulista— ela afirma que teve aprendizados, mas também sofreu muito.
"É muito duro depois voltar para casa e saber que as pessoas vivem daquela maneira. Te dá uma vontade de transformar ou contribuir para que isso se transforme", diz. Um dos caminhos para isso, complementa a atriz, é justamente mostrar essa realidade.
"Fazer essa série, gravar nesse locais e falar sobre esses assuntos é a oportunidade que o meu trabalho me dá de ser atuante no mundo, de ajudar a transformar a cabeça das pessoas, de revelar essa realidade. Acho importante 'Segunda Chamada' estar na Globo e na Globoplay." —ainda não foi divulgado quando a série será transmitida na TV aberta.
"Não é mole passar cinco meses convivendo com a precariedade da vida das pessoas. Elas são muito desassistidas, o poder público não chega a esses lugares. É revoltante, é deprimente, dá raiva."
A nova temporada de "Segunda Chamada" também vai abordar temas como o Alzheimer, as dificuldades que um cadeirante enfrenta para estudar, e os preconceitos que indígenas sofrem. Os atores Paulo Gorgulho, Thalita Carauta, Hermila Guedes e Silvio Guindane seguem no elenco da série, que conta com participações de Moacyr Franco, Flavio Bauraqui, entre outros.
Quando terminou de finalizar a edição dos seis episódios da nova temporada da série, na terça (7), a diretora artística Joana Jabace conta que teve uma crise de choro. "A pandemia transformou tanto a gente, a gente teve tanto medo de não conseguir voltar a gravar e, quando conseguimos, foi tão difícil. Tivemos que aprender um novo jeito. É uma nova gramática de estar no set, de falar com os atores", salienta.
As gravações de "Segunda Chamada" tiveram início em fevereiro de 2020, mas pararam cerca de um mês depois, com o início da pandemia do novo coronavírus. Foi só no final do ano passado, relata ela, que se decidiu que as filmagens poderiam ser retomadas dentro de um protocolo rígido, que envolvia testagem diária de toda a equipe para a detecção da Covid-19, distanciamento e uso de máscara.
Mas, duas semanas após a volta das gravações, no início deste ano, elas tiveram de ser suspensas novamente com a segunda onda da Covid. "Essa segunda parada foi difícil porque a gente pensou: será que vamos entrar no limbo de mais um ano?", relembra Jabace.
Após dois meses de paralisação, finalmente a série foi retomada. "Foi muito duro tudo o que a gente passou. E agora ter entregado todo o material, e saber que vai estrear, é uma sensação de realização tremenda, de alegria e de superação", destaca ela.
As autoras, que tiveram de reescrever a série mais de uma vez por conta dos protocolos e reduzir a história, que inicialmente teria 12 episódios para seis, também afirmam que estão felizes com o resultado final. "Colocamos tudo o que queríamos nesses seis episódios. Não foi uma restrição que abalou a série, de maneira nenhuma. Conseguimos fazer com felicidade, contando o que queríamos", diz Julia Spadaccini.
Questionadas sobre a possibilidade de uma terceira temporada, Joana Jabace afirma que é cedo para falar sobre o assunto, mas torce para que a continuação se concretize. "É o projeto das nossas vidas", finaliza.
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