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X de Sexo Por Bruna Maia

Barbies transantes: seguidores relembram o esfrega-esfrega lúdico da boneca

Veja relatos de aventuras com ursinhos de pelúcia, Ken, Comandos em Ação e outras Barbies

Barbie e Ken deitados na cama
Barbie e Ken deram muitas alegrias aos leitores da coluna - Marcelo Justo / Folhapress
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Nunca vi um filme ter mais marketing espontâneo e não remunerado que o live action da Barbie, com Margot Robbie e Ryan Gosling. Também pudera, a boneca reacendeu a nostalgia das brincadeiras de infância. Tive algumas e adorava brincar de montar looks, passear com as amigas e... de esfrega-esfrega. Descobri nas redes sociais que não sou a única. Aqui e ali começaram a contar histórias de Barbies relando no Ken e em outros brinquedos.

As roçadas mais comuns eram o tradicional papai-e-mamãe (ou mamãe-e-papai) com os bonecos na horizontal fazendo movimentos de vai e vem, e a tesourinha, em que dois brinquedos encaixavam a pelve em xis, com as pernas entrelaçadas. A posição de tesourinha é um clássico no sexo lésbico. Eu costumava optar pelo primeiro.

Quando não tinha Ken, a esfregação acontecia com outros companheirinhos. "As minhas e das amigas eram bem heteronormativas, mas, como ninguém tinha Ken, faziam par com ursos de pelúcia mesmo", disse uma moça. Outra me contou que tinha uma pantera cor-de-rosa de pelúcia do tamanho da Barbie e eles "se pegavam forte". E ainda teve essa: "Eu não tinha Ken, então rolava Barbie com Barbie, e eu tinha um palhaço do McDonald’s do tamanho de um. Eu botava ele pra transar com ela. Hoje sou bi, não vou fazer a piada de que só fico com palhaço."

Um fato é que, na vida real, o Ken é tão boy toy e coadjuvante como o do filme. Tanto que muitas crianças nem tinham o boneco. Eu tive um, que era namorado de três ou quatro bonecas. Como faltava homem, eu cortei o cabelo de uma delas, que era a mais parruda. Quando perguntei aos meus seguidores sobre a brincadeira, descobri que muitos fizeram isso.

José, hoje homem transgênero, pegou uma das suas, cortou as madeixas e fez um binder com fita isolante para torná-la um rapaz – binder é um acessório bastante utilizado por homens trans para atenuar o volume das mamas. "Coincidência ou não, meses depois eu ganhei um Ken e uma Barbie grávida; enfim, a tentativa de reforço da cisheteronormatividade reprodutiva."

Meninos também brincavam de roçar. Um me falou que, de vez em quando, surrupiava as Barbies da irmã para terem um lance com seus bonecos do Comandos em Ação, bem famosos na época. A irmã também se apropriava dos brinquedos dele. Outro disse que seus hominhos de brinquedo se pegavam entre si.

Os pais muitas vezes desaprovavam esse tipo de diversão e, por isso, muitas crianças faziam escondido deles, mesmo sem saber o que o ato poderia ter de "errado". Mas nem todos os pais. "Minhas Barbies iam para a balada, não eram casadas e transavam muuuuuuito. Um dia minha mãe foi numa dermato e pegou uma luva de dedo pra usar como camisinha do Ken. Eu não colocava em lugar nenhum, mas passou a fazer parte do meu universo. Achei a atitude da minha mãe incrível".

De fato, algo louvável que contribui para a educação sexual desde cedo! E entendo que ela não tenha conseguido colocar a camisinha em lugar nenhum, considerando que os brinquedos não tinham genitália aparente.

Muitos hoje adultos só foram perceber bem mais tarde que o esfrega-esfrega lúdico lembrava o ato sexual. A sexualidade infantil é um assunto tabu, mas, há mais de século, Freud apontou que crianças pequenas descobriam o prazer genital. Tenho 1200 restrições com Freud e acho que ele falou muita besteira.

Por exemplo: disse que o orgasmo clitoridiano era imaturo e coisa de criança, e que mulheres adultas tinham orgasmos vaginais. Com isso, ele ajudou a invisibilizar nossa principal fonte de prazer sexual. Mas, no caso da descoberta da sexualidade infantil, suas observações fazem sentido, ok? É óbvio que é uma coisa pra elas explorarem sozinhas, sem nenhum adulto envolvido –até porque isso é um dos crimes mais hediondos que existe.

Se você tem filhos pequenos e eles brincam assim, saiba que isso é normal e faz parte do desenvolvimento infantil. Conversas sinceras sobre o assunto são muito mais saudáveis que repressão!

X de Sexo por Bruna Maia

Bruna Maia é escritora, cartunista e jornalista. É autora dos livros "Parece que Piorou" e "Com Todo o Meu Rancor" e do perfil @dabrunamaia nas redes sociais. Fala de tudo o que pode e do que não pode no sexo.

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