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Tony Goes

Famosos pedem desculpas por atitudes equivocadas, e isto é ótimo

De vez em quando, o tribunal da internet funciona para o bem

Claudia Leitte no Altas Horas - Globo
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Muito se tem falado sobre a cultura do cancelamento e a pressão da internet sobre o comportamento das celebridades. Não há foto fofa no Instagram ou comentário inocente no Twitter que não gere reações negativas. Quem se expõe, inevitavelmente leva paulada.

A reação mais frequente do “réu” era dizer que suas palavras foram tiradas de contexto, ou que pedia desculpas “se por acaso” ofendeu alguém. Outros tentavam apontar o lado positivo de seus deslizes: o influenciador Carlinhos Maia justificou a festa que deu na virada do ano, sem máscaras nem distanciamento social, como um evento que gerou muitos empregos.

Mas os tempos estão cada vez mais sombrios, com a pandemia dando sinais de que não irá arrefecer tão cedo no Brasil. É cada vez mais arriscado agir como Sérgio Reis. Em entrevista ao F5, o cantor disse, se referindo a Jair Bolsonaro: “se falar mal dele, não fala mais comigo”. A lista de pessoas com quem ele não falará mais já é imensa.

Nem mesmo quem está na crista da onda, como Gilberto Nogueira, tem passe livre para fazer o que quiser. Flagrado num restaurante em São Paulo numa grande mesa, na companhia de Neymar, Thiaguinho, Tirullipa e diversos outros ex-BBBs, Gil do Vigor foi alvo de críticas nas redes sociais pela suposta hipocrisia.

Afinal, num dia ele recomenda que se evitem aglomerações, e no outro, ele mesmo está se aglomerando. Sua resposta foi sucinta: “desculpa!”, tuitou o economista.

É pouco para quem vem sendo apontado como exemplo de determinação, e que já virou garoto-propaganda de uma grande marca de laticínios e de um grande banco. O pedido de perdão já é alguma coisa, mas Gil do Vigor precisa ser melhor assessorado.

Quem está muito bem aconselhada é Claudia Leitte. A cantora protagonizou um ligeiro vexame no programa Altas Horas de sábado passado (22). Perguntada pelo apresentador Serginho Groisman sobre o que a indignava, Claudinha tentou escapar pela tangente.

“A minha indignação? Eu tenho um coração pacificador, Serginho”, respondeu a baiana. “Eu me indigno, sou capaz de virar tudo pelo avesso, mas todo mundo tem um lugar onde pode brilhar uma luz para desfazer o que está acontecendo. E se essa luz se acende, obviamente, não vai ter escuridão”.

Tanto Claudia como sua amiga e rival Ivete Sangalo sempre foram cobradas por não se posicionarem politicamente. Mas, dessa vez, os internautas se revoltaram para valer. Até porque Ana Maria Braga e Deborah Secco, presentes ao mesmo programa, deram respostas muito mais pertinentes e taxativas.

Claudia Leitte acusou o golpe. Na segunda (24), ela publicou um vídeo em seu perfil no Instagram em que pede desculpas e, sim, revela o que a deixa indignada. Não sabemos se foi uma atitude espontânea da artista ou se seus assessores detectaram que o estrago seria ainda maior se ela não se posicionasse, mas não importa: são palavras boas.

“Eu precisava ter falado das minhas indignações para levantar questões, discussões saudáveis, conversas a respeito daquilo, mudanças de atitudes”, disse ela. “Me indigna o fato das pessoas que não usam máscaras, continuam promovendo e incitando aglomerações. Isso mata. O número alarmante de mortos é desesperador. O noticiário sangra todos os dias”.

A cantora ainda citou a fome e a violência doméstica, como que para não deixar margem para novos ataques contra si. Finalmente entendeu que não é hora de passar pano para os poderosos.

Por fim, há o caso de Pedro Bial, que foi apedrejado online por usar um pronome masculino para se referir a travestis durante uma entrevista com o ex-jogador Ronaldo, em seu programa de 20 de maio.

Bial já pediu desculpas, também através de um vídeo postado no Instagram. “Não é nem pela reação na internet que venho aqui hoje me penitenciar pelo mau uso, pelo uso infeliz de um artigo, da forma descuidada que eu me referi às travestis”, afirmou ele.

“É pela minha consciência, consciência de alguém que eu não preciso fazer um levantamento histórico, mas de alguém que tem uma história de contribuição para a causa trans”.

Em defesa do jornalista, gostaria de lembrar que “travesti”, originalmente, era um substantivo masculino. Em Portugal continua sendo; só no Brasil, de uma década para cá, é que certos grupos decidiram que se tratava de uma palavra feminina, por se referir a pessoas que se identificam como mulheres.

Beleza: a língua é fluida e muda o tempo todo, e há mesmo muita violência embutida nas palavras que usamos. Mas, se hoje em dia não se usa mais “mulato”, porque o termo remete a mula, talvez “travesti” não devesse ser usado para denominar pessoas trans. “Travesti” significa alguém vestido daquilo que não é. Em inglês, aliás, a palavra “travesty” é sinônimo de fraude.

De qualquer maneira, Pedro Bial agiu bem, e rápido. O tribunal da internet costuma ser implacável e até injusto, mas, nos três casos que eu citei, ele agiu para o bem. Quem dera que que fosse sempre assim.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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