Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Tony Goes
Descrição de chapéu YouTube internet

'Novelei' é uma carinhosa tiração de sarro do maior fenômeno cultural brasileiro

Primeira parceria entre a Globo e o YouTube estreia nesta segunda (11)

Tony Ramos e Susana durante gravação de 'Novelei' - Divulgação
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Ao longo de várias décadas, as novelas foram tidas como um produto inferior da cultura brasileira. Para os estudiosos, não importava que o capítulo final de "O Direito de Nascer", exibida pela extinta TV Tupi entre 1964 e 1965, tenha sido transmitido ao vivo do Maracanãzinho, no Rio de Janeiro, com as arquibancadas lotadas. Ou que "Roque Santeiro", em fevereiro de 1986, rendesse inacreditáveis 100 pontos de audiência à Globo em seu último episódio. Novela não tinha grande valor artístico. Era descartável, para ser consumida entre um comercial e outro de extrato de tomate.

Foi só em meados da década de 1980 que as novelas começaram a ser levadas a sério pela academia. Afinal, nenhuma outra manifestação cultural atingia tanta gente ao mesmo tempo. A qualidade também havia crescido. Clássicos da nossa literatura como "Gabriela, Cravo e Canela", de Jorge Amado, ou "Senhora", de José de Alencar, foram adaptados ao gênero. E os dramalhões de origem cubana foram substituídos por tramas que se passavam no Brasil contemporâneo, como a revolucionária "Beto Rockefeller" (Tupi), de 1969.

As novelas se transformaram num fórum de discussão, onde o país debate questões importantes como o divórcio, o uso de drogas, a violência doméstica, o casamento homoafetivo e a transexualidade. Mas, acima de tudo, elas se tornaram uma grande memória afetiva compartilhada. Uma parte importante do nosso DNA cultural e emocional.

Os três parágrafos que abrem esse texto soam pomposos, porque o assunto em que eles querem chegar é pura galhofa: a série "Novelei", que estreia nesta segunda (11), às 20 horas, no canal da Globo no YouTube.

"Novelei" se passa numa realidade alternativa, em que as novelas da Globo, de maneira inexplicável, não só desapareceram fisicamente dos arquivos da emissora, como também da memória dos espectadores. Por alguma razão ainda mais misteriosa, só "Kubanacan" sobreviveu.

Para resgatar esse patrimônio inestimável, um assistente de produção chamado Vitinho, vivido por Paulo Vieira, convoca um grupo de influenciadores digitais para recriar cenas memoráveis de tramas como "O Cravo e a Rosa", "Avenida Brasil" e "Mulheres de Areia".

A premissa lembra a do longa "Rebobine, Por Favor" (2008), de Michel Gondry, em que os funcionários de uma videolocadora refazem de maneira amadora os filmes em VHS do acervo da loja, que foram todos desmagnetizados.

Mas "Novelei" é uma produção da Globo. Isto quer dizer que o elenco conta com nomes como Tony Ramos, Susana Vieira, Claudia Raia e muitas outras estrelas, e que captação, edição e finalização são todas de primeira linha. Aliás, esta é uma das graças do programa: ele consegue ser um produto muito bem-acabado, do mais alto nível profissional, sem perder o tom de brincadeira irresponsável feita por um grupo de amigos. Uma carinhosa tiração de sarro, que zoa do maior fenômeno cultural brasileiro ao mesmo tempo em que o exalta.

A Folha teve acesso ao primeiro dos nove episódios, que revisita aquela que talvez seja nossa melhor novela de todos os tempos: "Vale Tudo", de 1988, escrita por Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères. A briga entre Maria de Fátima e Solange, o assassinato de Odete Roitman, Heleninha dançando um mambo caliente: está tudo lá, ligado no 220, com participações especiais de Kéfera Buchmann e Gretchen.

Criada por Bia Braune, também colunista da Folha, escrita com a colaboração de Nigel Goodman e Marcelo Martinez, e com direção artística de José Joffily, "Novelei" ainda é o primeiro "YouTube Original" da história da Globo. Não será exibida na TV aberta, nem no canal Viva ou no Globoplay. Poderá ser vista apenas no canal da emissora no YouTube. Um sinal dos tempos, mostrando que o maior veículo de comunicação do país finalmente está disposto a fazer parcerias externas para atingir um público que anda cada vez mais arredio: os jovens.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem