Renato Kramer

'O brasileiro é hipócrita', afirma Emilio Orciollo Netto, que vive homossexual no teatro

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"O ator é um grande mentiroso quando está no palco. Se ele não mentir, ele não acontece", declarou Emilio Orciollo Netto logo no início do "Marília Gabriela Entrevista" (GNT) que foi ao ar no último domingo (2).

"Ele conta mentiras, então ele tem que viver uma mentira na maior verdade possível", acrescenta Orciollo. Mas faz uma ressalva: "Tem muitos atores que se colocam acima dos personagens, você vê o ator e não vê o personagem, eu particularmente não acho isso interessante", declarou.

E concluiu: "Quanto mais você puder virar o personagem, e mesmo assim colocar o seu depoimento pessoal como artista, aí eu acho que é o comecinho de uma grande mentira!".

Aos 15 anos ganhou o prêmio de ator revelação em um festival de teatro amador e foi incentivado a estudar teatro por uma importante jurada: a grande atriz Lélia Abramo (1911-2004). Aos 18, Emílio ingressou na EAD (Escola de Arte Dramática da USP), onde se formou ator profissional.

"Quando eu resolvi fazer teatro o meu pai não gostou, não", confidenciou o ator. "Ele me disse: meu filho, faz uma coisa que te dê dinheiro, tenha uma profissão de verdade!". Por via das dúvidas, Orciollo formou-se em administração. "Mas hoje em dia o meu pai é o meu maior fã, meu maior amigo", declarou.

"O teatro me tirou das drogas, da vagabundagem, da preguiça, das coisas ruins...", ia dizendo o ator quando Gabi interveio: "Que seriam possíveis ou que aconteceram pra você?". "Tudo acontece na vida de um jovem, tudo num determinado momento, mas o teatro te dá disciplina, te dá responsabilidade. Outro dia eu escutei: o teatro não é pra amador, não, é pra profissional", explicou.

Falando de como conduz a sua carreira, o ator esclarece: "Na televisão, na maioria das vezes, não te chamam pra você fazer o personagem que você quer, é quase impossível. Mas no teatro você escolhe com quem você trabalha, você escolhe o texto que vai fazer. Eu produzo meus espetáculos, eu não fico esperando o convite aparecer. Eu crio as oportunidades, vou atrás dos personagens que eu quero fazer".

Entre os atores que admira, Emílio destacou o trabalho de Antônio Calloni com quem gravou recentemente a série "Dois Irmãos", baseada no livro homônimo de Milton Hatoum, sob a não menos elogiada direção de Luiz Fernando Carvalho. "Tudo o que ele faz é deslumbrante!", observa Gabi. "Eu saí completamente modificado desse trabalho", confessa Orciollo sobre a série que ainda não tem data para estrear na Globo.

Falando em estreia, Orciollo fez a sua na televisão como Giuseppe Berdinazzi em "O Rei do Gado", também sob a direção de Luiz Fernando Carvalho.

O ator deu destaque também a sua participação no filme "Por Trás do Céu", de Caio Sóh, para o qual mandou serrar um dente para caracterizar melhor o seu personagem Edvaldo. "Esse roteiro é um presente para qualquer ator", declara Orciollo que também entrou na produção do filme. "Esse filme é um filho pra mim!", confessa o ator, que só usa cuecas vermelhas por uma superstição que aprendera com o colega Fafá (Antônio Fagundes).

Atualmente, está trabalhando na peça "Família Lyons", de Nicky Silver, sob a direção de Marcos Caruso. "Eu faço o Curtis, que é um homossexual que não é aceito pelos pais, que sofre homofobia... A gente vive hoje um mundo...". "Como você descreveria esse momento social que a gente vive?", corta Gabi.

"Péssimo, péssimo!", respondeu Emilio Orciollo Netto enfaticamente. "Preconceituoso, careta, retrógrado!", acrescentou. "Você atribuiria isso a quê? O brasileiro sempre gostou muito de posar de liberal!", insiste a jornalista. "O brasileiro é hipócrita! Quando chega a hora do 'vamos ver' são quinze passos pra trás!". "Eu acho um momento tristézimo!", arremata Gabi.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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