Viver um personagem chamado de negro gato é gostoso, diz Fabrício Boliveira
No ar em 'Volta por Cima' como um fiscal de ônibus, ator lembra histórias da infância no transporte público e de sua primeira novela, em que interpretava um homem feio
Ele é um negro gato. É a trilha sonora, de Luiz Melodia (1951-2017), que embala as cenas do personagem Jão, fiscal de ônibus interpretado por Fabrício Boliveira, 42, em "Volta por Cima" (Globo). O ator não esconde: curtiu a escolha da música.
"Viver um personagem chamado dessa forma é gostoso e engraçado. Em filmes como 'Faroeste Caboclo' [2013] e 'Simonal' [2019], os personagens tinham um apelo mais sensual também. Mas ao longo da minha carreira, interpretei papéis em lugares diferentes. Lembro que na minha primeira novela ['Sinhá Moça', 2006] eu era um homem feio", diz, ao citar Bastião, da trama de Benedito Ruy Barbosa.
Na atual história das 19h, criada e escrita por Claudia Souto, Jão trabalha na Viação Formosa desde os 18 anos e sabe como ninguém tudo o que acontece na companhia. Segundo Boliveira, dar vida a um cara do povo como esse é importante para a representatividade.
"Havia um tempo que eu queria dialogar na TV com o brasileiro suburbano, suas histórias simples me atraem muito. Gosto de fazer papéis populares para ter uma comunicação direta com esse público. São passagens parecidas com as minhas", conta.
Para se dedicar ao trabalho, o artista nascido em Salvador (BA) diz que fez questão de ir conhecer o dia a dia dos profissionais que dedicam tempo e esforços por companhias de transporte público.
"Tive um encontro com um fiscal chamado Flávio que me trouxe um olhar legal para essa função. O fiscal é o primeiro cara a ver o motorista, ou seja, quem consegue detectar como essa pessoa está naquele dia. Tem muito de psicologia nisso."
A infância do ator também teve sua importância para a composição do papel —não que ela tenha algo diretamente relacionado à rotina de um fiscal. Mas de transporte público ele pode dizer que entende. Entre os anos 1980 e 1990, era comum que crianças pegassem ônibus sozinhas, e isso acontecia na rotina escolar do então jovem soteropolitano.
"Peguei bastante ônibus e dormia neles todos. Quando via, estava tirando uma soneca no ombro de alguém e perdia o ponto de descida. Era mais na volta do colégio, às 12h. Quando eu fiz 20 anos, comprei um carro", relembra.
Na opinião do ator, "Volta por Cima" tem a função de levar a algumas reflexões, dentre elas a resiliência do povo trabalhador brasileiro. Na visão de Boliveira, é isso que ajuda a novela a ter bons índices de audiência. Atualmente, o folhetim registra 21 pontos em São Paulo, marca superior à de "Família É Tudo", sua antecessora.
"A história amplia a figura do trabalhador brasileiro e exalta suas multifunções ao mostrar aqueles que têm três empregos e precisam se virar para fechar as contas do mês. Potencializa o olhar do coletivo."
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