Renato Kramer

A energia de Lucélia Santos faz falta na TV

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Ontem à tarde, revendo a entrevista que a atriz Lucélia Santos deu recentemente para Angélica, no programa "Estrelas" (Rede Globo) --percebi o quanto a 'aura' da atriz faz falta na telinha.

O tempo foi generoso com a menina que o mundo conheceu como "A Escrava Isaura". E aqui o 'mundo' não é força de expressão. Estima-se que quase oitenta países acompanharam a saga da escrava branca perseguida pelo seu 'senhor'. "A Isaurinha", confidenciou com alegria a atriz para a apresentadora Angélica --"desenvolveu para mim um processo de comunicação com o mundo inteiro!".

E ela não está exagerando. Lugares como a Polônia, a Nigéria, a Dinamarca, entre tantos outros; especialmente a China, onde ela foi recebida com as honras de uma grande estrela internacional.

Crédito: Mastrangelo Reino/Folhapress A atriz Lucélia Santos
A atriz Lucélia Santos

Com o mesmo sorriso franco, como observou Angélica, a atriz escolheu um lugar onde se sente muito bem para um almoço vegetariano e o bate-papo do "Estrelas". Um templo Hare Krishna, no Rio de Janeiro, embora a atriz seja "budista tibetana". Toda de branco, com uma longa e colorida echarpe envolvendo o pescoço, Lucélia Santos esbanjava simpatia e cordialidade.

"É impossível não ligar o teu nome à 'escrava Isaura'", comentou inevitavelmente a apresentadora. Lucélia riu e as duas, sem pestanejar, cantarolaram juntas: "lerê, lerê... lerê, lerê, lerê!", fazendo menção à música tema de abertura de "A Escrava Isaura" - "Retirantes" (Dorival Caymmi).

Era outubro de 1976 quando a trama foi ao ar pela Rede Globo, no horário das 18h. Baseada na obra homônima de Bernardo Guimarães, a novela foi escrita por Gilberto Braga e dirigida pelo saudoso Herval Rossano. O enredo 'romântico' da história gira em torno de uma paixão de Isaura por Tobias (Roberto Pirillo), que é morto pelo administrador da fazenda Leôncio (o grande Rubens de Falco). Isaura fica arrasada e sofre grandes tormentos nas mãos de Leôncio por não corresponder ao seu amor. Ela foge mas é recapturada tempos depois. Mais tarde, surge o jovem abolicionista Álvaro (Edwin Luisi) e a salva das garras do vilão, que acaba por se suicidar.

"A Isaurinha é o meu karma bom", afirmou Lucélia Santos, sempre sorridente e animada. Mas não foi assim tão fácil o começo da carreira. "Eu fiz muito teste', conta a atriz. "Não achavam que eu dava pro negócio!", diz dando risada. "Diziam que eu era muito pequenininha, e vesga!", comenta gargalhando a atriz que foi vista por um bilhão de pessoas na China. Foi lá também que ganhou o prêmio "Águia de Ouro", para o qual recebeu trezentos milhões de votos.

Reza a lenda que a 'Isaura' de Lucélia conquistou grandes trunfos. Teria conseguido que os exércitos da Bósnia e da Sérvia decretassem um cessar-fogo para assistir aos capítulos de sua saga. Além de conquistar um fã especial: Fidel Castro, que a receberia anos mais tarde em Havana e que cancelava o racionamento de energia elétrica em Cuba, durante o horário da novela.

A atriz, que fez sucesso também no cinema, destacou-se em outras novelas. Destaque para a protagonista de "Sinhá Moça" (1986) e a vilã Carolina, de "Guerra dos Sexos" -- ambas na Rede Globo de Televisão.

Alguns anos atrás, Lucélia realizou um documentário importante: "Timor Leste --O Massacre Que O Mundo Não Viu". Atualmente, acaba de estrear em São Paulo a peça "Alguém Acaba De Morrer Lá Fora", dirigida pelo filho Pedro Neschling. "Pedro é um ótimo diretor", afirma orgulhosa.

Momento marcante na vida? O nascimento do filho. "É uma coisa mágica... muda a vida da gente!". Na carreira? Gargalhadas. "A Isaurinha, ora!"

"Agora, 35 anos depois do estrondoso sucesso com "A Escrava Isaura" e tudo o que você fez depois --qual é o balanço que você faz da sua vida?", pergunta Angélica num tom sereno.

"Fiquei mais velha!", responde ainda às gargalhadas a atriz Lucélia Santos, esbanjando alto astral.

Erramos: A energia de Lucélia Santos faz falta na TV

Renato Kramer

Natural de Porto Alegre, Renato Kramer formou-se em Estudos Sociais pela PUC/RS. Começou a fazer teatro ainda no sul. Em São Paulo, formou-se como ator na Escola de Arte Dramática (USP). Escreveu, dirigiu e atuou em diversos espetáculos teatrais. Já assinou a coluna "Antena", na "Contigo!", e fez críticas teatrais para o "Jornal da Tarde" e para a rádio Eldorado AM. Na Folha, colaborou com a "Ilustrada" antes de se tornar colunista do site "F5"

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