BBB 24: Por que 'apelidos' usados no reality podem ser ofensivos para grupos minorizados
Especialistas dão dicas de como evitar constrangimentos e preconceitos no cotidiano
O BBB 24 (Globo) começou há pouco mais de dez dias, mas foi tempo suficiente para o público notar a frequência do uso de apelidos que podem ser considerados ofensivos como pronomes de tratamento pelo elenco da edição. Os principais dizem respeito a pessoas com deficiência e raça.
Vale lembrar que, a depender de como for percebido pela vítima, esse último caso pode ser denunciado e enquadrado como crime de racismo e é passível de pena de dois a cinco anos de prisão, além de multa.
Especialistas em diversidade que acompanham o BBB explicaram ao F5 os motivos das alcunhas e deram dicas sobre como evitá-las fora do reality.
TRATAMENTO COM PESSOAS COM DEFICIÊNCIA
O primeiro caso que chamou a atenção fora da casa foi durante a primeira prova do líder, quando o já eliminado Maycon Cosmer, 35, tentou apelidar o membro amputado do paratleta Vinicius Rodrigues de "Cotinho". Outros brothers deram também usaram a deficiência do participante do grupo Camarote para se referir a ele: "Perninha".
"Tentaram criar um clima de descontração, mas obviamente passaram dos limites", disse a consultora do instituto Mais Diversidade, Julia Drezza. Para ela, o episódio do reality reflete a desinformação e o capacitismo vividos também fora da casa.
Drezza, assim como Vinícius, faz parte dos 8,9% de brasileiros com deficiência. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, feita pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) em 2022.
A consultora é a favor do equilíbrio entre as críticas mais severas aos preconceitos e reflexões em grupo capazes de gerar curiosidade aos envolvidos. Daí o motivo de ela acreditar no BBB como uma ferramenta educativa.
"Sou fã do programa. Ele tem o poder de furar bolhas e comunicar com muitos públicos. Não fala só para quem gosta de diversidade, ele acessa muita gente", afirmou.
Em relação às formas adequadas para tratar uma pessoa com deficiência, Drezza deu duas dicas. A primeira é uma forma de quebrar o gelo. "Faça assim: 'Olá, tudo bem? Notei que você tem deficiência. De que forma posso deixar esse ambiente mais acessível para nós?'."
A segunda dica é não perguntar o que causou a deficiência de alguém. "A pessoa pode ter adquirido a deficiência em uma situação de violência ou em um acidente no qual um ente querido morreu. Pode ser gatilho", lembra.
É fato que o paratleta tem feito piadas com o próprio corpo, mas segundo as especialistas, isso não é motivo para acreditar que tudo bem usá-las em um espaço público e nem com qualquer outra pessoa. Quem é alvo de apelidos ou piadas preconceituosas nem sempre verbaliza o descontentamento com a situação.
TRATAMENTO COM POVOS INDÍGENAS
Deficiência não foi o único marcador social usado como apelido dentro do BBB. Raça foi o tema de outros casos.
Dentro do programa, Leidy Elin, 26, e Isabelle Nogueira, 31, conseguiram estabelecer limites. Ambas foram apelidadas de formas que elas consideraram racistas por outros participantes do BBB.
Isabelle afirmou para Rodriguinho, que não gosta de ser chamada de "índia", como o cantor fez no programa ao vivo do último dia 11.
Ela considera o termo pejorativo e aconselhou o brother a usar outro para se referir a pessoas com a mesma ancestralidade que ela. "É indígena ou povo originário. 'Índia' foi quando o colonizador chegou ao Brasil", afirmou a sister.
A reivindicação de Isabelle coincide com a postura do Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), que também optou por abandonar a expressão índio no nome da instituição.
TRATAMENTO COM PESSOAS NEGRAS
Dias antes, Leidy se surpreendeu ao ser chamada de "macaca" por Lucas Luigi, que também é negro. Na ocasião, o carioca justificou dizendo que fala assim com pessoas negras próximas a ele. Leidy não gostou e conversou a sós com ele.
Ednalva Moura, gerente de relações institucionais da associação Pacto de Promoção da Equidade Racial, gostou da atitude de Leidy. Ela também lembrou que o termo pode ser considerado ofensivo mesmo tendo sido usado por um participante negro.
"O racismo atravessa o pensar de todas as pessoas, os vieses estão presentes em todas as relações sociais, por isso devemos cotidianamente combater os apelidos raciais, independente do grupo ao qual pertencemos", afirmou.
Moura apontou que as famílias negras estão mais atentas para não reproduzir palavras pejorativas dentro de seus lares. Por isso, diz que todos precisam de mais informações sobre o tema.
"Quando [algo assim] acontece em rede nacional, a mídia desempenha um papel de extrema relevância no processo de educação antirracista, e tal situação contribui na banalização da luta por direitos humanos, respeito à diversidade e busca por equidade racial", avaliou.
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