Renato Kramer

'Eu achei que eles têm um olhar triste', diz Péricles sobre atores pornôs

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No novo quadro "Qual é?", do programa "Altas Horas" (Globo) deste sábado (21), Serginho Groisman entrevistou estrelas do cinema pornô nacional.

"Quantos filmes?", foi a primeira pergunta do apresentador para os atores Kid Bengala, Laisa Gregory, Alex Ferraz e Angel Lima. "Eu tô na faixa de 27 anos de carreira", respondeu Kid, "com 102 DVDs". Alex declarou estar há 16 anos no ramo, com cerca de 300 filmes. Laisa trabalha há quase dois anos e tem uns 7 filmes, enquanto Angel está apenas começando, mas já fez 5 filmes.

"Você ja fez tantos filmes", perguntou Serginho para Alex, "em cada cena tem prazer?". "A gente contracena com umas garotas lindas como essas (referindo-se às colegas presentes), então não tem como...mas chega uma hora, eu faço isso há 16 anos, que a gente pergunta: isso aí não vai acabar?", responde Alex.

Crédito: Divulgação/TV Globo/Zé Paulo Cardeal Serginho Groisman no palco do programa "Altas Horas"
Serginho Groisman no palco do programa "Altas Horas"

"Vai no automático? E como é que faz no automático?", quis saber Serginho. "Eu me controlo...quando tá chegando a hora, eu mudo o meu pensamento pra futebol, pra jiu jitsu e aí corta", explicou Alex.

"E esse nome Kid Bengala?", perguntou Groisman. "Eu fiz um ensaio fotográfico para uma revista na década de 90 que foi divulgado no Brasil inteiro. Aí um produtor, ao se deparar com aquele camarada bem dotado, me fez o convite. Aí eu falei: você não pode por o meu nome no filme. E ele: já sei, Kid Bengala! Aliás, quero mandar um grande abraço ao Carlo Mossy, o criador da fera!", contou o protagonista de "Piranhas do Caribe".

"Kid, você pegou a época do HIV, como foi?", perguntou Serginho. "Eu sou da velha guarda, acabei de fazer 59 anos. Sim, perdi muitos amigos na década de oitenta, noventa, entre homens e mulheres", respondeu Kid que já foi casado três vezes e tem três filhos: o mais velho com 34 e o caçula com 16. "O bengalinha?", perguntou Serginho. "Digamos que não", respondeu Kid Bengala rindo, "eles não puxaram o dote do pai!".

Para Angel, Groisman perguntou como foi fazer cenas de sexo com mulheres. "Foi estranho no início...mas depois comecei a gravar com outras e passei a sentir prazer", confessou a novata. Foi então que o veterano do grupo, o Kid, explicou o que viria a ser o DNA do ator pornô: "Pra ser ator pornô, a gente tem que gostar muito de sexo. Nós somos homens diferentes, temos muitos hormônios e pensamos nisso 24 horas por dia!".

"Teve algum pedido que você estranhou ou tudo o que te pediram pra fazer, nesses anos todos de cinema pornô, você fez?", perguntou o apresentador para Alex. "Outra linha que não fosse hétero eu não topei. Até porque eu moro em bairro, periferia, e isso não é bem visto lá", respondeu Ferraz. Pelo que o ator declarou, parece que a luta pela igualdade de direitos e pela diversidade ainda não fez grandes avanços na região periférica de São Paulo.

Serginho perguntou então à Laisa se houve alguma cena que tenha lhe parecido estranha. "Na verdade, quando eu fui gravar o meu primeiro filme, não tinham especificado que haveria sexo anal. E ter que fazer isso pela primeira vez num filme é complicado – e foi o que aconteceu comigo", conta a atriz em tom de queixume.

"Ganha-se bem como ator ou atriz pornô no Brasil?", questionou Serginho. "Não tanto quanto deveria", respondeu a moça que teve a sua primeira experiência em sexo anal no susto. "É bem ingrato esse meio, não dá pra viver só do pornô", decretou Laisa Gregory.

Para encerrar, o apresentador quis saber se os atores sofreram algum tipo de rejeição por parte de amigos ou parentes. "Algumas pessoas quando descobrem, passam a te olhar diferente, se afastam muitas vezes. Infelizmente o trabalho não é muito bem aceito e a gente acaba sofrendo um pouco de preconceito", queixou-se Angel Lima.

Ao voltar para o estúdio, o cantor Péricles pediu a palavra para dar as suas impressões sobre a entrevista. "O universo deles é mesmo para quem gosta de sexo além do normal, e aceita qualquer coisa por isso. A linha deles entre gostar muito de sexo e ser viciado em sexo é muito tênue", argumentou o cantor. "Eu achei que eles têm um olhar triste", observou Péricles, "algo muito forte com a rejeição das pessoas ao redor".

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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