Filme 'Quem Vai Ficar Com Mário?' mostra que amor não tem gênero
Com trilha de Pabllo Vittar, longa traz Daniel Rocha, Letícia Lima e Felipe Abib
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A comédia romântica “Quem Vai Ficar Com Mário?" (2019) estreia nesta quinta-feira (10) com a missão de transmitir a mensagem de que amor não tem gênero e preconceito é coisa do passado. Dirigido por Hsu Chien, 53, o longa-metragem conta a história de Mário (Daniel Rocha), um escritor que enfrenta seus desafios para, enfim, encontrar coragem para ser feliz.
Baseado no longa italiano “Mine Vaganti” ("O Primeiro que Disse", 2010), de Ferzan Özpetek, a história mostra o protagonista voltando para sua casa no Rio Grande do Sul para contar ao pai, Antônio (Zé Victor Castiel), um homem preconceituoso e conservador, que não irá seguir carreira na administração e, sim, como dramaturgo, e que encontrou seu grande amor, Fernando (Felipe Abib).
Antes de falar com seu pai, porém, Mário descobre que seu irmão mais velho, Vicente (Rômulo Arantes Neto), é gay. Ele decide não contar a verdade e passa a trabalhar na fábrica de cerveja da família, com uma coach empresarial, Ana (Letícia Lima), por quem ele também se apaixona e, assim, descobre ser bissexual.
Em entrevista ao F5, Hsu afirma que já conhecia a história original e foi convidado pelo produtor Pedro Rovai (1938 - 2018), de "Tainá" (2011), para realizar a obra. Para ele, o maior desafio foi trazer temas como machismo, homofobia e preconceito “sem perder a ternura de uma comédia.”
Protagonista, Daniel Rocha, 30, sente a bissexualidade como uma questão ainda mal vista. "Falam que o bissexual é um gay enrustido, mas não!”, afirma o ator que está em reprise com a novela “Império” (Globo, 2014). “É importante falar que existe e é possível e todos nós podemos a qualquer momento nos apaixonar”, diz ele, “somos abertos.”
Ao perceber certa distância do namorado, Fernando e a companhia teatral para qual Mário escreve, a Terceira Força, dedicada à resistência do movimento LGBTQIA+, viajam para o Rio Grande do Sul a fim de entender como o relacionamento dos dois irá ficar. Seus companheiros, Lana de Holanda (Nany People), Xande (Nando Brandão) e Kiko (Victor Maia), precisam fingir ser uma família completamente tradicional.
Para Felipe Abib, 38, a necessidade de ter rótulos se transfere na sociedade e cria pessoas infelizes. “Estamos falando que não existe um molde para amar”, completa. Rocha ressalta que o filme é uma ferramenta para dialogar com as pessoas que ainda não respeitam essa pluralidade.
Abib e Rocha contam, em entrevista ao F5, que o final foi construído juntamente com o elenco. “Nós queríamos que fosse tudo possível”, diz Rocha. "Nunca aconteceu isso comigo", completa ele sobre a mudança no roteiro —desenvolvido por Stella Miranda, Luis Salém e Rafael Campos Rocha.
Hsu ressalta que os atores estiveram presentes em cada parte da produção. “Foi importante trazer vozes para o roteiro”, afirma o diretor. Nany People, 55, lembra que apenas aceitou o convite para estar no filme após sugerir alterações no roteiro. “Tinham algumas piadas meio grotescas no Terceira Força”, afirma.
A atriz, Nando Brandão, 34, e Victor Maia, 33, relembram que a amizade e química entre os três foi instantânea. Os artistas já haviam trabalhado em teatros, e para Nany a vivência teatral, “a carpintaria”, foi essencial para a relação ser tão fluída e verdadeira. “Foi um encontro de gerações, de tudo! Tinha a fauna, a flora e a primavera.”
Em meio às discordâncias e preconceito da família, o filme também acrescenta a história da irmã de Mário e Vicente, Bianca (Elisa Pinheiro), uma mulher que luta para encontrar seu espaço e ter sua opinião escutada, sem deixar de dar apoio aos irmãos. "Ainda vivemos em um país muito misógino", diz Pinheiro.
Bianca sempre quis comandar o negócio da família, mas não era ouvida pelo seu pai. Na adaptação, a história mostra uma família dona de uma fábrica de cervejas, para causar identificação no público brasileiro. Hsu conta que no filme original, a família era dona de uma fábrica de massas.
Para Elisa Pinheiro, Bianca busca o empoderamento sem renunciar à delicadeza ou feminilidade. “A situação faz com que finalmente ela sinta a força para falar com toda a propriedade que ela tem."
Victor Maia aponta que o filme traz a importância da família e, sobretudo, do apoio dela na vida de pessoas LGBTQIA+, em especial no Brasil que ainda é um dos países que mais mata os membros da comunidade. "É um trabalho tão poético e bem feito. Ele respeita todas as siglas."
O ator ressalta que ainda sofre com a homofobia, e muitas vezes tem medo de sair na rua e ser atacado. “Isso reitera a importância do filme e de respeitar todas as formas de amar, porque o amor não tem gênero."
Nany diz ter sofrido preconceitos a vida inteira e que o discurso preconceituoso não muda. "A melhor resposta para o desaforo é o seu trabalho", diz. "Quem tolera não aceita, engole. Então é muito importante esse filme vir com esse discurso alegre porque mostra que é viável ser quem você é sem se programar para as queimadas que a vida manda o tempo todo.”
Além de abordar temas fortes de forma leve, a produção conta com uma versão da música “O Menino e o Espelho”, cantada na voz de Pabllo Vittar, exclusivamente para a trilha sonora do filme. A mensagem principal da canção é “tenha coragem para ser feliz”.
Para Abib, o filme irá “fazer a informação chegar de uma maneira adocicada”, diz, “com uma representação do que está ao redor das pessoas”. Pinheiro completa: “Espero que o filme atinja quem está mais duro e fechado, porque não tem razão para ter preconceito.”
Hsu afirma que a obra foi pensada para o formato das telonas e que agora a principal missão da produção é “trazer de volta o sorriso das pessoas”. O diretor ainda cita uma frase em memória do humorista Paulo Gustavo, morto em 4 de maio em vítima da Covid-19: “Rir é um ato de resistência. Essa é a frase que virou nossa luta."