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Tony Goes

Pedro Cardoso tem um ponto: muitas cantoras se expõem em excesso para vender mais

Mas ator errou em apontar Beyoncé como artista que 'vende sua vida pessoal'

O ator Pedro Cardoso - Reprodução/Instagram
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São Paulo

O ator Pedro Cardoso nunca foi conhecido pela doçura de seu temperamento ou por seu comedimento com as palavras. Tanto na internet como na vida real, o Agostinho de "A Grande Família" (Globo) já se envolveu em inúmeras polêmicas. Uma das mais épicas aconteceu no extinto programa Na Moral, apresentado por Pedro Bial, na Globo.

Pedro entrou em atrito com o fotógrafo Felipe Panfili, do site Ego, que o perseguia pelas ruas do Rio de Janeiro. O paparazzo, com toda a elegância, retrucou: "Nós dois trabalhamos para a mesma empresa" (o Grupo Globo). Nesta terça (2), Pedro voltou a causar celeuma nas redes sociais. Tudo por causa de um tuíte em que ele dizia preferir artistas que não expunham suas vidas pessoais na mídia. Como exemplo, ele comparou a discretíssima Tracy Chapman com ninguém menos que a diva Beyoncé.

Erro fatal. Morando em Lisboa, Pedro talvez não saiba do status quase sagrado que Beyoncé desfruta no Brasil neste momento por causa de sua visita-relâmpago a Salvador nas vésperas do Natal. Qualquer crítica à cantora é imediatamente lida como um ataque à negritude e à ancestralidade. Além do mais, Beyoncé leva uma vida bastante discreta. Não expõe os filhos na internet nem dá detalhes de seu casamento com o rapper Jay-Z.

Sabemos que ele foi infiel a ela, porque essas traições inspiraram boa parte das letras do álbum "Lemonade", que Beyoncé lançou em 2016. Mas querer que um artista não use suas experiências pessoais como matéria-prima para sua arte não tem o menor cabimento. O debate nas redes se desviou para a questão racial e ofuscou o ponto que Pedro Cardoso queria ressaltar. Independentemente da cor da pele, há mesmo muitas cantoras que expõem minúcias de suas vidas pessoais, em busca de engajamento nas redes e repercussão para seus trabalhos.

Veja que eu disse "cantoras", no feminino mesmo. São raros os artistas masculinos que seguem a estratégia da superexposição. Consequência direta do machismo que ainda permeia a sociedade, que exige que mulher, antes de ser talentosa, seja bonita e gostosa. Antes elas exibiam apenas o corpo; agora têm que expor também a alma para se destacar da manada.

A indústria do entretenimento sempre usou a vida pessoal dos artistas para se promover. Nas décadas de 1940 e 1950, as colunas de Louella Parsons e Hedda Hopper contavam mexericos sobre as estrelas de Hollywood, e serviam de linha auxiliar do departamento de marketing dos grandes estúdios.

Até que os próprios artistas tomaram essa iniciativa para si mesmos. A grande pioneira foi Madonna. No começo da carreira, ela dava entrevistas francas sobre com quantos homens já havia transado. E chocou os próprios fãs ao publicar o livro "Sex", em 1992, com fotos eróticas em preto e branco em que aparecia nua em pelo.

Mas o exibicionismo de Madonna tinha um fundo político. Ela queria empoderar as mulheres, mostrar o sexo como algo saudável e corriqueiro e provar que era dona de seu próprio nariz (e do corpo). Hoje, aos 65 anos de idade, Madonna posta fotos de viagens com os filhos em seu perfil no Instagram –sua era de provocações ficou para trás.

Aqui no Brasil, Anitta refinou a arte da superexposição. Sabemos que ela tem uma tatuagem no ânus, que já participou de várias surubas e que troca de namorado com frequência.

Porém nada supera o desabafo choroso de Luísa Sonza no programa Mais Você (Globo), de Ana Maria Braga, em setembro do ano passado. A cantora gaúcha havia recém-descoberto que Chico "Moedas" Veiga, o muso inspirador de seu hit "Chico", não era fiel a ela. Luísa leu ao vivo uma carta ao ex-namorado, e contagiou Ana Maria com suas lágrimas.

Pouco depois, levantou-se que tudo não passou de uma operação de marketing para desviar a atenção do público do processo a que Luísa respondia, acusada de racismo. Pode até ser: recentemente, surgiu a notícia de que ela abandonou no meio uma entrevista ao Fantástico quando a repórter abordou este caso. O fato é que a "venda da vida pessoal" de que fala Pedro Cardoso não é fenômeno recente. Mas se tornou avassaladora nos últimos tempos com a proliferação nas redes de perfis de subcelebridades –estas, sim, dispostas a quase qualquer coisa por 15 segundos de fama.

A superexposição é prejudicial? Para o próprio artista, sim. Para uma pessoa comum, só se ela se tornar o único caminho para o sucesso em qualquer área, o que ainda está longe de acontecer.

Por isso, relaxa, Pedro. Ninguém é obrigado a consumir o que não quer, e nunca houve tanta variedade de escolha como hoje, graças à tecnologia. Todos os álbuns da Tracy Chapman estão disponíveis online, obaaa.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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