A morte mais que anunciada do Vídeo Show
Programa sai do ar na próxima sexta, depois de 35 anos no ar
Duas semanas atrás, eu me perguntei, em reportagem publicada na Folha, se o Vídeo Show ainda tinha salvação.
Não teve. Na tarde desta terça (8), a Globo anunciou de surpresa que a última edição do programa irá ao ar na próxima sexta (11). A emissora nem deu grande importância ao fato: a informação surgiu sem destaque no meio do texto de um email distribuído à imprensa, anunciando novidades na programação de janeiro.
Assim, meio de sopetão e de maneira melancólica, termina um longo capítulo da história da televisão brasileira. O Vídeo Show ficou mais de 35 anos no ar, como um registro vivo e permanente da memória da TV. Agora ele também faz parte dessa memória.
O Vídeo Show estreou no dia 20 de março de 1983, um sábado, apresentado pela atriz Tássia Camargo. A princípio, o programa era semanal, e nem tinha apresentador fixo. Em seus primeiros quatro anos, mais de 60 nomes do elenco da Globo se revezaram no comando da atração. Que era muito mais simples do que é hoje: apenas um amontoado de reprises, sem produção de conteúdo próprio. Só exibia vídeos do acervo da Globo (daí o nome do programa), que àquela altura já tinha 18 anos de existência e mais de dez na liderança absoluta da audiência. Uma maneira barata de preencher uma hora de programação.
Em 1987, Marcelo Tas –em sua única passagem pela Globo– se tornou o apresentador fixo do Vídeo Show. Mas o que sobreviveu daquela época foi o tema de abertura: “Don’t Stop ‘Til You Get Enough”, de Michael Jackson, usado durante anos a fio.
Naquele mesmo ano, o programa ganhou seu apresentador mais marcante: Miguel Falabella, que permaneceu 15 anos na bancada. O Vídeo Show passou a ser exibido de segunda a sexta, depois do Jornal Hoje. Esta fase também marcou a chegada de Cissa Guimarães como repórter. Alguns anos depois, Renata Ceribelli e Virginia Novick se juntaram ao time. A Globo vivia o apogeu de seu poder e influência, e o Vídeo Show, que falava da própria emissora, surfava na mesma onda.
No começo da primeira década do novo século, o programa ganhou um quadro que ocupava metade de seu tempo: Vídeo Game, comandado por Angélica. Talvez fosse o primeiro sintoma de que a velha fórmula de reprises de programas antigos e bastidores de programas novos já não se sustentava tão bem.
Falabella saiu em 2002 e passou o bastão para André Marques. O novo apresentador atravessou diversas configurações do programa, trabalhando ao lado de nomes como Ana Furtado, Cris Couto, Giovanna Tominaga, Bruno de Luca e muitos, muitos outros.
Ao contrário do que parte da imprensa acredita, o Vídeo Show já estava em queda de audiência antes de Zeca Camargo assumir a apresentação do programa. Não foi por outra razão que a Globo tirou o VS do comando de Boninho e o passou para Ricardo Waddington, que vinha de sucessos como “Avenida Brasil” (2012) e Amor e Sexo.
Mas a reformulação proposta por Waddington também não funcionou. Eu fiz parte dela: fui um dos redatores do programa, entre 2013 e 2014. Foi nessa época que começaram as derrotas para A Hora da Venenosa, quadro de fofocas do Balanço Geral, da Record.
Boninho reassumiu o Vídeo Show no começo de 2015, e colocou Otaviano Costa (que já estava no programa) e Monica Iozzi como apresentadores. Também trouxe de volta Miguel Falabella, para fazer o encerramento de cada edição. A audiência reagiu e a crítica aplaudiu. Mas a alegria durou pouco: Monica saiu depois de um ano, decidida a se concentrar em sua carreira como atriz. Foi substituída por Maíra Charken, que não vingou no posto. E, desde então, o Vídeo Show nunca mais se firmou.
Nos últimos anos, Otaviano Costa, Joaquim Lopes e Sophia Abrahão até fizeram um bom trabalho à frente da atração. Mas já era tarde: o Vídeo Show foi atropelado pelos novos tempos. As tentativas de revigorar o programa na era da internet foram em vão. Além do mais, apesar de se manter na liderança geral, a Globo agora enfrenta uma concorrência muito mais acirrada do que nos áureos tempos. O interesse do público pelo que se passa entre os muros da emissora diminuiu bastante.
Os meses derradeiros do Vídeo Show foram muito ruins. Conteúdo fraco e sucessivas derrotas na audiência selaram o fim do programa, agora sob a responsabilidade de Mariano Boni. Vindo do jornalismo e recém-empossado no lugar de Boninho, o novo diretor da área de entretenimento preferiu dar um tiro de misericórdia na atração.
É triste que um programa tão longevo acabe assim, sem uma grande retrospectiva ou um reencontro dos apresentadores. Talvez a Globo esteja preparando alguma surpresa para sexta-feira: veremos. De qualquer forma, o Vídeo Show deixa saudades –mas também a sensação de que já vai tarde.
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