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Tony Goes

Golpistas passando vergonha renderam os melhores vídeos de humor do ano

Na falta de humorísticos na TV aberta, rimos dos palhaços da vida real

Bolsonarista agarrado em cabine de caminhão - Reprodução/Twitter
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São Paulo

Como todo mundo sabe, os programas de humor praticamente desapareceram da TV aberta brasileira. Sobrevivem a antediluviana "A Praça É Nossa", no SBT, "Encrenca", na RedeTV!, e "Perrengue" e "Nóis na Firma", na Band, todos com baixa repercussão. A Globo não investe no gênero há mais de um ano e, ao invés de exibir material inédito, reprisa episódios de "Vai que Cola", "Lady Night" e "Que História É Essa, Porchat?", entre outros, produzidos pelos canais pagos de seu grupo.

Isto não quer dizer que não rimos mais diante de uma tela. Mesmo antes desta seca generalizada, a fonte mais rica de risadas no Brasil já era a internet, onde surgiram fenômenos como Whindersson Nunes e o Porta dos Fundos.

Também é na web que emergem piadas involuntárias protagonizadas por pessoas comuns, frequentemente mais engraçadas que as produzidas por profissionais. É o caso da enxurrada de conteúdo absurdo que vem jorrando dos bloqueios golpistas por estradas de todo o país, desde que Lula venceu a eleição para presidente no domingo passado (30).

Alguém vai dizer que essa galera é inocente, bem-intencionada e, na pior das hipóteses, apenas desinformada. Bota desinformação nisto: os caras vivem numa realidade paralela à prova de fatos, onde nem os tiros de fuzil disparados por Roberto Jefferson conseguem penetrar.

Foram enganados por seu mito durante anos de que as urnas eletrônicas não eram confiáveis e que o Exército daria um golpe de estado caso o atual presidente não fosse reeleito. Tudo isto temperado com fervor religioso, patriotismo tresloucado e uma boa dose de truculência.

O resultado está aí: de norte a sul, vemos bolsominions pagando mico em público, devidamente registrados em vídeos que logo viralizam nas redes sociais.

Difícil dizer qual desses é o mais divertido. O campeão atual é o do sujeito que tentou barrar a passagem de um caminhão em Pernambuco, agarrou-se ao para-brisa do veículo e acabou percorrendo dezenas de quilômetros em alta velocidade, numa situação bastante perigosa. Felizmente, ninguém se machucou, o que permite que a gente ria dessa metáfora visual: a realidade atropelando as fake news.

Mas a concorrência é acirrada. Adoro a turba que vibra com a notícia falsa da prisão do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Muitos se ajoelham e agradecem aos céus, na certeza de que Deus está ao lado deles. Não está...

E o que dizer dos paspalhos que desfilam feito soldadinhos na frente de um quartel, como se essa demonstração patética fosse convencer os militares a intervir? E os imbecis que cantam o hino nacional para um pneu? E o senhor que segura um cartaz bilíngue e traduziu o nome da cidade de Natal para "Christmas"?

Tem também o áudio em que uma mulher garante que o Tribunal de Haia, "com H", já estaria no Brasil, e mandaria prender Lula et caterva assim que se passassem 72 horas da eleição. Até agora, evidentemente, nada.

Essa cambada merece todo o nosso desprezo, pois se expuseram sozinhos ao ridículo e ainda queriam arrastar o resto do Brasil para a lama onde vivem. Pena que nem todos os vídeos que pipocaram nos últimos dias sejam de humor. A multidão que faz uma saudação nazista em Santa Catarina é apavorante, porque não é possível que ninguém ali saiba o que está fazendo.

E ainda temos Cássia Kis ajoelhada na chuva e rezando por uma ditadura, junto a golpistas que bloquearam uma via no Rio de Janeiro. A atriz parece decidida a não perder uma única oportunidade de afundar ainda mais o que resta de sua reputação.

É claro que, apesar da euforia que muitos sentiram com a vitória de Lula, temos tempos difíceis pela frente. Além dos enormes desafios econômicos e sociais, o novo governo terá que lidar com uma oposição renhida no Congresso e, pelo visto, malucos dispostos a investir contra a democracia. Pelo menos esses últimos só estão conseguindo passar vergonha e nos fazer rir.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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