Renato Kramer

Não se fazem mais concursos de miss como antigamente?

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Neste sábado (9) à noite, não mais que de repente, zapeando na TV aberta, dou de cara com a apresentadora e ex Miss Brasil Renata Fan, com um vestido bege nude com um decote generosíssimo e os cabelos escorridos estilo "acabei de lavar e passei um bom creme", com uma expressão de muito encantamento no sorriso e no arregalar dos seus verdes olhos. Ela estava apresentando o concurso estadual Miss São Paulo 2014, direto do Palácio das Convenções Anhembi (SP).

E no palco já desfilavam as quinze finalistas que, em questão de minutos, já eram apenas dez. A animação de Renata Fan não encontrava eco no acontecimento, embora o local estivesse com um bom público que, aos pedidos insistentes da apresentadora, se manifestava aqui e acolá a favor de suas candidatas. Um certo estranhamento pairava no ar.

As concorrentes fotografavam bem na telinha, em sua maioria. Difícil ao longe destacar alguma figura, já que os modelos dos vestidos – embora belíssimos e com uma assinatura de peso internacional, pareciam todos da mesma coleção e muito uniformes. Esse trabalho de rendas irregulares com brilhos aqui e ali sobre uma segunda pele, promovendo muita transparência, parece já ter sido esgotado.

E tudo muito pastel, do evento às cores dos longos: verde água, rosa velho, azul bebê, nude dourado. Vontade de ver entrar de repente um daqueles modelos vermelho sangue, com muito tecido, muito movimento...ou um belo branco princesa tomara que caia, ou ainda um pretinho nada básico. Bem...nada grave.

Grave foi a escolha da atração musical para os momentos finais do evento: Valesca Popozuda com o seu hit "Beijinho no Ombro". Detalhe: cantado ao vivo. Não deu liga. Nada contra, apenas atração errada para o evento errado. Aquelas mães de miss com seus tailleurs pretos em suas pernas cruzadas e seus scarpins apertados estavam muito mais para ouvir algo tipo "Como cortar pela raiz se já deu flor...", com Sandy Leah.

E por mais que Renata Fan arregalasse os seus belos olhos verdes, a animação não acontecia. A essas alturas já eram apenas cinco as candidatas ao título máximo da beleza do Estado de São Paulo. Então vieram as temidas perguntas dos jurados. Temível foi a resposta de Miss Taquaritinga, ao ser questionada sobre o que faria se tivesse a oportunidade de se tornar invisível por um tempo: "Viraria um fantasma e assustaria todos os meus amigos!" (Tóin!). E o que foi feito da leitura obrigatória de "O Pequeno Príncipe" (Saint-Exupéry)?!?.

Elegante e comovente foi a despedida de Bruna Michels, Miss São Paulo 2013 – que estava belíssima e aproveitou para dedicar o título ao seu pai recém falecido e a coroa à sua mãe, que estava presente. Foi Bruna quem coroou a nova Miss São Paulo 2014 que, pela telinha, realmente era a candidata que mais atributos reunia: Fernanda Leme (Miss Ribeirão Preto).

A mais bela foi escolhida. Mas a sensação de estranhamento continuava. Faltava alma ao evento. Não se fazem mais concursos de beleza como antigamente? Interessa a alguém que os concursos de beleza retomem o glamour e toda a pompa e circunstância que já tiveram? As misérias humanas não são argumentos para que deixemos de valorizar o belo. A sabedoria está em dar o devido valor a cada coisa em seu devido lugar. Haja equilíbrio. Somos todos aprendizes.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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