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X de Sexo Por Bruna Maia
Descrição de chapéu Todas Chuvas no Sul

Trabalhadoras sexuais não conseguem acessar direitos básicos durante crise humanitária

Prostitutas enfrentam de preconceito em abrigos a dificuldade para sacar auxílios

Avenida Farrapos, ponto tradicional de prostituição na capital gaúcha, completamente alagada - Daniel Marenco - 9.mai.2024/Folhapress
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O enredo mítico da puta sofrida que muito jovem foi forçada ao caminho da prostituição e tanta violência sofre nas ruas e cabarés conquista algumas simpatias, provoca pena. Há alguns que não veem essa narrativa como tragédia, e sim como uma escolha livre de fatores externos que pode, inclusive, ser celebrada. O que pouca gente consegue é ver que existem muitas outras histórias além dessas e que prostituição é um trabalho e prostitutas são trabalhadoras (e seres humanos).

Por estarem em uma atividade marginalizada, elas são atingidas de formas específicas quando tragédias se impõem, sejam elas pandemias, crises econômicas ou desastres climáticos. Felizmente, essas pessoas se organizam politicamente e mantêm movimentos sociais e coletivos. Conversei com ativistas do Núcleo de Estudos da Prostituição (NEP) de Porto Alegre, que me passaram um panorama da situação dessas mulheres em meio às enchentes que inundaram cidades inteiras no Rio Grande do Sul.

Soila Mar, coordenadora do NEP, conta que o movimento surgiu na base, com o objetivo de percorrer as ruas, conversar com as trabalhadoras sexuais sobre acesso à saúde, prevenção de ISTs e outros direitos. Sua sede, no Centro Histórico de Porto Alegre, ficou embaixo da água. Isso prejudica a articulação para obter ajuda. Soila conta que muitas trabalhadoras sexuais conseguem migrar para o meio online quando necessário, mas muitas ainda sobrevivem apenas com o trabalho exercido nas ruas. Algumas têm dificuldades para ler e acessar a internet.

O NEP vem tentando localizar essas mulheres, para verificar se elas estão seguras e necessitam de alguma assistência. "Isso se dá por boca a boca, pelo zap, a gente vai tentando chegar nelas por meio da nossa rede." O constante deslocamento é uma característica comum do trabalho sexual. Várias dessas mulheres trabalham longe de casa, até mesmo em outras cidades. Algumas escondem o que fazem da família.

No desenrolar da tragédia, vão ficando claras as dificuldades que as prostitutas enfrentam por serem prostitutas. Na época da pandemia da Covid, muitas tiveram dificuldades ou até mesmo não conseguiram sacar o auxílio emergencial por conta da falta de regulamentação da atividade.

"Outros profissionais liberais conseguem acessar essas ajudas financeiras, elas não. Assim como rotineiramente elas têm dificultado ou negado o acesso à saúde, habitação, creche", me conta Carolina Bonomi, cientista política e voluntária do NEP e da Associação Mulheres Guerreiras de Campinas. É possível que o problema da pandemia se repita, e é uma das coisas que o NEP vem tentando evitar, além de estar recolhendo doações de itens básicos e dinheiro.

"Alguns grupos feministas não conseguem conceber que, mesmo num contexto de precariedade, prostitutas conseguem se organizar politicamente e querem condições dignas de trabalho. A gente vai deixar essas mulheres trabalhando à margem só porque não concordamos com esse conceito de trabalho? Essas pessoas acham que putas só podem falar sobre seus sofrimentos, e não sobre a organização política", complementa Carolina.

Mas por que ajudar especificamente as prostitutas? Não é todo mundo que está precisando de ajuda? Sim, mas populações específicas têm demandas específicas. É tolo pensar que ajuda humanitária não deve levar em consideração gênero, raça, classe, idade, condições crônicas de saúde ou mesmo profissões.

Ninguém está sugerindo que um grupo receba mais ajuda do que os outros, ou que se pare de doar para todos e se direcione apenas para um recorte. O que se busca é mapear quais são as necessidades de cada um para melhor direcionar os recursos. E é bastante fácil entender isso, só que quando estamos falando de populações marginalizadas como as prostitutas, a ideia de que elas mereçam atenção causa revolta (por nenhum motivo além de moralismo, ódio de classe e ódio de gênero).

Não se preocupe! Sua família cristã não deixará de receber auxílio e comida porque uma puta deixou de passar fome e conseguiu sacar auxílio emergencial.

Quem quiser saber mais sobre o NEP e saber como ajudar, é só acessar este link.

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. Autora dos livros 'Parece que Piorou', 'Com Todo o Meu Rancor' e 'Não Quero Ter Filhos', fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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