Globo abrirá mão da exclusividade sobre todas as estrelas da casa
Em reunião com elenco, o diretor Ricardo Waddington exaltou planejamento, contratos por obra certa e a 'liberdade' de ir e vir
Já é assinante? Faça seu login
Continue lendo com acesso ilimitado.
Aproveite esta oferta especial:
Oferta Exclusiva
6 meses por R$ 1,90/mês
SOMENTE ESSA SEMANA
ASSINE A FOLHACancele quando quiser
Notícias no momento em que acontecem, newsletters exclusivas e mais de 200 colunas e blogs.
Apoie o jornalismo profissional.
Diretor de Entretenimento da Globo, Ricardo Waddington reuniu o elenco de atores que ainda têm contrato exclusivo com a casa, para comunicar que a empresa não mais adotará esse modelo que sustentou boa parte de suas produções desde os anos 1970, quando a empresa começou a investir em profissionais com exclusividade.
Ainda há contratos a vencer pelos próximos três anos. Assim que esses acordos acabarem, as renovações serão pontuais, apenas para quem já tiver oferta para outros trabalhos nos Estúdios Globo, que abrangem os canais aberto e pagos, além do serviço de streaming do grupo.
Ao fim dos contratos longos ainda vigentes, as renovações atenderão exclusivamente ao período combinado para o trabalho (ou os trabalhos) a seguir. Um ator já escalado para duas séries, uma novela e um filme, como é o caso de Fábio Assunção, por exemplo, pode emendar um trabalho no outro quase sem intervalo. Esse é um contratado com acordo exclusivo até o fim de 2023, com prorrogação a combinar até o fim de 2024.
O painel descrito por Waddington dá ao elenco, à empresa --mas também à concorrência-- mais espaço para organização e planejamento, além da perspectiva de liberdade de mobilidade para os talentos da casa em um mercado hoje bastante aquecido pelo streaming.
Netflix, Amazon Prime Video, HBO, Paramount e outras plataformas vêm ampliando como nunca a produção de dramaturgia de séries, filmes e até novelas fora da Globo, historicamente líder de audiência e de produção de conteúdo nacional nas telas.
No seu discurso, Waddington fez questão de sublinhar que esse contexto libera todos a se planejarem melhor para contemplarem seus objetivos e convites recebidos para trabalhos de outras empresas. Isso evitaria profissionais presos a contratos por longos períodos fora do ar.
O posicionamento do diretor também visa a enterrar uma antiga lenda que dizia que quem saísse da Globo poderia não mais encontrar portas abertas para um possível retorno, como rezava uma forma de represália de um passado distante.
Apesar do aparente clima de aceitação entre os presentes, o recado não foi tão bem recebido como pareceu aos olhos do chefe. Houve quem saísse de lá comentando entre colegas que foi uma espécie de "demissão coletiva" anunciada sob outra nomenclatura. Na prática, afinal, significa o fim de férias remuneradas, já que os contratos por longos prazos permitem que os atores recebam salário mesmo fora do ar.
A Globo é a última empresa do segmento a manter contratos longos com atores. SBT e Record já abandonaram a prática há anos. E as plataformas de streaming sempre trabalharam por obra certa.
De todos os atores que deixaram o elenco fixo da Globo nos últimos quatro anos, só Lázaro Ramos e Ingrid Guimarães aderiram a outro modelo de exclusividade, com três anos de acerto com a Amazon Prime Video. De toda forma, ambos mudaram de estação com projetos previamente planejados com a nova casa, dentro do mesmo conceito que a Globo pretende trabalhar.
Entre os nomes garantidos até 2025 na Globo, estão Marina Ruy Barbosa, Osmar Prado, Taís Araújo e Alanis Guillen, a Juma de "Pantanal", que acaba de assinar acordo de exclusividade por três anos.
Até dois anos atrás, a emissora ainda planejava manter um pequeno grupo de grifes sob exclusividade, mesmo que de modo bem mais reduzido do que nos tempos em que não enfrentava a concorrência de grupos gigantes de conteúdo audiovisual.
PARA FECHAR A CONTA
A Globo cresceu e se estabeleceu trabalhando com elenco exclusivo. Abrir mão desse modelo, agora, significa sobretudo uma larga economia para os cofres da emissora. Passa a valer para todos o desfecho acordado com nomes como Antonio Fagundes, Vera Fischer, Grazi Massafera, Glória Menezes, Camila Pitanga, Juliana Paes e outras tantas estrelas que deixaram a casa nos últimos anos.
Em curto e médio prazo, grifes como Glória Pires, Tony Ramos, Andréa Beltrão, Mateus Solano, Regina Casé, Adriana Esteves, Marco Ricca, Vladimir Brichta e Mariana Ximenes poderão estar livres para atuarem nas várias plataformas de streaming que hoje concorrem com o GloboPlay, disputando uma massa de público bastante relevante para o mercado do audiovisual.
O encontro incluiu apenas atores e diz respeito à dramaturgia. Roteiristas e diretores não foram convocados para a ocasião, lembrando que só neste ano a emissora já abriu mão de cinco profissionais de direção de séries e novelas, a saber: Maurício Farias, Rogério Gomes, Marcelo Travesso, Vinicius Coimbra e Maria de Médicis.
OUTRO LADO
Procurada, a Globo se manifestou sobre a reunião desta quinta por meio de nota enviada por sua assessoria de imprensa:
"Não é verdade que a Globo tenha feito uma reunião para falar de contratos com o elenco, mas esse foi, sim, um dos assuntos abordados. Com clareza e transparência, como é a tônica da relação que tem com seus funcionários. Também não é verdade que a Globo deixará de ter contratos por prazo longo. Como você sabe, a Globo tem ajustado seus modelos de contrato às dinâmicas do mercado, com a possibilidade de fazer contratos por obra ou por período (prazo longo), de acordo com o planejamento de projetos.
Entendemos que isso é bom para a Globo, para o mercado e também para os profissionais, pois é uma dinâmica que permite mais liberdade e flexibilidade a todos. E flexibilidade significa oportunidade de experimentar, de testar, de inovar e de desenvolver, novos formatos, novas linguagens, novas narrativas, novas soluções. Acreditamos que isso enriquece a nossa relação com os talentos e fomenta ainda mais o mercado audiovisual brasileiro."