'A Regra do Jogo' mostra potencial pra ser a nova 'Vale Tudo'
A expectativa era muita, mas se cumpriu. Foi um belo primeiro capítulo esse de "A Regra do Jogo", de João Emanuel Carneiro. Sem querer botar lenha na fogueira da expectativa (mas já botando), esse começo de história tem potencial para uma nova "Vale Tudo": uma novela que capta bem o espírito do tempo e a profunda crise moral do brasileiro hoje.
Para os próximos capítulos, é bom lembrar da frase mais significativa que Carneiro falou nas entrevistas que deu à imprensa esta semana: "A Regra do Jogo" é mais "A Favorita" do que "Avenida Brasil". A nova novela começou com Juliano (Cauã Raymond) saindo da cadeia depois de quatro anos, gritando que não cometeu crime nenhum. É bom desconfiar: Flora (Patrícia Pillar), em "A Favorita", saiu da cadeia dizendo a mesma coisa.
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Cada um dos três protagonistas ficou com um pedaço do capítulo. A tal da ambiguidade de Romero Rômulo (Alexandre Nero) apareceu de forma espetacular. Romero comandou na frente da polícia a liberação de reféns num grande assalto. Primeiro, uma parte dos reféns mostrou que não era bem refém e ajudou os líderes da quadrilha a raspar o banco. Depois, o próprio Romero mostrou que estava do lado dos bandidos e ficou com parte da grana. Flora demorou muitos capítulos para mostrar que era uma criminosa; Romero já mostrou a que veio no primeiro capítulo. (E o que foi aquele beijo de língua na estátua do corredor do prédio pra comemorar? Ousadão.)
Isso tudo depois de Romero defender em tribunal um ex-traficante de drogas dizendo: "Deem uma chance ao Dênis. Por que não dizer, deem uma chance ao Brasil". Dênis, claro, participou do golpe depois. Do lado político, foi um prato cheio pros reaças e leitores da Veja: "tá vendo? Esse povo que defende os direitos humanos tá do lado é dos bandidos". A ver nos próximos capítulos.
O drama de Tóia (Vanessa Giácomo) lembrou as melhores novelas de Gilberto Braga nos anos 80. Raspou as economias para pagar a cirurgia da mãe (Cássia Kis), tomou um golpe de um falso médico que lhe roubou tudo e precisou roubar a chefe (Susana Vieira) pra honrar a dívida. Depois, confessou tudo. Novela boa assim: pobre bom e honesto rende melhor em dramaturgia se come o pão que o diabo amassou e enfrenta os dilemas éticos mais agudos.
A parte mais fraquinha ficou com a trambiqueira Atena (Giovanna Antonelli), a golpista que ferrou a falsa amiga roubando o cartão e gastando tudo o que ela tem, pra depois ainda dar um boa noite Cinderela e ficar com a mansão da grã-fina. O povo do cinema e da TV já anda comentando nas redes que a personagem é inspirada demais na diretora da novela, Amora Mautner. Mas o problema nem é esse. Nesse começo, Giovanna está histérica demais, afobada demais, querendo emplacar demais aquela gargalhada louca, engolindo as palavras - às vezes não dava pra entender o que ela falava.
PS: Por falar em Amora Mautner, a tal da direção inovadora, cheia de improvisos dos atores, ainda não mostrou a que veio. Mas calma, né? Temos oito meses pela frente. Que "A Regra do Jogo" emplaque e não perca dois meses que nem "Babilônia".
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