No "Sai de Baixo Especial" (Canal Viva) desta terça-feira (18), a grande homenageada foi a Jovem Guarda.

E quem saiu ganhando foi o telespectador que pode ouvir piadas leves, outras apimentadas, mas todas descompromissadas com a chatice do "politicamente correto".

Já na abertura, o nórdico personagem Caco Antibes (Miguel Falabella) solta os cachorros na empregada Neide Aparecida (Márcia Cabrita), quando esta lhe deseja boa tarde. "A tarde não pode ser boa para alguém que sai do seu quarto e a primeira coisa que vê é uma doméstica que é a visão do inferno!", solta Caco sem papas na língua.

"Você é pobre", continua ele, "pobre de raiz! É daquelas que bota refrigerante aberto na geladeira com uma colherinha dentro que é pro gás não escapulir!", ironiza o patrão, que virando-se para a plateia, reforça a sua máxima: "eu odeio pobre!".

Em seguida vão entrando os antigos companheiros de cena: a voluptuosa e tonta Magda (Marisa Orth), a trambiqueira Cassandra (Aracy Balabanian) e o gaiato Tio Vavá (Luiz Gustavo).

Magda mantém o seu costume de soltar pérolas atrás de pérolas: "não adianta chorar o leite desnatado!", "águas passadas não comem bolinho" são algumas delas. Ao ouvir a notícia de que o seu marido pode estar querendo ter outra mulher ela pergunta com a maior naturalidade: "você vai se tornar um bípede?". "É bígamo! Cala a boca, Magda!", diz Caco Antibes a fala que se tornou um bordão nacional.

Para tentar salvar a família da miséria, Vavá cria um plano mirabolante: tornar-se o empresário da "rainha do iê-iê-iê". "É a Wanderléa?", pergunta imediatamente Neide Aparecida, referindo-se à cantora que foi a musa da Jovem Guarda. "É um genérico da Wanderléa", desconversa Vavá.

"Se não é a Wanderléa então poderia ser a Martinha, o queijinho de Minas?", sugere Caco. "É quase a Wanderléa...mas como ela é do Espírito Santo, ela é chamada a muquequinha capixaba!", explica Vavá. E apresenta então a Wandermary --numa junção dos nomes de Wanderléa com Rosemary, cantora de presença constante no programa Jovem Guarda (Record) , cujo maior sucesso nesse período foi "Feitiço de Broto" (Carlos Imperial).

Ao tocar a campainha, Caco sai completamente do texto para dar um de seus "apartes" que divertem muito o público presente. O ator Reinaldo Gianechinni, entre amigos na plateia, dá boas gargalhadas. "Eu quero deixar claro que em trinta anos de carreira nunca abri uma porta em televisão! Particularmente eu acho que abrir porta humilha o artista, diminui o cachê, entendeu?!". E o povo dá risada.

E lá vem Aracy Balabanian caracterizada de Wandeca dos anos 60, com peruca longa castanho-claro e botinhas brancas até os joelhos. Para completar ela puxa, e todos cantam juntos, "Pare o Casamento" (Resnick e Young, vs: Luiz Keller), do álbum "A Ternura de Wanderléa" (1966).

Para complicar um pouco, chega de repente Henriqueta (Ingrid Guimarães), uma rica fazendeira goiana, amante de Caco Antibes. Ingrid tem uma boa participação, descolada e divertida como sempre, e na saída ainda deixa um recado direto: "Feliciano, você não me representa!", referindo-se ao equivocado deputado federal, presidente da Comissão de Direitos Humanos, que insiste em lutar pela "cura gay" (?). A atriz é ovacionada.

Em seu desvario, Magda xinga o marido pela traição e solta de repente: "deputado federal!". Caco, que não reagira aos outros xingamentos, retruca: "deputado federal, não! Humilha mas não ofende!"

"Vamos terminar com uma homenagem à eterna Jovem Guarda!", anuncia Miguel Falabella e todos se despedem cantando "Festa de Arromba" (Roberto e Erasmo Carlos). A festa!

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"