Andressa Urach busca representar a família brasileira em todo seu esplendor pornográfico

Aconteceram tantas coisas no noticiário nacional e internacional recentemente que, dia desses, para chegar à notícia de uma ameaça nuclear tive que rodar muito a home do portal da Folha —coisa que, em uma semana normal, seria uma das manchetes principais.

É porque aqui no Brasil os dias foram agitados e tivemos até a revelação de uma ameaça golpista que parece ter sido dirigida pelos Irmãos Coen em parceria com Renato Aragão, tal o nível das trapalhadas.

Mas fato é que entre a indignação contra o fascismo militarista, o alívio por termos escapado do pior devido à burrice dos envolvidos e o medo de que algum país estrangeiro nos invada e seja esse o naipe de inteligência que tenhamos para nos defender, eu não consigo ver sexo em nada. De modo que só me resta falar dela. Andressa Urach.

A grande, longeva e peculiarmente versátil subcelebridade brasileira é uma máquina de gerar notícias, ainda mais do tipo que convém a uma coluna de sexo, tendo em vista que a produção e venda de conteúdo pornográfico é seu atual (e lucrativo) metiê.

Para se ter uma ideia, no começo desse mês, ela postou um print do seu faturamento na rede Privacy que somava R$ 30 mil —em um único dia. Em agosto desse ano, ela revelou orgulhosamente ser uma cidadã exemplar que pagou R$ 468 mil em impostos.

Uma busca no Google mostra que ela é workaholic tanto na função de estrela pornô como na tarefa de multiplicar cliques em portais jornalísticos. Nem os golpistas Jair Bolsonaro e Braga Netto são tão prolíficos, abrangentes e familiares.

Sim, porque Andressa parece ter um hiperfoco na família brasileira, criando situações que talvez pudessem ser concebidas por um Nelson Rodrigues da geração Z carregado de microdoses de todas as drogas disponíveis no mercado clandestino.

Nas semanas recentes ela já: foi hospitalizada após atuar em um vídeo intenso com oito homens, gravado pelo seu próprio filho; realizou o fetiche de lamber axilas com Gabi Sousa, esposa do divulgador de fake news bolsonaristas Nego Di; gravou um pornô com a mãe de seu ex-namorado; expôs um áudio em que seu próprio pai a convidava para fazer conteúdo adulto com ele.

Eu fico muito feliz pelos psicanalistas de toda essa gente, que terão pacientes garantidos para enquadrar em todas as estruturas possíveis, desde as mais perversas até as mais histéricas, sem deixar as obsessivas de lado.

A gaúcha de Ijuí produz conteúdo para portais de notícia desesperados para bater a meta de audiência, para sua página de conteúdo adulto e para muitas sessões de análise nas quais mesmo o mais lacaniano dos profissionais teria dificuldade de dar um corte.

Lembrando que o histórico da moça é veloz e furioso —em 2011 ela começou seu inevitável relacionamento com as telas ao ser modelo e dançarina do programa Legendários, da TV Record. Em 2012 foi uma notória finalista do Miss Bumbum Brasil, e em 2013 ficou três meses no ar causando sem parar no reality A Fazenda, o que lhe garantiu um dos mais altos cargos no imaginário popular: o de meme.

Antes da TV, ela já havia sido stripper, prostituta, autodeclarada amante de vários traficantes e usuária de múltipla quantidade e variedade de drogas. Como costuma acontecer com quem enfia muito o pé na jaca durante a adolescência e início da vida adulta, lá por volta de 2016, Andressa virou crente, conservadora e declarou que apoiaria Jair Bolsonaro até o fim.

Nota-se que ela não perseverou, e, há poucos dias atrás, revelou sentir atração por Janja, primeira-dama do Presidente Lula.

Donde eu chego no ponto de que a vida acelerada e cheia de reviravoltas de Andressa é uma dessas existências que encarna, espelha e estimula essa tendência à radicalização bem típica da contemporaneidade. Ela também escancara que de todo porra-louca pode sair um reacionário de onde podem sair alguns dos fetiches mais obscuros de que você terá notícia. E se depender dos nossos portais, muitas notícias.