Genérica em tudo, 'Fuzuê' termina tão esquecível quanto começou
Faltou originalidade à 1ª trama de Gustavo Reiz na Globo, que pareceu dar passo atrás na faixa
Não tem nada propriamente errado com "Fuzuê", novela das 19h que teve seu último capítulo exibido nesta sexta-feira (1º). Com altos e baixos, como qualquer folhetim, a trama de Gustavo Reiz —em sua estreia na Globo— não é uma estranha em sua faixa horária, povoada por obras leves e puxadas para a comédia (por vezes demasiado pastelão) nos últimos anos.
Mas é fato que algo não funcionou. Afinal, não à toa a novela fecha seu ciclo com o amargo título de novela menos vista de seu horário —abaixo dos 20 pontos na Grande São Paulo (onde cada ponto equivale a 191 mil telespectadores).
É verdade que a missão de substituir "Vai na Fé", trama em que tudo funcionou, não era fácil. Comparar as duas obras é até injusto, já que o texto de Rosane Svartman e a direção artística de Paulo Silvestrini casaram perfeitamente, e a dupla deu uma cara mais moderna à faixa, atraindo até jovens que não estavam mais interessados no formato. Nesse sentido, "Fuzuê" pareceu um passo atrás.
O texto, que a princípio flertou com as tramas de aventuras dos anos 1980 e 1990, não sustentou o interesse do público em torno de seus mistérios, a saber: o paradeiro de Maria Navalha (Olivia Araujo), mãe da mocinha Luna (Giovana Cordeiro), e o esconderijo do tesouro da Dama de Ouro, disputado por elas e pela vilã Preciosa (Marina Ruy Barbosa).
Em determinado momento, a Globo escalou o experiente Ricardo Linhares para supervisionar o texto e reforçou o time de roteiristas, o que surtiu efeito. A trama avançou, deixou para trás o que não estava funcionando e corrigiu sua rota. Também ficou mais genérica.
O tom exagerado das atuações foi atenuado, bem como sumiram os bordões repetitivos das protagonistas e os óculos de Miguel (Nicolas Prattes). Como todo brasileiro sabe que novela é uma obra aberta, sujeita a mudanças ao longo do percurso, jogo que segue.
Repetitivo, o jogo de gato e rato entre mocinha e vilã lembrou a dinâmica dos desenhos animados. O recurso já foi usado com mais galhardia por outros autores. Nenhuma das duas brilhou o suficiente para despertar paixões. Giovana Cordeiro, como a artesã de biojoias que descobre ser irmã da maior inimiga, foi no máximo correta.
Marina Ruy Barbosa tentou imprimir um registro diferente do que o público se acostumou a vê-la. Teve alguns bons momentos, mas ainda fica devendo uma grande vilã em sua carreira na teledramaturgia. A repetição da parceria com Felipe Simas, com quem fez par romântico em "Totalmente Demais", não agradou. Melhor foi a dobradinha com Leopoldo Pacheco, como o pai de quem "herdou" toda sua falta de caráter, César Montebello.
Entre os destaques, foi bom acompanhar o amor maduro de Nero (Edson Celulari) e Bebel (Lilia Cabral) e a química do trio formado por Soraya Terremoto (Heslaine Vieira), Merreca (Ruan Aguiar, uma das melhores surpresas do elenco) e Francisco (Michel Joelsas), além da deslumbrada Alícia (Fernanda Rodrigues).
Sob o comando de Fabricio Mamberti, a direção não comprometeu. Na maior parte do tempo, foi correta e destacou o clima solar e as cores estouradas de figurinos e cenários. Quando chamou a atenção, foi por ter deixado a peteca cair, em momentos como o atropelamento do personagem Rui (Pedro Carvalho), que viralizou pela baixa qualidade.
O maior problema, no entanto, parece ser a falta de uma marca própria. Mesmo as cenas mais dramáticas, como a que mostrou Maria Navalha raspando os cabelos durante um tratamento de câncer, deram a sensação de estar vendo uma versão genérica de outra coisa que veio antes. Daqui a um ano, "Fuzuê" será lembrada pelo quê?
Comentários
Ver todos os comentários