'Mania de Você' é um carro desgovernado à procura de estacionamento
Mas novela é como sexo consensual: mesmo quando é ruim, tem sempre algo bom
O que está acontecendo com "Mania de Você"? A novela das nove é um carro totalmente desgovernado, procurando um estacionamento para parar. A anunciada nova fase da novela, que começou no último dia 11, só botou o pé no acelerador e triturou ainda mais seus personagens.
Viola já trabalhou em muitos restaurantes provando o seu talento, mas bastou uma fake news bem plantada por Mavi para uma multidão de fotógrafos e câmeras maior que a do Festival de Cannes aparecer em Angra para cobrir a derrocada da chef.
Se nem no Rio de Janeiro existe tanta imprensa para cobrir um evento como o G20, foi difícil engolir aquela multidão de flashes para cobrir a derrocada da moça, que ainda deu uma violentíssima frigideirada na testa da rival Luma. Até Ana Maria Braga reclamou ao vivo da reviravolta.
Depois do abaixo-assinado na internet que pede a eliminação sumária de Rudá, a nova fase só piorou as coisas para o nosso pescador sem sal. Luma o sequestrou de helicóptero e o mandou para a remota IIha do Tucano, um lugar supostamente bem longe do resort da novela, mas onde há uma bela mansão pra abrigar o rapaz. Mesmo rodeado de mordomias, ele passou os últimos capítulos chorando que quer sair dali, sem ser atendido pela ex-namorada.
Cadê os famosos?
Me parece que ainda falta à direção da novela entender uma coisa: o público precisa de ao menos um punhado de atores conhecidos, desses com mais de 20 anos de novela nas costas, para se conectar e torcer. Ao contrário do habitual na Globo, "Mania de Você" não tem mais nomes fortes do que as tramas das seis e das sete.
Se "Garota do Momento" conta com Lilia Cabral, Fábio Assunção e Letícia Colin e "Volta por Cima" tem Betty Faria, Drica Moraes e Isabel Teixeira, a novela das nove conta só com Adriana Esteves na história principal —OK, vamos considerar também Eliane Giardini e Mariana Ximenes no meio de campo da comédia. Mas é muito pouco.
Para salvar a novela das nove, o negócio era botar uma Malu Mader, uma Cláudia Abreu, uma Susana Vieira, um Tony Ramos, qualquer um que o público conhecesse há décadas e amasse de cara.
Mas o autor João Emanuel Carneiro dobra a aposta no sentido oposto: enche a novela de capangas, de figurantes, gente que nunca vimos na vida. Depois de ser assaltada, Viola foi parar num abrigo cheio de órfãos desconhecidos que parecem saídos do filme "Os Garotos Perdidos". Quando as cenas rolam só entre essa galera novata, sem nenhuma experiência em novela, não há o que segure o interesse.
Pior é um bandidão velhaco e sujo chamado Grilo, que parece um primo distante do saudoso Nilo, o companheiro da Mãe Lucinda em "Avenida Brasil". Mas ali tínhamos José de Abreu e Vera Holtz, enquanto agora temos só um ilustre desconhecido.
O lado bom
Soma-se a isso uma infinidade de personagens que acompanhamos sem nenhum interesse: Fátima e sua paixão adormecida por tocar piano; Michele e seu namorado sofrendo na cadeia em Portugal; o malandro Iarley e suas mentiras para a família; o romance aguado entre Nahum e Moema, a "tia do Tarzan" Rudá.
Também demorou para o autor começar a reparar um grande buraco: desde que Molina morreu, Mércia (Adriana Esteves) ficou sem uma história amorosa para si, restringindo-se a ser mãe de Mavi. A coisa começa a mudar com a entrada do bonitão Volney (o português Paulo Rocha). Ainda precisamos aguardar para ver se a coisa engata.
Mas novela é igual sexo — mesmo quando é ruim, tem sempre alguma coisa boa para aproveitar. Dois atores estão no auge do talento e ainda valem ligar a TV toda noite.
Chay Suede está esplêndido como Mavi, um vilão que oscila entre a psicopatia, a carência extrema e um humor divertidíssimo de menino mimado. Já entrou para a lista dos grandes personagens de Carneiro, ao lado de Carminha e Flora.
E Thalita Carauta não perde uma cena como a malandra Leidi, subindo o nível de todos em volta que participam do golpe na milionária Berta.
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