Tony Goes

Ninguém tem nada a ver com a separação do casal José Loreto e Débora Nascimento

Cobranças dos internautas e aos supostos envolvidos são absurdas

José Loreto e Débora Nascimento, que anunciaram separação no dia 16 de fevereiro
José Loreto e Débora Nascimento, que anunciaram separação no dia 16 de fevereiro - Zo Guimaraes/Folhapress
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Dois atores famosos se conheceram em um estúdio, na primeira vez em que trabalharam juntos. O romance que viviam na tela logo se transferiu para a vida real e, em pouco tempo, todo mundo ficou sabendo. Como ambos eram casados com terceiros, o escândalo foi imenso. Até o Vaticano os condenou.

Mesmo assim, Elizabeth Taylor e Richard Burton tiveram sorte. Ainda não existia a internet em 1962, quando os dois se apaixonaram no set de “Cleópatra”. Eles não precisaram lidar com uma avalanche de comentários pseudomoralistas, nem com fofoqueiros profissionais levantando teorias 24 horas por dia.

Não vou dar uma de hipócrita. Escrevo para o F5, um site de entretenimento, e é claro que a separação de dois nomes como Débora Nascimento e José Loreto seria notícia por aqui. Também é nossa obrigação cobrir a reação dos seguidores do casal, e de todos os supostos pivôs do divórcio.

Mas não deixo de me assustar com o furacão midiático que se formou em volta deles. Aliás, mídia nem é a palavra mais precisa. Veículos da imprensa tradicional estão no rolo, mas o tsunami para valer eclodiu nas redes sociais, com a participação ativa de famosos e anônimos.

Amigas célebres de Marina Ruy Barbosa, apontada como o novo affair de Loreto, deixaram de segui-la no Instagram. Foi a senha para que milhares de pessoas que não conhecem pessoalmente nenhum dos envolvidos se sentissem no direito de meter o bedelho, mandando mensagens ofensivas e cobrando atitudes de todos os lados.

Na noite de quarta (20), José Loreto capitulou. O ator postou no Instagram um pedido público de desculpas a Débora Nascimento, citando a letra de “Errei Sim”, um grande sucesso de Dalva de Oliveira.

Loreto fez bem? A curto prazo, provavelmente. Seus seguidores estão, na imensa maioria, desejando paz e felicidade ao casal estremecido. Mas ele pode ter errado no médio prazo, ao validar a internet como um fórum autorizado a discutir sua vida pessoal.

Por outro lado, era meio inevitável que algo assim acontecesse, mais cedo ou mais tarde. O Instagram e outras redes tornaram-se ferramentas indispensáveis para celebridades dos mais diversos naipes. Elas expõem suas intimidades, ou parte delas, e criam uma falsa sensação de familiaridade com os fãs. Também recebem uma grana alta para aparecer usando óculos da marca tal, ou tomando tal drink, ou relaxando na piscina de tal hotel. Você não é ninguém se não tiver pelo menos um patrocinador.

O preço está aí: as mesmas pessoas que aplaudem cada corpo sarado também são as mesmas que exigem um comportamento exemplar. Ainda mais no clima de pânico moral que vivemos desde que o lado mais feio da direita se levantou das trevas onde se escondia.

Existe gente horrível o suficiente para desejar que Fernanda Montenegro, que está internada por causa de uma desidratação, não se recupere mais, pois a maior das nossas atrizes seria uma mamadora de verbas públicas (não é, nem nunca foi). Imagina se não haveria patrulheiros mais do que dispostos a azucrinar um casal em crise? Este é o tempo em que vivemos.
 

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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