'Comunicadores S.A.' conta como Huck e Silvio Santos se tornaram grandes empresários
Livro de Fernando Morgado explica os negócios dos apresentadores de TV
O produto de maior sucesso da televisão brasileira são as novelas. Os folhetins eletrônicos são responsáveis pelos mais altos índices de audiência e pelas maiores vendas a emissoras do exterior.
No entanto, por mais que faturem, nenhum autor ou ator de novela chega aos pés da fortuna amealhada por alguns apresentadores de TV. Esse grupo seleto, de no máximo 20 pessoas, é formado por figuras de origens díspares, mas que, além da desenvoltura diante das câmeras, têm outro talento em comum: o tino para os negócios.
Também não são um fenômeno exclusivamente nacional. O livro “Comunicadores S.A.”, de Fernando Morgado (ed. Matrix, 192 páginas, R$ 42,00), deixa isto claro logo no prefácio: no mundo inteiro, são muitos os casos de apresentadores que aproveitaram o êxito televisivo para montar verdadeiros impérios empresariais. Mas, talvez, em nenhum outros país eles se façam tão presentes como no Brasil.
Morgado traça o perfil de oito deles em seu livro: Ana Maria Braga, Fausto Silva, Gugu Liberato, Luciano do Valle, Luciano Huck, Ratinho, Raul Gil e Silvio Santos, o maior de todos. Os nomes que ficaram de fora, como Xuxa, Celso Portiolli, Rodrigo Faro, José Luiz Datena, Sabrina Sato e Eliana, são suficientes para um segundo volume.
As breves biografias trazidas em “Comunicadores S.A.” funcionam como um manual de consulta rápida: são mais curtas do que um livro, óbvio, mas mais extensas e consistentes do que um verbete na Wikipedia.
Muitos dados sobre os biografados são curiosos. Faustão e Ana Maria Braga, por exemplo, não se deixaram levar pelo sucesso inicial e souberam recusar campanhas publicitárias que não combinavam com as imagens que queriam projetar. Preservaram-se, e colheram os frutos a médio prazo.
Já Ratinho teve um problema diferente. Seus programas sensacionalistas sempre foram bem no Ibope, mas assustavam os anunciantes. O tempo de sobra nos intervalos comerciais foi preenchido com propaganda de seus próprios produtos.
O capítulo sobre Luciano Huck já nasce datado. Não há uma única menção às pretensões políticas do condutor do “Caldeirão”, que vem se movimentando há anos para viabilizar sua candidatura à presidência da República.
“Comunicadores S.A.” traz dois anexos interessantes em suas últimas páginas. O primeiro é um fac-símile do contrato de 1971 entre a Globo e Silvio Santos, que ocupava com seu programa as tardes de domingo da emissora.
O segundo é um inacreditável ofício datado de 1970, em que o general Tasso Villar de Aquino acusa os programas de auditório de serem “fortes pontos de apoio da ação comunista”, seguido por uma longa defesa assinada pela Silvio Santos Publicidade.
O livro de Fernando Morgado surge no momento em que a era dos apresentadores-empresários parece estar chegando ao fim. Essas personalidades carismáticas vêm sendo aos poucos substituídas pelos famosos formatos, que não dependem de um único apresentador. Isto só aumenta o valor histórico de “Comunicadores S.A.”.
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