Como em 'Amor de Mãe', mulheres falam sobre a dificuldade para engravidar após os 35 anos
Tratamentos para fertilidade são opção, mas não garantia de sucesso
Tratamentos para fertilidade são opção, mas não garantia de sucesso
"Amor de Mãe" (Globo) estreou em novembro do ano passado contando a história de mães, entre as quais Vitória (Taís Araujo), que, aos 42 anos, não tinha filhos. Na trama, ela passa por um aborto e inúmeras tentativas de realizar uma reprodução assistida, sem sucesso.
Após diversas reviravoltas, ela hoje tem três filhos na história, e a batalha para ser mãe é protagonizada agora por Camila (Jéssica Ellen), que, após perder o útero em aborto espontâneo, precisou da ajuda da sogra, Thelma (Adriana Esteves), para ser barriga de aluguel de seu filho com Danilo (Chay Suede).
Essas são histórias de ficção, mas a dificuldade para engravidar é bem real na vida de várias mulheres, em especial acima dos 35 anos. Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde), 10% das mulheres terão problemas de infertilidade. Esse número pode aumentar se forem considerados os casos de infertilidade masculina.
Há mulheres que vivem verdadeiras sagas para realizar o sonho de ser mãe. Após 15 estimulações ovarianas para a FIV (fertilização in vitro), a veterinária Betania Kossling Mazzini, 42, finalmente engravidou. João nasceu em dezembro do ano passado, “saudável, bonzinho e rodeado de amor”.
Mazzini conta que sempre quis ser mãe, mas diz que acreditava que aconteceria naturalmente assim que começasse a tentar. "Pensamos primeiro na carreira e vamos postergando a gravidez. Eu queria ter um bebê com tudo planejado e estruturado."
Mazzini inha 37 anos quando ela e seu marido, o empresário André Santana, 41, passaram “a deixar rolar”. Mas não rolava nunca. “Achei que seria fácil. Hoje vejo que esperar não é nada bom. Os óvulos envelhecem e a qualidade deles piora muito a cada ano.”
Negativo após negativo, o casal decidiu consultar um médico. “Fiz exames e estava tudo certo. Mas descobrimos que meu marido tinha baixo número de espermatozoides e, posteriormente, varicocele [que dificulta a passagem de espermatozoides]”, diz Mazzini. "Ficamos chateados, chorei muito. Meu mundo desabou. Isso é uma ferida aberta no coração que não cicatriza. Você segue sua rotina, mas tem essa tristeza na alma", completa.
Protagonista de musicais como “O Fantasma da Ópera”, “Hair” e “A Bela e a Fera”, a atriz Kiara Sasso, 41, também lutou por anos até finalmente engravidar de Luna, que nasceu em novembro de 2019. Ela conta que recusou a ajuda da mãe, que chegou a oferecer ajuda financeira para o congelamento de seus óvulos.
“Achei desnecessário. Engravidar naturalmente é mais poético do que um bebê de laboratório”, conta. “Aí casei com o Lázaro [Menezes] e logo começamos a tentar. Fizemos até inseminação artificial. Mas, após quatro anos, não rolou. Até que decidimos partir para a FIV. É preciso ter confiança no médico e estrutura emocional, porque é um longo e delicado processo.”
Kiara Sasso passou pelo mesmo drama de mulheres que chegam aos 40 anos: poucos óvulos e de qualidade reduzida. “Eu me arrependo de não ter aceitado a oferta da minha mãe e congelado meus óvulos." A atriz diz ainda que tem um sonho. "Quero ter a experiência de ver a Luna virar para seu irmão e dizer: ‘a mamãe está chata pra caramba hoje’”, diz ela, que é filha única.
É comum as mulheres buscarem ajuda perto dos 40 anos, após várias tentativas de engravidar falharem, de acordo com Barbara Andrade, ginecologista e obstetra da Clínica Nova Mulher. "O mundo ficou mais moderno, mas o relógio biológico é o mesmo de sempre. É uma corrida contra o tempo."
"É preciso repensar essa cultura [de postergar a maternidade] e fazer uma investigação da fertilidade bem antes, porque muitas mulheres só caem na real quando tentam e não conseguem. Após os 35 anos, o ideal é tentar por até seis meses [antes de procurar ajuda profissional]", diz Andrade.
A médica lembra que os tratamentos de fertilização são uma opção cara e, nem sempre, garantia de sucesso. "A biologia não para. Após os 40 anos, praticamente despenca. Além disso, a chance de o embrião ter problemas cromossômicos é bem maior. Por isso que, mesmo que se opte pelo tratamento, é importante buscar ajuda o mais jovem possível."
A veterinária Renata Martorelli, 35, está em busca da gravidez e tem feito uma série de exames. “As pessoas dizem: ‘Desencana, que vem’, mas isso é terrível, uma pressão psicológica a mais, quando tudo não passa de um problema físico.”
Ela engravidou naturalmente, mas o bebê ficou fora do útero, preso a uma das trompas. “A gravidez era incompatível com a vida. Perdi o bebê e uma trompa.” Foi quando ela decidiu partir para a FIV.
“Tomei tanto hormônio, que meu humor alternava e meu marido queria me jogar pela janela. [risos]. Um casal que passa pela FIV, ou separa ou fica junto de vez.” Ela conta que conseguiu um embrião. “Fiquei grávida, mas perdi porque tinha alteração cromossômica.” Martorelli diz que as sessões de terapia têm ajudado. “São fundamentais.”
Após cinco tentativas de FIV, e cirurgias por causa de uma endometriose, a funcionária pública Renata Amadio, 42, desistiu da maternidade. “Comecei a tentar, mas tinha muitas dores e precisava tomar pílula anticoncepcional para amenizar. Aos 39 anos, comecei nesse difícil mundo da FIV. Consegui um óvulo, que fertilizou. Mas a gravidez foi interrompida. Decidi acabar com esse sofrimento.”
O SUS (Sistema Único de Saúde) oferece tratamento, mas, somente para mulheres de até 38 anos e apenas duas tentativas.
Um simples exame de sangue pode determinar a quantidade de óvulos. O teste antimulleriano deveria ser indicado às mulheres em qualquer idade, não apenas quando se opta por embarcar em um tratamento contra infertilidade, de acordo com Fernanda Rodrigues, médica especialista em reprodução humana do Grupo Huntington.
“Ao contrário do que se pregou para esta geração, a maternidade não pode ser adiada. Esse exame é essencial para a mulher que deseja engravidar um dia poder se planejar. A mulher pode optar por congelar seus óvulos, optar com urgência por um tratamento ou simplesmente esperar e correr o risco de não conseguir engravidar.”
Para a especialista, a falta de conhecimento é um problema grave. “A mulher não produz óvulos. Os que ela tem, vai perdendo a cada mês até não ter mais e, assim, entrar na menopausa. A idade também interfere na qualidade dos óvulos, que têm mais chances de ter alterações cromossômicas, que podem levar ao aborto”, explica.
Segundo dados mais recentes no site da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), o número de embriões para reprodução humana no Brasil foi 18,7% maior em 2018, em relação ao ano anterior. Há dois anos, o país registrou 88.776 embriões congelados para FIV. O número é o maior desde o início da série, em 2012, quando haviam 32.181.
Por quanto tempo deve-se tentar engravidar naturalmente?
- Mulheres de até 35 anos devem procurar o ginecologista após um ano de tentativas sem sucesso
- Acima dos 35 anos, o recomendado é buscar ajuda profissional após seis meses de tentativas
Atenção! Homens também devem investigar infertilidade e fazer exames, como o espermograma (para contagem de espermatozoides)Basta procurar um urologista ou andrologista.
TRATAMENTOS
1. Baixa complexidade
A fertilização ocorre no corpo da mulher
Inseminação artificial
- Encurta o caminho percorrido pelos espermatozoides
- O sêmen é coletado e introduzido diretamente na cavidade uterina da mulher
Namoro (coito) programado
- A ovulação da mulher é controlada e acompanhada
- No dia fértil, os médicos sugerem que a mulher tenha relações sexuais
2. Alta complexidade
A fertilização ocorre em laboratório
FIV (Fertilização in Vitro / bebê de proveta)
- A mulher passa por estimulação ovariana com injeções, durante dez dias
- Os óvulos são aspirados em cirurgia simples
- Em laboratório, o espermatozoide é introduzido no óvulo para formar o embrião
- Após cinco dias, o bebê de proveta é transferido para o úteroO teste de gravidez é realizado 12 dias depois e repetido em dois dias
Barriga de aluguel*
- É um processo similar à FIV, mas o embrião é transferido para uma parente próxima que tope ceder o útero temporariamente (mãe, avó, irmã, tia, prima, filhas e sobrinhas)
- Após o nascimento, o bebê é entregue aos pais biológicos
FIV por ICSI (injeção de espermatozoide)
- Uma única célula reprodutiva masculina é injetada em cada óvulo disponível
- A técnica é utilizada em casos de infertilidade masculina, quando a produção de espermatozoides é pequena, rara ou praticamente nula
* quando a mulher não tem parentes próximas, o médico pode solicitar uma autorização especial para barriga aluguel ao Conselho de Medicina
Fontes: Fernanda Rodrigues, médica especialista em reprodução humana do Grupo Huntington; e Barbara Andrade, ginecologista e obstetra da Clínica Nova Mulher
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