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Tony Goes

Reality shows têm uma parcela de culpa na ascensão de figuras asquerosas como Andrew Tate

Como produtores de elenco podem evitar a escalação de potenciais criminosos?

Andrew Tate - REUTERS
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Andrew Tate conta com quase 21 milhões de seguidores no Instagram, possui 33 carros de luxo e se gaba de ser multimilionário. Também está preso na Romênia desde dezembro de 2022, juntamente com seu irmão Tristan. Os dois são acusados de estupro, tráfico de mulheres e formação de quadrilha.

Tate já era um lutador de kickboxing razoavelmente conhecido, mas só se tornou famoso para valer depois de sua passagem meteórica pela versão britânica do Big Brother, em 2016. Ficou apenas seis dias na competição: foi expulso quando surgiu na internet um vídeo em que ele aparecia agredindo uma mulher.

Desde então, Tate descobriu uma nova e lucrativa carreira: a de influenciador digital. Não abandonou os ringues de luta, mas se notabilizou pelas declarações machistas e homofóbicas nas redes sociais. Abriu um site onde oferece cursos para homens se tornarem tão repulsivos como ele, envolveu-se em várias polêmicas e se tornou um dos expoentes do chamado movimento Red Pill, que prega a submissão feminina aos desejos masculinos.

É típico da nossa era que um sujeito tão asqueroso tenha se tornado uma celebridade com milhões de fãs no mundo inteiro. Também é culpa da internet, que dá voz a desqualificados e bandidos. Mas, nesta coluna, quero analisar o pecado original que permitiu a ascensão de tipos como Tate: os reality shows.

Qualquer produtor de TV sabe que o segredo do sucesso de um reality competitivo não são as regras. É o elenco. São as personalidades dos participantes que irão determinar se o programa será interessante ou não. E um reality de confinamento precisa de conflitos. Então, nada melhor do que recrutar pessoas de temperamento forte e opiniões controversas, não é mesmo?

A fórmula costuma dar certo, proporcionando embates homéricos que deliciam o espectador – e, de quando em quando, até gerando debates importantes sobre temas como racismo e misoginia. Mas também costuma dar errado, ao jogar holofotes sobre pessoas desqualificadas que deveriam permanecer entocadas nas frestas de onde saíram.

Felizmente, nem todo mundo se dá bem depois de causar escândalo num reality. Daniel Echaniz, expulso do BBB 12 por tentativa de estupro, sumiu do noticiário, mesmo tendo sido absolvido pela Justiça.

Mas Nego do Borel, expulso de A Fazenda 13, e MC Guimê e Cara de Sapato, expulsos do BBB 23, continuam por aí, recebendo "solidariedade" pela "injustiça" que sofreram. Era até esperado, numa sociedade que aplaude as sucessivas traições de Neymar e ainda o chama de "menino".

Adianta cobrar mais responsabilidade dos produtores de elenco os reality shows? Por mais que se revirem currículos, perfis nas redes e fichas na polícia, é impossível garantir 100% que um participante irá se comportar bem. Na verdade, espera-se que ele se comporte mal – até certo ponto, é claro. Mas os limites são ultrapassados com frequência.

A Fazenda, na Record, se notabilizou como uma espécie de clínica de reabilitação de carreiras caídas em desgraça. Não funcionou muito com Nego do Borel, mas, no ano anterior, o rapper MC Biel terminou em segundo lugar, mesmo tendo entrado no jogo já carregando acusações de assédio sexual.

Tremo só de pensar que Léo Lins, o comediante que ganhou notoriedade com suas piadas grosseiras sobre mulheres, negros, gays, gordos e deficientes físicos, tenha sido sondado para a edição de 2023 de A Fazenda.

Mas também me consolo ao lembrar que Andrew Tate foi preso por causa de uma resposta que ele deu à ativista Greta Thurnberg, durante a treta que os dois tiveram no final do ano passado. Tate postou uma foto onde aparece com caixas da cadeia de pizzarias Jerry’s, da Romênia. Até ali, nem se sabia que ele estava naquele país. A polícia local descobriu seu paradeiro, e ele está preso desde então (agora, em prisão domiciliar , o que pode mudar se as acusações contra ele forem aceitas pela Justiça romena).

Esses caras são revoltantes e até criminosos, mas também são muito burros.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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