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X de Sexo Por Bruna Maia
Descrição de chapéu Todas Dia dos Namorados

No Dia dos Namorados, dê um presente ao seu amor e deixe de ser passivo-agressivo

Desejar é uma das coisas mais difíceis que existe, é bom tratar de aprender

A pintura captura dois indivíduos absortos em suas atividades em uma sala iluminada. À esquerda, um homem vestido formalmente inclina-se sobre um sofá vermelho, lendo atentamente um documento. À direita, uma mulher em um vestido vermelho toca piano, sua postura refletindo foco e dedicação. A sala é adornada com quadros e uma porta de madeira, evocando uma atmosfera de tranquilidade e introspecção.
'Room in New York', tela de 1932 do artista americano Edward Hopper - Reprodução/Wikipédia
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Dos comportamentos humanos, a passivo-agressividade é dos que mais irrita e fascina. Muita gente usa o termo errado, para se referir a pessoas que estão sendo apenas ativo-agressivas, abertamente raivosas. Então convém definir: comportamento passivo-agressivo é velado, mascara um desejo, se há raiva explícita é sempre uma raiva terceirizada que escolhe um objeto como totem para encobrir o real querer. A pessoa em estado de passivo-agressividade quer muito uma coisa, mas não pode admitir isso, às vezes nem para ela mesma. Nossa, mas que complicação! O que isso tem a ver com sexo ou amor? Bem, tudo.

Vamos começar com um exemplo simples. Elisa e Leonel são casados e vão jantar no Dia dos Namorados. Leonel lista três lugares onde eles podem ir e Elisa escolhe o segundo da lista. Só que ficam os dois subitamente ariscos e de cara fechada. É que Elisa queria uma surpresa, não ter que escolher. Já Leonel tinha vontade de ir no primeiro restaurante da lista, e queria que Elisa tivesse a sensibilidade de saber disso sem que ele precisasse dizer.

Como um não adivinhou o que o outro desejava, ficaram os dois irritadiços, frustrados, desgostosos. Para completar, nenhum deles sequer sabia o que tinha feito pra deixar o outro tão amuado. E, para tudo ficar ainda mais complicado, nenhum deles sabia dizer para si mesmo por que estava insatisfeito.

A raiva não exposta –sim, porque frustração tem uma boa dose de raiva, quer admitamos ou não– acaba escapando em outras coisinhas. Elisa dá um chiliquinho porque Leonel guardou a chave do carro no lugar errado, enquanto Leonel olha para a roupa da esposa e larga um "encolheu ou você engordou?".

É assim que a passivo-agressividade se estabelece, que nem um vazamento no teto do banheiro que você não sabe direito de onde vem, avança aos poucos e quando percebe já mofou uma parede inteira. Se um simples jantar é capaz de ser tão tóxico, imagina os desejos não expressos no sexo e na afetividade?

Por exemplo, os orgasmos que as mulheres não têm e às vezes nem sabe que não estão tendo porque os homens não sabem lidar com um clitóris podem se tornar uma bomba de ódio reprimido. Sabe aquela dor de cabeça que alguns maridos reclamam que as esposas usam de desculpa para não fazer sexo? Pode ser uma forma passivo-agressiva de dizer: "Eu estou exausta porque você é um vagabundo que não faz nada nessa casa e além disso você transa mal pra caramba, não vou me prestar a essa sua metidinha de dois minutos aí".

Nossa, mas por que elas não pedem? Por que elas não falam isso? Por que elas não se separam? Porque muitas fomos condicionadas a não expressar descontentamento de forma direta, criadas para não desagradar, ter medo das consequências de expressar nossos desejos e descontentamentos, e achar que o casamento era o bem maior da vida de uma mulher e deve ser preservado à custa da nossa felicidade e prazer.

Mas como escapar desse mal? A primeira parte é saber o que você quer. O que você quer de verdade, não aquilo que você acha que deveria querer. A questão é que essa parte é difícil para caramba, tem gente que passa anos na terapia e não descobre. Desejar requer uma boa dose de coragem. A segunda parte é comunicar o seu desejo de forma aberta e direta.

A terceira é lidar com a resposta, que com frequência vai ser um sonoro NÃO. A quarta é não chamar a outra pessoa de raivosa ou agressiva só porque ela disse o que queria e o que a estava incomodando e isso te deixou insatisfeito. Nessa situação, convém não punir a outra pessoa com silêncio, porque poucas coisas são mais passivo-agressivas do que o silêncio.

Parece dica de autoajuda, mas não é, pois elas são muito difíceis de seguir verdadeiramente. Eu mesma, muitas vezes, não consigo. Sou capaz de ficar dias em silêncio porque não quero lidar com as emoções e os desejos alheios ou porque preciso de tempo para entender quais são os meus próprios. Mas reconhecer o problema e dar nome já é um passo, né?

No Dia dos Namorados e nos dias depois dele lembre que se você pedir alguma coisa esperando receber outra, vocês dois terão problemas.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. Autora dos livros 'Parece que Piorou', 'Com Todo o Meu Rancor' e 'Não Quero Ter Filhos', fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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