Renato Kramer

'Eu acho que me baixou um encosto que já veio com esse nome', revela Fernanda Montenegro sobre nome artístico

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A grande dama das artes cênicas Fernanda Montenegro foi o destaque das entrevistas reprisadas (19.set.2002) no "Programa do Jô" (Globo) desta segunda-feira (1º).

"Como é que a Arlete Pinheiro da Silva se transformou em Fernanda Montenegro —quem é que deu esse nome tão abençoado?", quis saber Jô Soares.

"Eu acho que me baixou um encosto que já veio pronto com esse nome!", responde Fernanda com humor. "Porque como eu tinha que escrever e ser locutora na rádio, eu inventei esse nome. Esse nome não existe, foi inventado. E foi esse nome que pegou, aí eu assumi. Tudo bem, baixou, estou aqui, a dona Arlete aguenta!", conclui.

"Alguém ainda te chama de Arlete? Ninguém mais, né?", questiona Jô. "Os meus familiares mais próximos", responde Montenegro. "E na rádio você fazia locução, fazia também rádio-teatro?". "Eu fazia teatro, locução, redação... trabalhei dez anos em rádio e me foi de grande utilidade", confidencia a atriz.

"Como era o rádio-teatro?", pergunta o apresentador. "Rádio-teatro é o imaginário por excelência. Através daquelas vozes você põe o homem que você quer, a mulher que você quer naqueles diálogos de amor. A rádio faz um trabalho cultural muito grande. Foi uma escola", afirma Fernanda.

"E era ao vivo?", pergunta Jô. "Era ao vivo", concorda a atriz. "E além das novelas de rádio tinha também espetáculos, faziam peças de teatro também, não faziam?". "Sim, lá a gente fazia adaptação de romances, de contos, vidas de autores, de compositores... era um maciço trabalho de cuidados culturais", esclarece Fernanda.


"Quantas horas por dia você trabalhava?", pergunta o entrevistador. "A gente ia para lá cedo e trabalhava até tarde", relembra Fernanda. "Porque quando a gente é jovem e tem oportunidade, a gente trabalha com alegria. Eu trabalhei com o Chico Anysio na rádio Guanabara em 1948, ambos tínhamos 17 anos. Nós éramos tão alegres... acreditávamos tanto que a gente ia conseguir alguma coisa nessa vida!". "E estavam certos!", arremata Jô.

"E teatro? Eu conheci você, eu estava começando e vocês me botavam para fazer alguns espetáculos do Grande Teatro Rio de Janeiro", recorda Jô. "É verdade!", concorda Montenegro. "Manoel Carlos escrevia", ressalta o apresentador. "Manoel Carlos escreveu tudo!", acentua Fernanda. "Tinha a direção do Sérgio Britto, às vezes do Flávio Rangel...", comenta o apresentador. "E do Fernando [Torres]: era o trio dos nossos diretores. Mas isso é a nossa pré-história!", solta a atriz.

"Pré-história recente!", argumenta Jô. "São 40 anos!", exclama Fernanda. "Então, não é nada! Eu estou com 48", brinca o apresentador. "Eu estou com 28", retruca La Montenegro. "Eu adoro o Jô porque ele não esconde o passado da gente. Ele tem uma memória bonita do nosso passado", comenta a atriz. "Mas é porque o seu passado é presente!", replica o apresentador e é aplaudido pela convidada.

"Sempre quando a gente chega aqui (no programa) a gente fica um pouco tensa. Eu sou uma criatura tensa! Eu procuro me controlar, já melhorei muito, mas a pressão da vida te estimula a esse tipo de coisa", confessa Fernanda. "Eu não sou tenso, mas eu sou ansioso", diz Jô. Ao que Fernanda volta a afirmar: "Eu não sou ansiosa, eu sou tensa!".

"Porque quer queira quer não, você tem que ter um desempenho. Isso você não tenha dúvida nenhuma! As pessoas que sentam aqui tem que agradar a todos os bilhões de telespectadores e também aos que estão aqui presentes. Então eu sempre tento me segurar para não fazer o desempenho —e se por acaso desempenhei, vocês me desculpem!", pede a única brasileira a receber o Emmy de melhor atriz, além de ter sido indicada ao Oscar. A plateia do Jô ovaciona Fernanda Montenegro.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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