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X de Sexo Por Bruna Maia
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Por que homens talentosos como Diddy cometem crimes sexuais?

Não vou dar uma resposta individualizante quando a resposta é masculinidade

Sean Combs - @diddy no Instagram
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Sean Combs, cujo mais recente nome artístico é Diddy, é um rapper e empresário musical estrelado, com muitos hits e que descobriu vários cantores de sucesso. No momento, já há mais de cem acusações de violência sexual contra ele, que está preso.

Diddy é um homem bonito, rico e com talento. Por que afinal, cometia tantas atrocidades? Não vou aqui analisar que tipo de vínculo ele teve com seus pais na infância, nem dizer que tem transtorno de personalidade antissocial e muito menos postular que a questão dele é narcisismo com lua em édipo e ascendente em perversão.

Vou dizer que o problema é masculinidade e que a própria pergunta "por que um homem tão bonito/rico/talentoso faria isso" é por si só errada.

E quem faz esse tipo de pergunta? Você, leitor, se pergunta. Pois eu digo: eu a teria feito há alguns anos. Toda vez que estourava um caso de assédio, abuso ou estupro contra algum homem que eu julgava interessante ou dotado de poder econômico e social eu não conseguia ver sentido.

"Poxa, um cara com tantos predicados consegue transar de graça, tem fila de mulheres querendo dar pra ele, e, caso ele queira ser pragmático, pode pagar caro para fazer uma orgia com as mais belas profissionais do sexo. Por que ele tem que ir lá e abusar de alguém? Só pode ser um problema mental", era o que sempre me cruzava a mente.

É que eu sabia pouco de como se dão os abusos, apesar de eu mesma já ter sofrido alguns, inclusive quando criança. Era uma vítima envergonhada, não sabia o quão não individuais eram minhas experiências traumáticas, pensava que eu é que tinha dado muito azar de me deparar com maníacos sexuais durante a infância e um deles calhou de ser um tio.

Sabia tão pouco que pensava que não havia muitos estupradores, e os que existiam eram assim porque eram feios e não conseguiam ficar com ninguém, ou porque eram doidos pervertidos ou porque eram tão desinteressantes que nenhuma mulher queria saber deles.

Ou ainda, que eram criminosos desvalidos que frequentavam becos escuros em busca de dinheiro para comprar droga e moças indefesas. Homens ricos, engravatados, poderosos? Jamais!

Uma série de preconceitos estão embutidos nisso e muitos não são exatamente culpa minha. É que o patriarcado burguês trabalha desde cedo para te convencer de que "homens de boa índole" (ou seja, brancos de classe média) não estupram, que o perigo nunca está dentro de casa, e sim na rua, e que na verdade muitas violências só acontecem porque a vítima era vagabunda demais e bem que merecia mesmo e, pensando bem, nem foi estupro, ela que é doida.

Além, é claro, do estigma das doenças mentais. O criminoso sexual, convenientemente, sempre tem um diagnóstico psiquiátrico que o coloca em uma categoria que diverge da "norma".

Mas se o transtorno e o desvio da norma são raros, por que conheço pouquíssimas mulheres que nunca foram violentadas? Várias de minhas amigas foram abusadas por adultos quando eram meninas, outras tantas foram drogadas e estupradas, ou algum estuprador se aproveitou do fato de elas estarem bêbadas, mais várias saíram com caras aparentemente legais mas que tiraram a camisinha sem que elas notassem.

Aposto que a maioria desses delinquentes bate no peito para dizer que não são estupradores e gritam "NEM TODO HOMEM" toda vez que uma mulher reclama da masculinidade.

No que eu retorno a Diddy. Um cara com acesso a celebridades e que fazia festas nababescas. Em muitas dessas festas rolavam orgias regadas a drogas, várias delas com performances sexuais com pessoas contratadas. Até aí, tudo bem, podia ser só um fim de semana em Berlim.

Mas o rapper ia além e ultrapassava as barreiras do consentimento, forçando contato sexual e se aproveitando do seu prestígio para submeter convidados a situações humilhantes. Ele também gravava as atividades —tanto para tocar punheta, quanto para chantagear participantes se necessário fosse.

Diddy foi criado na sopa da masculinidade, um caldo bastante coletivo no qual boiam todos os homens cisgênero —sim, todos os homens, devidamente atravessados por suas questões de sexualidade, classe e raça. É um caldo em que a violência, a subjugação e a objetificação são normalizadas até o ponto de que nem serem mais lidas como violência.

É um caldo em que o trabalho do cuidado é gratuito e é uma exclusividade feminina. É um caldo onde estão ricos que organizam orgias abusivas, líderes políticos que batem nas mulheres, chefes assediadores, gays e bissexuais que não respeitam consentimento, esquerdomachos tóxicos, maridos folgados e também o mané que se acha bonzinho mas se faz de tonto diante de tudo o que os amigos deles fazem.

Por isso não vou recorrer a nenhum conceito psicanalítico, nenhum CID psiquiátrico, nenhum histórico de trauma. Diddy não é único, exclusivo e diferente. Ele é um homem, igual a tantos outros, só que com muito dinheiro para entornar o caldo.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. Autora dos livros 'Parece que Piorou', 'Com Todo o Meu Rancor' e 'Não Quero Ter Filhos', fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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