Por modismo ou por identificação, marcas abraçam variações do ideal de diversidade
O pontapé foi na Europa, ainda nos anos 1990, mas só agora a moda internacional e a brasileira começaram a entender que apenas um padrão de beleza, branco, magro e jovem não faz verão.
No segundo dia da São Paulo Fashion Week, grifes quiseram mostrar que estão na crista da onda da diversidade e da beleza sem retoques ao apostarem em questões de pele, do albinismo ao vitiligo.
Raquel Davidowicz, da grife Uma, repetiu a fórmula da temporada passada e colocou a ex-modelo Suzana Kertzer, 67, no casting de seu desfile matinal na Japan House, na avenida Paulista, para uma plateia de clientes da mesma faixa etária da top.
Poucas grifes no país estampam a terceira idade em sua imagem de moda, receita que ganhou força em 2015 na Europa. O tom da experiência ocupava a coleção da Uma.
Davidowicz evoluiu sua moda de galerista, com muito P&B, um tom de damasco aplicado em saias, tops e macacões, e peças inspiradas na obra do pintor Cy Twombly.
Os grafismos que identificam o artista americano serviram de estampa para vestidos de linhas sinuosas e detalhes assimétricos nas barras das saias.
ROSA 'MILLENNIAL'
Paula Raia, por sua vez, colocou uma modelo albina entre as tops de sua coleção, etérea e bege como sua moda da estilista. É surpresa que Raia, pouco afeita a belezas fora do padrão internacional, tenha olhado para traços fora de sua linha de trabalho.
Soa mais como uma adequação ao novo "hype", impressão que fica mais evidente quando se olha a cartela de cor usada nas peças: tudo rosa. Ou melhor, rosa "millennial", do tom desbotado que virou tintura de fashionista.
Há pouco ou nada a falar sobre o desfile, que incomodou muita gente pelo capricho da estilista de permitir que poucos entrassem por vez na sala tomada pelo incenso.
Mais sincera foi a capixaba Paula Hermanny, que assume na passarela da Vix a predileção por corpos bronzeados, loiros e europeizados. A coleção praia, repleta de biquínis de crochê e maiôs asa-delta, é visivelmente projetada para corpos sarados.
JESUS EUROPEU
A idealização de diversidade também chegou à publicidade. Na próxima campanha da Cavalera, transexuais, rastafáris, negros e um modelo com vitiligo dividem a cena.
"O não convencional, para mim, é o convencional", diz o dono da marca, Alberto Hiar.
Entre os escalados está Sam Gonçalves, 23, que tem vitiligo desde os 12 anos. "Comecei a me reconhecer como gente de verdade quando conheci pessoas como eu. É muito bom que haja esse entendimento da indústria, porque nem todo mundo tem cara de Jesus europeu", diz ele.
Nos corredores da Bienal, onde ocorre a maioria dos desfiles, a lógica se repete. A Natura convidou 16 pessoas de diferentes Estados para criar roupas para si. Na quinta (31), último dia do evento, as peças serão desfiladas pelos criadores, que incluem um transgênero, mulheres obesas e uma cadeirante.
PROFANO
João Pimenta mostrou todo seu domínio sobre a imagem; céu e inferno foram bordados, tricotados, estampados e tingidos de sangue; padres punks e anjos amordaçados criaram um fetichismo angelical poderoso
Colaborou BEATRIZ FIALHO
2º DIA DA SPFW
Uma
AVALIAÇÃO muito bom
Paula Raia
AVALIAÇÃO regular
Vix
AVALIAÇÃO bom
Fabiana Milazzo
AVALIAÇÃO bom
João Pimenta
AVALIAÇÃO muito bom
Lilly Sarti
AVALIAÇÃO regular
Triya
AVALIAÇÃO bom
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