Aviso
Este conteúdo é para maiores de 18 anos. Se tem menos de 18 anos, é inapropriado para você. Clique aqui para continuar.

Tony Goes

Em 1º lugar no Spotify, Anitta se vinga dos haters e confirma o sucesso de sua estratégia

Mesmo com uma considerável torcida contrária, cantora chegou onde queria

Cena do clipe 'Envolver', de Anitta - Reprodução
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Em 2017, Anitta lançou o projeto "Checkmate": uma série de singles cantados em português, inglês e espanhol, depois reunidos num EP, acompanhados por seus respectivos vídeos. O objetivo era projetá-la no mercado internacional, depois dessa carioca de Honório Gurgel ter se tornado uma das cantoras mais populares do Brasil.

"Checkmate" foi um sucesso mediano. A faixa "Downtown", um dueto em espanhol com J Balvin, virou hit na América Latina. "Vai Malandra", um funk em português, chegou ao 18º posto na parada global do Spotify. Mas, para o público norte-americano –o alvo preferencial do projeto– Anitta continuou desconhecida.

Ela não desanimou, muito pelo contrário. Aprendeu a falar inglês e espanhol com maestria, e hoje dá entrevistas nessas línguas como se fosse uma nativa. Gravou com inúmeros artistas internacionais. Participou de inúmeros programas. Foi até chamada por Madonna para dividir os vocais de "Faz Gostoso", do álbum "Madame X", lançado em 2019.

E, mesmo assim, o superestrelato internacional não chegou. Apesar de circular por diversos estilos e idiomas, Anitta não conseguia emplacar um grande sucesso global. Seus planos de se converter numa nova Shakira pareciam fadados ao fracasso.

Anitta conta com uma base fiel de fãs brasileiros, que a apoiam incondicionalmente em todos os momentos de sua carreira. Mas suas tentativas frustradas de ficar famosa no exterior geraram um movimento contrário: uma onda de haters, que adora diminuí-la nas redes sociais e ridicularizar seu trabalho.

Trata-se de um esporte tipicamente nacional. Aqui no Brasil, vibramos quando um conterrâneo nosso brilha no exterior, mas também adoramos quando alguém quebra a cara lá fora. Bem-feito, quem mandou? Tava se achando!

Acontece que o mercado fonográfico não é fácil para ninguém. Anitta, especificamente, enfrenta uma concorrência feroz: centenas de cantoras da mesma faixa etária, tão lindas como ela, e tão "rebolativas" quanto. É duríssimo se destacar entre tantas Doja Cats e Charlis XCX.

A estratégia adotada por Anitta foi a da água mole em pedra dura. É raro um mês sem alguma novidade dela. Um single, um feat., uma aparição num talk show da TV americana. A moça simplesmente não para. Um dia, há de dar certo.

E deu. "Envolver" nem é seu mais recente trabalho. A música foi lançada em novembro de 2021, e fez pouco barulho na época. Em fevereiro, a cantora gerou mais mídia em torno de "Boys Don’t Cry", uma baba dance gravada em inglês com produtores suecos –e que, ainda assim, não foi o estouro esperado.

Não dá para minimizar a importância do Tik Tok no sucesso de "Envolver". A faixa não teria chegado ao primeiríssimo lugar na parada global do Spotify se a dancinha quase pornô que Anitta faz no vídeo não tivesse sido imitada por milhares de usuários do aplicativo pelo mundo afora. Viralizar no Tik Tok não é a única maneira de fazer sucesso na música de hoje, mas já é a mais importante.

É verdade que, no cobiçado mercado dos Estados Unidos, "Envolver" ainda não teve o mesmo impacto. Mas antes que alguém levante a mão e grite "ahá", é bom lembrar que uma outra jovem cantora, muito mais badalada pela imprensa internacional do que Anitta –a espanhola Rosalía– nunca frequentou o topo da parada americana.

Com este primeiro lugar, Anitta dá um cala-boca em seus haters. É a única brasileira a conseguir tal façanha. Através do trabalho árduo e incessante, ela mostrou que sua estratégia de marketing estava certa, e que o esforço compensa.

Só resta desejar ainda mais sucesso a ela, e ainda mais consciência política. É notável a maneira como Anitta vem se posicionando. Sua campanha para que jovens de 16 anos tirem título de eleitor merece aplausos. Portanto, não venham chamá-la de "alienada" ou coisa que o valha. Anitta é o Brasil que funciona.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

Final do conteúdo
  • Salvar artigos

    Recurso exclusivo para assinantes

    assine ou faça login

Comentários

Ver todos os comentários Comentar esta reportagem