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Zapping - Cristina Padiglione

Globo já abriu mão de 5 profissionais que receberam o Emmy

Novo modelo de gestão do grupo afeta especialmente a área de criação

Aguinaldo Silva aparece com os dois troféus Emmy
Aguinaldo Silva aparece com os dois troféus Emmy - Reprodução
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A saída de Alcides Nogueira do time exclusivo de dramaturgos da Globo, anunciada na última semana, representa a quinta dispensa de um profissional que abasteceu a galeria da casa com estatuetas do Emmy Internacional. No caso dele, o troféu veio pelo remake de "O Astro", em 2012, a partir da obra de Janete Clair.

Autor de "Tempo de "Amar", da adaptação de "Ciranda de Pedra", das minisséries "Um Só Coração" e "JK" (ambas ao lado de Maria Adelaide Amaral), e de "I Love Paraisópolis", que assinou com Mario Teixeira, Nogueira ficou na casa por 40 anos.

Agora, eventualmente, se vier a trabalhar para a Globo, será pago por obra certa, ou seja, apenas pelo trabalho a ser feito, como tem sido acordado com outros tantos profissionais que deixaram a emissora. Férias remuneradas são regalia cada vez mais rara na empresa e já inexistente na dramaturgia de outros canais e plataformas de streaming.

A Globo, que tanto aprecia a chancela do Emmy na hora de anunciar a autoria de alguma nova produção, já abriu mão de exclusividade sobre outros quatro profissionais de criação: Aguinaldo Silva, que tem um Emmy por "Império" e outro por "Laços de Sangue", coprodução da Globo em Portugal; João Ximenes Braga e Cláudia Lages, vencedores do prêmio por "Lado a Lado", e Rogério Gomes, diretor de "Império", ainda nos créditos de "Pantanal" como diretor artístico.

TIME DESFALCADO

Fora esses, o núcleo de dramaturgos da Globo perdeu, em cinco anos, nomes como Elizabeth Jhin, que assinou novelas de grandes audiências na faixa das 18h, sob o pretexto da aposentadoria, assim como Walther Negrão, outro hit do horário.

A lista se estende a Luiz Fernando Carvalho, diretor que inovou a linguagem pasteurizada da teledramaturgia com obras como "Renascer", "O Rei do Gado", "Os Maias", "Hoje é Dia de Maria", "Capitu", "Velho Chico" e "Dois Irmãos". Atualmente, ele dirige uma série para o bicentenário da Independência na TV Cultura, com outros egressos da Globo, como Antônio Fagundes e Daniel de Oliveira.

O time de medalhões de texto foi também desfalcado pela morte de Gilberto Braga, em outubro passado, mas mesmo ele já tinha tido dois projetos engavetados pela direção da emissora. E não custa acrescentar ao elenco de autores, um grupo tão restrito ao longo de 40 anos, o nome de Silvio de Abreu, que desde 2013 já não escrevia nada novo, tendo passado a trabalhar apenas na supervisão de obras alheias, que hoje dá expediente na WarnerMedia, supervisionando projetos de toda a América Latina.

NOVOS TEMPOS

Entre os mais veteranos, seguem contratados Manoel Carlos, recluso desde 2014, quando terminou sua última novela, "Em Família", e Benedito Ruy Barbosa, cujo acordo foi renovado para contemplar a realização do remake de "Pantanal". Nem tão antigos, mas longe de serem calouros, estão Walcyr Carrasco, Glória Perez, João Emanuel Carneiro, Mario Teixeira, Ricardo Linhares e Maria Adelaide Amaral.

Lícia Manzo, Duca Rachid, Thelma Guedes e Manuela Dias são da turma a seguir, imediatamente anterior aos nomes lançados mais recentemente, como o próprio Bruno Luperi, agora escrevendo com maestria o novo "Pantanal", e Alessandra Poggi, que também voa em ótima performance com "Além da Ilusão", sem falar em Alessandro Marson, Thereza Falcão e tantos outros.

O novo modelo de gestão da Globo acaba por afetar de modo crucial a área de criação, ampliando o leque de opções e reduzindo a dependência de um grupo de elite, como aconteceu até um passado recente. Mais do que um capricho de modernização, a renovação de roteiristas se mostra agora necessária para honrar a demanda de novelas e séries após tantas perdas relevantes.

A alta direção da Globo também busca mais subserviência dos profissionais que chegaram à empresa de dez anos para cá, que devem se adaptar a interferências e imposições que os mais velhos nem sempre recebiam bem, habituados que eram a um mundo onde lhes cabia a última palavra em suas obras.

E nem todos ingressam agora nesse universo com as benesses de um contrato longo, com férias remuneradas garantidas.

Zapping - Cristina Padiglione

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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