Lumiar é só uma mulher se enrolando na vida, diz Carolina Dieckmann
De volta às novelas, atriz faz sucesso como vilã em 'Vai na Fé'
Carolina Dieckmann ficou quase quatro anos afastada da TV. Sua penúltima novela na Globo foi "O Sétimo Guardião", exibida entre 2018 e 2019 –uma trama marcada por muitos problemas nos bastidores e baixa repercussão entre o público.
Pouco depois, começou a pandemia. Carolina morava em Miami, onde seu marido, Tiago Worcman, trabalhava como executivo da Viacom, o conglomerado de mídia que inclui a MTV e a Paramount. Com a diminuição da malha aérea e as restrições a viagens, vir ao Brasil se tornou complicado.
"Eu fiquei ainda mais exilada do que já era", conta a atriz, em entrevista por telefone. "Aí o convite para 'Vai na Fé' coincidiu de chegar bem na hora em que estávamos todos voltando para o Brasil. É muito melhor trabalhar perto da família. Eu me sentia culpada antes, querendo estar lá quando eu estava aqui, e vice-versa".
A atual ocupante da faixa das 19 horas da Globo deu a Carolina a segunda vilã de sua carreira: a advogada Lumiar, que renega os pais hippies e pode infernizar a vida da mocinha Sol, papel de Sheron Menezzes. A primeira vilã foi Leona, um tipo muito mais caricato, da novela "Cobras e Lagartos", de 2006.
"A gente ainda não sabe se a Lumiar é mesmo uma vilã", alerta a atriz. "Mas ela faz coisas erradas. Era uma mulher muito correta, com uma vida aparentemente perfeita, que de repente perde o controle das coisas e começa a se enrolar."
"A Lumiar é humana, é cheia de camadas. A cada bloco de capítulos que eu leio, tenho uma surpresa. Ela tem muitas viradas, faz coisas que eu não esperava. Até no nome a Lumiar surpreende, ela é antagônica até nisso. Tudo o que eu podia esperar de um personagem, a Lumiar está me dando de sobra."
Carolina conta que construiu sua interpretação em parceria com Samuel de Assis, que vive Benjamin, o marido da personagem. "O Ben é um pilar muito importante da Lumiar, e o Samuel é muito generoso e observador", aponta ela.
"Primeiro eu procurei entender quem era esse casal, para só depois entender quem é essa mulher, o que ela viveu antes dele. Talvez a Lumiar seja a primeira personagem que eu trabalho sob um outro ponto de vista, sob uma perspectiva que não é só a minha".
Personagens dúbios, que não são totalmente bons ou totalmente maus, são uma especialidade da autora Rosane Svartman, com quem Carolina não havia trabalhado antes.
"A Rosane é quase um personagem da novela, as pessoas interagem com ela nas redes sociais", ri Carol. "Ela e sua equipe de roteiristas escrevem os capítulos lá nos Estúdios Globo, e de vez em quando um deles vai acompanhar as gravações. Eu nunca tinha visto isso antes: um autor presente no set".
O sucesso de "Vai na Fé" surpreendeu Carolina. "Fazia muito tempo que eu não via tanta gente comentando uma novela. Até pessoas que eu sei que não assistem vêm falar comigo. E a repercussão positiva nas redes é algo novo para mim". A atriz chegou a reativar seu perfil no Twitter, que havia sido hackeado sete anos atrás, para conversar com os fãs e acompanhar os memes que a novela vem inspirando.
Ao longo de 30 anos de carreira, Carolina Dieckmann protagonizou dois episódios que afetaram a sociedade brasileira como um todo. O primeiro foi a icônica cena em que sua personagem Camila raspa os cabelos, aos prantos, na novela "Laços de Família", de 2000.
"Aquilo foi um presente que o Maneco me deu", diz ela, se referindo ao autor Manoel Carlos. "Se você reparar, não tem texto. Sou só eu chorando em frente à câmera". Carolina também conta que não hesitou em ficar careca. "Eu perdi dois contratos de publicidade por causa da minha aparência, mas valeu a pena."
Camila fazia quimioterapia para tratar uma leucemia. O drama da garota, que até então era meio odiada pelo público por ter "roubado" o namorado da mãe, não só comoveu o Brasil como aumentou as doações de medula óssea em 2.500%.
O segundo episódio importante vivido por Carolina foi a agressão absurda que ela sofreu em 2012, quando foi chantageada pelo técnico que deveria consertar seu computador. O sujeito encontrou na máquina algumas fotos íntimas da atriz, que ela havia enviado para o marido, e, ao não ter suas demandas atendidas, divulgou as imagens na internet.
"Eu denunciei esse caso mesmo sem saber se as pessoas ficariam do meu lado", desabafa. E nem todas ficaram. "Fui muito julgada, muito execrada, inclusive por outras mulheres".
No ano seguinte, entrou em vigor uma legislação específica para crimes informáticos, que foi logo apelidada de Lei Carolina Dieckmann.
"Quando eu ouço alguém dizer, até estranho: mas sou eu a Carolina Dieckmann?", ri. "O importante é que essa história rendeu algo bom, que está ajudando as pessoas."
No momento, Carolina alterna as gravações de "Vai na Fé" com apresentações de seu show "Karolkê", em que interpreta, ao lado do músico Feyjão, canções que marcaram as vidas de muita gente. "Eu não sou uma cantora, sou uma atriz que canta", ressalta ela. "É um projeto totalmente despretensioso, é uma caixinha de música animada".
A rotina agitada de hoje contrasta com a pacata vida de dona de casa nos EUA que Carolina Dieckmann levava até pouco tempo atrás. Ela diz que às vezes se sente quase uma malabarista, mas não desanima.
"A gente tem que agir de acordo com o que acredita. Com coragem, né? Nem sempre dá certo. Mas, quando dá, é muito, muito bom."
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