Nova categoria do Oscar para filme popular é um sintoma de desespero após queda da audiência
Transmissão da festa caiu mais de 20% nos Estados Unidos neste ano
Em março passado, a cerimônia de entrega do Oscar foi vista nos Estados Unidos por 26,5 milhões de espectadores. Uma queda de mais de 20% em relação ao ano anterior, quando a festa atingiu 32 milhões de pessoas pela TV. Foi a mais baixa audiência da premiação em todos os tempos.
Os direitos de transmissão do Oscar pela rede ABC são, de longe, a maior fonte de renda da Academia de Artes e Ciência Cinematográficas, que criou há 90 anos o mais famoso prêmio do cinema mundial. Com a audiência em queda, o preço dos intervalos comerciais também cai, assim como o faturamento da Academia.
Esta tendência não é de hoje. Desde o recorde de 1998, quando mais de 40 milhões de americanos viram “Titanic” sagrar-se melhor filme, os números vêm baixando a cada ano.
Em 2009, a Academia mudou uma regra importante. A partir daquele ano, são indicados até dez longas para o prêmio máximo, ao invés de apenas cinco. Uma tentativa de incluir blockbusters entre os finalistas e, quem sabe, atrair um público maior.
Não deu certo. Mesmo com títulos como “Mad Max: Estrada da Fúria” concorrendo a melhor filme, a audiência continuou minguando, principalmente entre os mais jovens.
Nesta quarta (8), a Academia anunciou três mudanças importantes. Uma delas é o adiantamento da data da cerimônia: a partir de 2020, ela acontecerá no começo de fevereiro, e não mais no final. Quanto mais cedo for entregue o Oscar, mais ele impulsionará as bilheterias dos filmes que entraram em cartaz no final do ano anterior.
Outra mudança é o encurtamento da cerimônia. Ela durará no máximo três horas, com alguns prêmios sendo entregues antes, ou mesmo durante os intervalos. Algo parecido já acontece nos Grammys, que têm mais de 100 categorias.
Mas o que levantou a sobrancelha dos cinéfilos do mundo inteiro foi a criação de uma nova categoria: “melhor filme popular”. No entanto, não foram divulgados os critérios que definiriam este tipo de filme, nem como eles serão avaliados.
Não será só pela bilheteria, certamente. Algum juízo de qualidade deve entrar. Mas, a partir de quantos milhões de faturamento um filme pode ser considerado “popular”? Ou será levada em consideração a relação custo-benefício? Filmes que renderam várias vezes seu orçamento, por exemplo.
A ideia nem é nova. Em 1928, seu primeiríssimo ano, o Oscar de melhor filme se dividiu em dois: o épico de guerra “Asas” ganhou o prêmio de “filme excepcional”, enquanto que o drama “Aurora” levou “melhor filme artístico”. Uma divisão tão estranha que foi extinta já no ano seguinte.
Problema nº. 1: o que fazer com filmes como “La La Land”? O sofisticado musical de Damien Chazelle rendeu mais de US$ 100 milhões (R$ 376,5 mi) nas bilheterias americanas. Em que categoria ele se encaixa?
Problema nº. 2: a nova categoria também pode tirar do páreo de melhor filme títulos como “Pantera Negra”, que já vinha sendo apontado como um dos prováveis indicados. É como se o super-herói negro da Marvel, um notável acontecimento cultural, tivesse que sair da mesa dos adultos e ir comer com as crianças.
Bem ou mal, Oscar sempre procurou premiar a qualidade. Sucesso e popularidade contam pontos, mas não podem ser determinantes.
Além do mais, a ausência (até o momento) de uma regra clara é um sinal de que nem a Academia sabe direito o que fazer. Na luta desesperada por uma audiência maior, o Oscar pode perder sua mística e seu prestígio, e se tornar –de uma vez por todas– um prêmio irrelevante.
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