Antonio Fagundes afirma que, enquanto tiver fôlego, estará em cena
Ator viverá doente terminal em 'Bom Sucesso', nova novela da Globo
Prestes a estrear na novela “Bom Sucesso” (Globo) como Alberto, que tem uma doença terminal e não vê mais valor em estar vivo, o ator Antonio Fagundes revela que, diferentemente de seu personagem, sabe lidar bem com a velhice.
Em conversa com o F5, o ator diz como se sente aos 70 anos, 50 deles vividos na TV. Ele descarta a aposentadoria e conta que tem muitos papéis que ainda sonha em fazer, sejam eles na TV, no teatro ou no cinema.
Fagundes também toca em temas mais delicados, como as situações política e cultural do país, além de falar de família e da sintonia com a atriz Grazi Massafera, sua parceira de cena que interpretará Paloma na trama de Rosane Svartman e Paulo Halm, que estreia na faixa das sete na próxima segunda-feira (29).
O ALBERTO, DE ‘BOM SUCESSO’ O Alberto vai acabar se abrindo para o resto do mundo. Não cheguei a acompanhar casos reais de pessoas terminais, porque a morte faz parte da vida. Você não precisa se preparar para algo que tem de estar preparado a vida toda.
SINTONIA COM GRAZI A Grazi está no momento perfeito como atriz, tem um conhecimento ótimo da profissão, aproveito tudo o que ela me passa como ser humano. É uma gracinha e nossa relação é gostosa em cena. É muito bom trocar em cena, ela tem olhar generoso sobre o personagem dela e sobre os demais. É rico tudo o que ela está fazendo. [Em ‘Bom Sucesso, a personagem de Grazi, Paloma, tem exames trocados com Alberto, de Fagundes, que só tem seis meses de vida]
CHEGADA DOS 70 ANOS Enquanto eu tiver fôlego vou estar em cena, principalmente no teatro. TV é mais fácil, mas teatro exige mais. Estou dando no couro ainda. Estamos com [a peça] ‘Baixa Terapia’ no Teatro Tuca, em São Paulo [até dia 28 de julho]. São dois anos e meio por lá com 250 mil espectadores. Apareçam.
VELHICE Sempre me relacionei bem com a velhice. Já queria ser velho quando novo. Comecei interpretando personagem velho no teatro. Você só não vai ficar velho se morrer jovem. A velhice e a jovialidade você tem de encarar. É bom você se preparar para ficar velho, eu me preparei e venho me preparando. A coisa muda, você não sobe a escada mais de três em três degraus, eu vou subindo de dois em dois.
PAPÉIS AINDA A FAZER Eu brinco que são 180 os que ainda quero fazer. Só Shakespeare fez 37 peças e eu só atuei em uma. Não sei se terei vida para tanta coisa, mas estou tentando.
EXEMPLO PARA O FILHO É culpa dele, não tenho culpa nisso [por Bruno Fagundes ter virado ator]. Brinco que experiência não se transfere, é farol voltado para dentro. Procuro dar a eles, e eu tenho mais três além do Bruno, todas as possibilidades deles escolherem [o que fazer na vida]. Bruno foi para o teatro. Naturalmente deve ter tido alguma influência minha, e está se dando bem. Espero que seja tão feliz como nós.
FECHAMENTO DE LIVRARIAS PELO PAÍS Se as pessoas deixarem que pinacotecas fechem, museus, cinemas, teatros, circos e todo patrimônio histórico feche, num país de dimensões continentais onde a população não se importa, [se isso acontecer] o governo tem razão de fechar. [O ator é um aficionado por literatura e abordará isso em ‘Bom Sucesso’]
MOMENTO CULTURAL DO PAÍS Nós [atores] estamos fazendo [nossa parte], quem tem que responder sobre isso é o público, as pessoas que se interessam pela cultura [que tem de responder] se ela é ou não importante. É a cultura que define a cidadania. Através dela que se cria consciência de nação, reforça história, troca conhecimento, educação. Mas o público sabe? O dia que souber, governo nenhum acabará com a cultura.
MODERNIDADES Estamos passando por um processo estranho de uma coisa que não sabíamos o que era para uma coisa que ainda não sabemos no que vai dar. Vocês passam três horas por dia limpando o WhatsApp para não ficar carregado. Se usassem essas três horas para ler um livro vocês leriam dois livros por semana e as livrarias não estariam fechadas. Garanto que se concentrar nisso sua vida vai mudar.
POLARIZAÇÃO POLÍTICA A gente precisa parar com essa besteira e olhar para o outro, sem ele você não existe. Você não muda, não cresce. Sem opinião contrária você vira um imbecil. Você não têm nem a certeza do que você pensa, se é bom. Precisa ter críticas, conflito, opiniões divergentes para crescer. A medida que você cresce com o outro, você cresce com você mesmo. E essa é uma das propostas da trama.
REPRISE DE ‘POR AMOR’ Às vezes assisto à novela, tem outro ritmo. O público sente saudade das novelas [antigas], hoje são muito rápidas. Faziam cenas com mais emoção, não entravam em neura das novas mídias. Hoje se ficar dois segundos [numa cena] você já perde o interesse. Outro dia vi uma cena minha com a Regina Duarte de 15 minutos conversando na cama. Duvido que alguém tenha desligado a TV. Dava tempo de entrar na problemática do personagem.
AGILIDADE DE HOJE Sabemos que se você está acostumado a girar com o dedinho para ter informação a cada três segundos, ver imagem por mais de cinco segundos já vai ser cansativo. Isso é um sintoma ruim porque perde o interesse e só quer saber de coisa superficial. E assim você está perdendo coisas na vida que não são superficiais.
SUCESSO É continuar trabalhando e fazendo coisas sabendo que todos vão assistir e vão gerar interesse. Espero que todos se interessem por ‘Bom Sucesso’.
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