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Tony Goes
Descrição de chapéu Aracy Balabanian (1940-2023)

Com a morte de Aracy Balabanian, sinto que perdi alguém da família

Atriz 'frequentou' minha casa por mais de 50 anos e se tornou uma tia querida

A atriz Aracy Balabanian - Renato Rocha Miranda/TV Globo
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São Paulo

Eu tinha 12 anos de idade quando me dei conta da existência de Aracy Balabanian. O nome dela até já me era familiar, mas eu não assistia às novelas da Tupi, onde ela brilhou em títulos como "Antonio Maria" ou "Nino, o Italianinho".

Lá em casa preferíamos as tramas da Globo, para onde Aracy entrou fazendo a psicóloga Giovana, na reta final de "O Primeiro Amor", de Walther Negrão, ocupante da faixa das 19 horas durante quase todo o ano de 1972.

A chegada da atriz foi tratada pela emissora como a conquista de um troféu. Aracy Balabanian foi uma das primeiras grandes estrelas da Tupi que a Globo conseguiu arrancar de sua então grande rival. Outras se seguiriam em breve: Antonio Fagundes, Eva Wilma, Tony Ramos, Irene Ravache, Nicette Bruno...

Naquele mesmo ano, Aracy estrelou a versão brasileira de "Vila Sésamo", um inovador programa infantil criado pela TV pública dos EUA, e que no Brasil foi coproduzido e exibido pela Globo e pela TV Cultura. Ao seu lado, dois ex-companheiros do elenco de "Hair": Armando Bogus e Sonia Braga. Sim, amiguinhos, a aparentemente recatada Aracy aparecia nua em pelo no palco de um dos mais revolucionários musicais de todos os tempos.

Já dona de uma vitoriosa carreira no teatro, Aracy frequentou pouco os palcos depois que se transferiu para a Globo. Ao longo do mais de meio século em que foi contratada pela casa, participou de apenas 10 peças. Mas sua sólida formação anterior garantiu a ela uma versatilidade que poucas atrizes brasileiras conseguiram.

E assim Aracy se tornou uma figura constante no vídeo, emendando uma novela atrás da outra. Marcou época como a Tereza de "Corrida do Ouro" (1974), a Cristina de "Bravo!" (1975), a Violeta de "O Casarão" (1975), a Milena de "Locomotivas" (1977) ou a Maria Faz Favor de "Coração Alado" (1980). Poucas vezes foi a protagonista absoluta, mas era muito mais do que uma coadjuvante de luxo.

A década de 1990 lhe trouxe seus dois personagens mais icônicos, ambos criados por Silvio de Abreu. A vulcânica dona Armênia, cujo sotaque carregado Aracy tomou emprestado de seus próprios pais, fez tanto sucesso em "Rainha da Sucata" (1990) que retornou em outra novela do mesmo autor, "Deus no Acuda" (1992), algo raríssimo na televisão brasileira.

De temperamento radicalmente oposto, a gélida milionária Filomena Ferreto, de "A Próxima Vítima" (1995), rendeu diversos prêmios a Aracy. Difícil imaginar outra atriz brasileira interpretando tão bem dois papéis tão diferentes entre si.

E ainda houve o sucesso estrondoso da sitcom Sai de Baixo (1996-2002), em que a socialite Cassandra feita por Aracy servia mais para rir das piadas dos demais atores e ser alvo da língua venenosa de Miguel Falabella. Seu personagem Caco Antibes não poupava Cassandra, chamando-a sempre de "Cabeção", e volta e meia insinuava que Aracy teria transado com todo mundo na Tupi. Eram tiradas meio pesadas, mas a atriz não estava nem aí apenas se esborrachava de rir.

Essa leveza de viver conquistou a todos que trabalharam com ela. É impressionante a quantidade de depoimentos emocionados de seus colegas, destacando sua generosidade, sua falta de estrelismo, seu amor genuíno por todo mundo. Aracy Balabanian não teve filhos, mas era chamada de "dinda" ou "madrinha" por muita gente nos corredores da Globo.

Eu também sinto que perdi uma espécie de tia. Nunca a conheci pessoalmente, mas ela "frequentou" a minha casa por mais de 50 anos, através da tela da TV. Era quase alguém da família. Passei por algo parecido quando se foram Eva Wilma e Nicette Bruno, divas da mesma geração e que também tiveram carreiras longas e frutíferas.

Fiquei surpreso quando soube que a última atuação de Aracy na televisão foi no especial de Natal "Juntos a Magia Acontece", exibido em 2019. A Globo afastou quase todos os atores mais velhos de seu elenco durante a pandemia para protegê-los do contágio. Depois disso, ela ainda deu uma entrevista ao Conversa com Bial, cerca de um ano atrás.

Mas Aracy Balabanian está de tal forma incrustada nas minhas memórias afetivas que tenho a sensação de que a vi outro dia, que cruzei com ela na rua, que trocamos duas palavrinhas. Sim, ela morreu relativamente cedo, aos 83 anos, e deixa uma enorme saudade. Resta o consolo de saber que se foi como uma unanimidade nacional.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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