Renato Kramer

'Transforme a sua dor em estética', sugere a preparadora de elenco de 'Tropa de Elite'

  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

O programa "Marília Gabriela Entrevista" (GNT) do último domingo (27) levou ao ar, com reprise na última terça-feira (29), a entrevista com a preparadora de elenco ("Pixote", "Cidade de Deus" e "Tropa de Elite") Fátima Toledo.

"Eu fiz 'Pixote' em 1980, e só fui ser reconhecida com 'Cidade de Deus' em 2001", comentou Fátima Toledo. "Os diretores de cinema já me conheciam, mas o grande público nem sabia que existia a preparação de elenco", concluiu.

"Quando é que você escolheu o que queria ser? Ou você sempre soube?", perguntou Gabi. "Não, eu não escolhi", respondeu Fátima, "o (Hector) Babenco foi quem me apresentou essa profissão". "Isso lá no 'Pixote', mas como você foi parar no teatro?", quis saber a entrevistadora.

"Eu queria ser atriz. Tinha uma curiosidade enorme. Então, quando eu fazia a faculdade de Comunicação Visual, o assistente do (Eugênio) Kusnet dava um curso de teatro, paralelo à faculdade", contou Toledo. "Eu fui fazer, me apaixonei e depois fui para o curso do Kusnet". "E como era ele?", perguntou Gabi. "Maravilhoso", respondeu Fátima. "O método dele era mais ou menos como o meu, só que ele trabalhava a construção do personagem, coisa que eu não trabalho", confidenciou a preparadora de elenco. "Mas um gênio, alguns exercícios dele eu uso até hoje".

Crédito: Ana Ottoni - 3.set.2002/Folhapres A professora de interpretação Fátima Toledo
A professora de interpretação Fátima Toledo

"Você queria ser atriz ou diretora?", questionou Marília Gabriela. "Atriz e diretora, na verdade. Eu até ia para Florença (Itália) fazer a escola de cinema, mas meu pai faleceu repentinamente um mês antes de eu partir e precisei ficar. Então, como todos os artistas que estão esperando dar certo trabalham em banco antes, fui trabalhar no Itaú e dar aulas de teatro na Febem", declarou Toledo.

"E como você foi parar na Febem?". "Eu namorei um rapaz que era músico e dava aulas lá. Eu lembro que no primeiro dia, sob aqueles olhares irônicos, eu só consegui dizer —gente, eu nunca dei aula pra bandido, estou morrendo de medo! Eles começaram a rir e quebrou um pouco o gelo", contou Fátima. Foi lá que o diretor Hector Babenco, já em processo de produção do filme "Pixote", descobriu Fátima Toledo e a convidou, ela e outros colegas, para prepararem um grupo de alunos cada. Quinze dias depois, Babenco retornou à instituição para ver o resultado e a contratou.

"Trabalhei direto com Pixote (Fernando Ramos da Silva - 1967 - 1987)", declarou Toledo. "Ele ficou perfeito no filme", comentou Gabi. "Mas não era ator", observou Fátima, "ele era um menino que vinha do universo sobre o qual o filme falava, mas não era ator", reafirmou. "Em 'Cidade de Deus' você trabalhou com todos os garotos?", perguntou a apresentadora. "Todos" confirmou a preparadora de elenco.

"E eles estão maravilhosos. Mas foi aí que surgiu uma crítica direta ao seu trabalho: esse é um método perigoso, porque você desestrutura alguém mas não devolve a pessoa para o lugar que estava, o que para jovens inexperientes pode ser muito perigoso, não?", colocou Gabi. "Imagina, eles saem tão felizes e suaves... Imagina, não!", protestou Toledo. "Principalmente a criança mais jovem, ela brinca, ela joga, ela sabe que aquilo é fictício!", argumentou a profissional que também preparou Wagner Moura para fazer "Tropa de Elite" (de José Padilha).

Ainda em relação ao método enérgico da preparadora —"Mas é preciso?", perguntou Gabi com ênfase. "Eu vou fazer aquela pergunta que o Laurence Olivier (1907 - 1989) fez uma vez para o Dustin Hoffman: por que você não tenta atuar em vez de ser?". "Olha o resultado do filme, essa é a resposta", limitou-se a dizer Fátima Toledo referindo-se à "Tropa de Elite" que, entre outros prêmios, ganhou o Urso de Ouro como Melhor Filme no Festival de Berlim - 2008.

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem

Últimas Notícias