Tony Goes

Demissões na TV aberta sinalizam as mudanças no setor

O humorista Moacyr Franco
O humorista Moacyr Franco - Mastrangelo Reino/Folhapress
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Um dos assuntos de maior repercussão na internet brasileira nesta sexta (2) foi a atitude de um funcionário demitido pela Record. Revoltado com a súbita perda do emprego, o rapaz apagou o "Programa da Sabrina" previsto para ir ao ar neste sábado (3), que já estava editado e sonorizado. O trabalho teve que recomeçar da estaca zero, a partir do material bruto gravado.

Se a moda pega, nossos canais abertos correm o risco de sair do ar. Porque todas estão enxugando radicalmente suas folhas de pagamento, não só a Record.

O SBT demitiu nomes famosos como Moacyr Franco, além de centenas de profissionais anônimos que trabalhavam atrás das câmeras. Na Band, nem o todo-poderoso vice-presidente Diego Guebel escapou. Quase que diariamente, surgem notícias de mais cortes na emissora.

Até a Globo vem "racionalizando" seus quadros já há algum tempo. Atores que tinham contratos de longo prazo não os estão tendo renovados. Diretores, roteiristas e editores com anos de casa vêm sendo discretamente dispensados. A ordem agora é contratar apenas por obra certa - como, aliás, se faz em todo o resto do mundo.

Então há uma crise generalizada na TV aberta brasileira? Não é tão simples responder a essa questão. As audiências não despencaram. O horário nobre da Globo, inclusive, vem mostrando números pujantes, como há tempos não fazia.

Mas há alguns sinais intrigantes. As cotas de patrocínio do "​BBB", por exemplo, não foram reajustadas este ano, algo que jamais ocorreu antes. Só que não dava mais para cobrar mais do anunciante por um programa que, a cada temporada, entrega menos audiência que na anterior.

A estratégia comercial deu certo, e as cotas foram todas vendidas. De mais a mais, o "BBB" é um produto relativamente barato para a Globo, com custos que não chegam aos pés da mais simplesinha das novelas.

Só que os tempos estão mudando. Os patrocinadores vêm alocando suas verbas em outras mídias, ou adotando estratégias diferentes para atingir o consumidor. E o público vem se fragmentando cada vez mais, entre canais abertos ou fechados, plataformas de streaming e redes sociais.

Na TV paga, a crise é mais visível. O número de assinantes caiu cerca de 5% em 2017 (para a operadora Claro TV, a queda foi de 25%). Não duvido nada que os preços bem mais em conta das plataformas de streaming venham incentivando essa debandada.

O fato é que todo o negócio da televisão está se transformando, e no mundo inteiro. Antes de mais nada, esse negócio precisa definir qual é o seu produto: o conteúdo, que ele vende à audiência, ou a própria audiência, que ele vende aos anunciantes?

Enquanto isso, mais e mais espectadores buscam novas maneiras de consumir seus programas favoritos. As mudanças estão em andamento, e ninguém sabe como irão acabar.

Tony Goes

Tony Goes (1960-2024) nasceu no Rio de Janeiro, mas viveu em São Paulo desde pequeno. Escreveu para várias séries de humor e programas de variedades, além de alguns longas-metragens. Ele também atualizava diariamente o blog que levava seu nome: tonygoes.com.br.

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