Por que o Oscar não gosta de Glenn Close?
Atriz já concorreu sete vezes à estatueta, mas nunca ganhou
Nunca houve tanta diversidade em uma premiação da Academia de Hollywood como na de 2019, transmitida neste domingo (24). Nunca tantas mulheres, negros e orientais levaram para casa a estatueta dourada, o prêmio de maior repercussão do cinema mundial.
Mesmo assim, o Oscar derrapou nas últimas categorias apresentadas. Não teve a coragem de fazer história e entregar seu prêmio principal para “Roma”: seria a primeira vez que um longa em língua estrangeira ganharia como melhor filme (e, ainda por cima, produzido por uma plataforma de streaming).
Os velhinhos da Academia preferiram “Green Book – O Guia”, mais um libelo contra o racismo e a homofobia onde o herói é branco e heterossexual.
O Oscar deste ano também perdeu a oportunidade de reparar uma injustiça histórica. Glenn Close, indicada pela sétima vez, saiu de mãos abanando do Dolby Theatre, em Los Angeles. Ela mesma havia acreditado em seu favoritismo: foi toda de dourado, para combinar com o troféu que pensou que iria receber.
Ganhou Olivia Colman, que está de fato ótima como a desequilibrada rainha Anne em “A Favorita” – de resto, um filme bem superior a “A Esposa”, pelo qual Glenn concorria.
Mas Olivia competiu pela categoria errada: seu personagem é o alvo da disputa entre duas cortesãs, mas não é o principal na trama. A verdadeira protagonista de “A Favorita” é Abigail, interpretada por Emma Stone.
A sétima derrota de Close, sem nenhuma vitória, faz dela a atriz mais indicada que nunca ganhou (o ator continua sendo Peter O’Toole, que perdeu oito vezes). Aos 71 anos de idade, é cada vez mais improvável que ela encontre outro papel digno de um Oscar. Só duas atrizes venceram o prêmio com uma idade ainda mais avançada: Katherine Hepburn (aos 75 anos, pela quarta vez) e Jessica Tandy (aos 80 anos).
Não dá para dizer que Glenn Close seja uma eterna injustiçada. Ela já tem todos os prêmios importantes de atuação americanos. Acumula três Tonys (o Oscar da Broadway), três Emmys e três Globos de Ouro, entre muitos outros troféus.
Além do mais, vinha papando quase tudo na atual temporada de prêmios. Levou o Globo de Ouro, o Critic’s Choice (dividido com Lady Gaga), o SAG Award e o Independent Spirit. Dos principais, só perdeu o BAFTA, o Oscar britânico – que foi para a igualmente britânica Olivia Colman.
Mas o Oscar lhe escapou mais uma vez. Por quê? Que mundo é este, em que uma beldade sem grande talento como Kim Basinger possui uma estatueta, mas uma deusa da interpretação como Glenn, não?
Há alguns anos, li em um site americano uma explicação curiosa: a Academia não gosta de Glenn Close. Não é nada pessoal: ela é respeitada e até querida pelos colegas. Mas a imagem que projeta não a torna digna de um Oscar.
Glenn Close não é uma mulher bonita. Conseguiu ficar sexy em “Atração Fatal” (1987) e está sempre muito bem arrumada, mas tem olhos muito pequenos, lábios finos, testa grande demais. Em miúdos: parece uma bruxa.
Para “piorar”, é uma mulher segura de si, autoconfiante, que não pede desculpas pelo talento. Seus papéis costumam ter um quê de feminismo – ou, pelo menos, de mulheres que usam as próprias regras da sociedade para subvertê-la, como a Marquesa de Montreuil em “Ligações Perigosas” (1988) ou a ‘crossdresser’ de “Albert Nobbs” (2011).
Nada disso cai bem na antiquada Academia. Preferiram premiar uma figura doentia, meio caricata, que, mesmo sendo monarca, não ameaça a hegemonia masculina. Ok, palmas para Olivia Colman – mas a própria atriz disse, em seu discurso de agradecimento, que preferia não ter derrotado Glenn Close.
No frigir dos ovos, esta sétima derrota de Glenn cairá mal para o Oscar, não para a atriz. Somada à derrota de “Roma” como melhor filme, ela faz o prêmio perder importância e estatura.
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