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E agora, José?: Primeiro nordestino a vencer o Masterchef, José Roberto avalia futuro na carreira

'Montar um negócio no Brasil é desafio. Não basta cozinhar, tem que empreender', afirma o campeão, que diz ter sofrido xenofobia de haters após a vitória

José Roberto e Giorgia se abraçam enquanto aguardam o resultado - Marcelinho Santos 12.nov.24/Band
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São Paulo

Campeão do último MasterChef (Band), José Roberto Caju pisou em São Paulo pela primeira vez aos 46 anos, há cerca de seis meses, para participar da seletiva do programa.

Uma vez escolhido, colocou na cabeça que seria o primeiro nordestino a ganhar o reality. E conseguiu. Nascido no Rio Grande do Norte, ele viveu por 20 anos no Pará e mora há sete no Maranhão com a mulher e os dois filhos adolescentes.

"Entrei focado em ganhar o programa, mas quando cheguei lá e vi o nível da galera, pensei: 'É muito difícil isso aqui. Mesmo se não acontecer nada, já tô feliz'", conta.

Funcionário de uma empresa de mineração em São Luiz (MA), José Roberto se desdobrou entre home office, férias e licença não remunerada para realizar o sonho de participar do Masterchef. Agora que a vitória veio, o novo desafio é enfrentar uma transição de carreira.

COMEÇAR DO ZERO

José Roberto pretende se organizar para em 2025 fazer o curso da Le Cordon Bleu, em São Paulo, um dos prêmios que ganhou no programa. Mas o futuro como cozinheiro ainda é uma incógnitae. Abrir um negócio próprio parece um sonho ainda distante.

"Tenho vontade de me profissionalizar, mas abrir um negócio no Brasil é um desafio. Não basta cozinhar, tem que ser empreendedor", diz. Ele reconhece, no entanto, que seria um desperdício abandonar o sonho da culinária após uma vitória tão suada.

"É injusto eu provocar, me expor, abrir esse portal de oportunidades e deixar tudo de lado. É um pensamento instável que venho tendo. Minha cabeça tá um liquidificador", admite. "É como se eu tivesse lutado uma batalha gigante e agora tivesse que aceitar a derrota. Vou ter que arregaçar as mangas e começar do zero", diz.

Além do curso na filial paulistana da prestigiada escola francesa, ele levou para casa um conjunto de panelas, uma linha completa de eletrodomésticos e R$ 350 mil. "Poderia girar a roleta da Stone, igual no 'BBB'. Podia pelo menos dobrar esse valor, vai?", brinca.

Outro ganho do programa foi o networking. Embora tenha se conectado com Erick Jacquin nas gravações, os acenos para possíveis parcerias futuras vieram de outros dois chefs: Helena Rizzo e o ex-jurado Rodrigo Oliveira, do Mocotó.

TRAJETÓRIA E ANCESTRALIDADE

Filho de pequenos agricultores e feirantes, José Roberto começou a cozinhar aos dez anos de idade, por intuição. Descobriu na cozinha sua maneira de contribuir na rotina da família.

Após as manhãs com o pai na feira vendendo abacaxi, mandioca, banana e laranja, ele chegava em casa e preparava o almoço. "Todo mundo dividia as tarefas domésticas, era nossa forma de sobreviver", diz.

Assim, ele desenvolveu sua culinária a partir de um olhar para o fluxo da produção do ingrediente: desde o cultivo e a subsistência das famílias até a mesa de um restaurante fino. O caju, que virou seu apelido no programa, é o ingrediente de sua infância: ele brincava nos cajueiros no sítio do avô.

"O caju era alimento e também diversão. Meu avô deixava a gente comer a fruta, mas não a castanha, o produto mais caro, que era ensacado e vendido", conta.

Quando entrou no programa, ele procurou abrir o paladar do jurados para o ingrediente,. "Muita gente come só a castanha e não gosta do caju, por conta do sabor travoso do tanino. Minha proposta era apresentá-lo como ingrediente em uma moqueca, um ceviche, um doce. E fui feliz nisso", conta.

XENOFOBIA

Na conversa com a reportagem, José Roberto quis manter discrição sobre o assunto, mas revelou que sofreu situações de xenofobia dentro e fora do programa. Quando foi anunciado campeão, suas redes sociais foram inundadas de comentários de haters.

"As pessoas ficaram felizes de eu estar na final, mas não esperavam que eu fosse ganhar", explica. "Todo reality tem torcida, o que é natural. Mas a galera do favoritismo da outra pessoa, que tem uma pegada europeia, sofisticada, não vai se conectar com técnicas ancestrais, com uma comida que vem carregada de raiz, de história. E acaba tendo esse olhar de inferiorizar", diz.

"Ter coragem de abrir e boca e dizer que quero ser o primeiro campeão nordestino incomoda as pessoas", diz. "São Paulo foi construída pelo nordestino, pelo imigrante. Mas muita gente olha para o nordestino tirando nossa potência como povo. A gente acaba servindo só de força de trabalho e nosso potencial criativo é inferiorizado. Isso aconteceu [no programa]. Eu senti isso", confessa. "Mas ganhei, estou feliz e é isso o que importa."

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